Como falar sobre dinheiro com crianças e jovens aos 5, 10 e 15 anos?
Adequar a mensagem e comunicação à idade das crianças é essencial
O Dia das Crianças está chegando, e além de presentear os pequenos, que tal aproveitar a data para ensinar sobre algo que eles vão levar para a vida inteira: educação financeira? O assunto pode ser difícil e muitas vezes é visto como tabu, mas mesmo quando não se conversa especificamente sobre o dinheiro, as crianças observam os comportamentos e comentários que são feitos perto delas.
“A criança, mesmo antes de alfabetizada, absorve o comportamento dos pais, ou das pessoas mais próximas afetivamente, como avós e tios. Se essa pessoa tem uma relação ruim com o dinheiro, a criança vai absorvendo essas impressões e pode lá na frente reproduzir o comportamento, porque não sabe fazer diferente”, diz a planejadora financeira Paula Sauer.
Larissa Frias, do C6, reforça: “quando a gente fala em organização financeira, é um hábito. E quanto mais cedo a gente adquire esse hábito, melhor. Claro que respeitando as faixas de aprendizado”, diz.
3 opções de investimento para presentear as crianças
Crianças de 5 anos: foco no visual
Para Larissa Frias, nessa faixa de até cinco anos, o principal é introduzir para a criança o conceito do que é dinheiro de forma lúdica e a importância dele no dia a dia. “A meu ver, os pais podem começar a colocar o tema em conceitos do dia a dia, mostrando o que pode ser comprado com dinheiro”, diz.
Enquanto a criança ainda não foi alfabetizada, Paula Sauer também sugere focar em questões mais visuais e familiarizar a criança com os conceitos de números e quantidades. “Vá com a criança no mercado e peça para ela pegar 5 laranjas, e vá contando com ela. Ou vá para a cozinha e peça a ajuda da criança para separar as quantidades de açúcar para um bolo”, sugere ela. Essas atividades ajudam a desenvolver a noção de quantidade e a criança começa a entender que alguns itens têm mais valor do que outros.
Além disso, já dá para começar a juntar dinheiro com a criança em cofrinhos – de preferência, transparentes, diz Paula. “Se a criança é muito novinha, talvez só o peso do cofrinho seja muito abstrato, mas se o cofrinho for incolor, ela vê a quantidade de moedas crescer”, afirma.
Paula sugere ainda separar o dinheiro em diferentes cofrinhos, a depender do objetivo: um para comprar um presente de Natal, outro para doar para uma instituição, e outro para comprar um presente para um amigo, por exemplo. Isso ajuda, primeiro, a fazer a criança entender a importância do planejamento. Mas permita também que a criança faça escolhas com o dinheiro: se faltarem R$ 10 para comprar o presente do amigo, ela pode tirar R$ 10 do cofrinho destinado ao presente para ela mesma. “Ela começa a entender que, por mais que tenha desejos ilimitados, ela tem recursos escassos e vai ter que fazer escolhas.”
Aos 10 anos: semanada e tarefas remuneradas
Com essa idade, a criança já lida melhor com números, sabe somar e subtrair. “Os pais já conseguem introduzir temas como desperdício, preço, gastos, uma preparação para a consumo consciente”, diz Larissa. “Já dá para começar a mostrar a diferença entre necessidade e desejo, a ideia de prioridades”.
Além disso, já consegue entender melhor o conceito do tempo, diz Paula. Mas ela alerta que ainda é difícil para a criança planejar algo de mais longo prazo. “Para eles, o futuro são as férias, o final de semana, os planos mais tangíveis. Ao invés de falar em meses, prazos, datas, diga que algo é para o Natal, é para o Dia das Crianças, para as férias, ou para o dia que ela for para a casa da vovó. A gente tem que trazer uma relação mais tangível”, diz Paula.
Justamente por essa maior dificuldade de compreender períodos mais longos de tempo, a planejadora sugere uma “semanada”, em vez de mesada. “Se você der um dinheiro para quatro semanas, a criança vai se sentir rica na primeira semana e não vai ter a dimensão da quantidade de tempo e dinheiro que ela tem que se organizar”, diz Paula.
Larissa comenta também que quando a criança tem uma mesada ou semanada, começa a perceber que o dinheiro não é infinito e que é preciso fazer escolhas. Ela sugere, entretanto, que os pais tenham um acompanhamento dos gastos, até para ajudar a criança a se organizar. “O menor passa a gerenciar o próprio dinheiro, começa a desenvolver cálculos mais complexos, e a lidar com as consequências das próprias escolhas. Vão ver que ao poupar no curto prazo, vão ter méritos no longo prazo”.
Outra dica de Paula é recompensar a criança por algumas tarefas, como lavar o carro. “Não é recompensar por arrumar a cama ou lavar o prato em que comeu, isso é obrigação. Mas é recompensar por algo a mais. A criança pode até ficar cansada de fazer essa tarefa extra, mas ela também entenderá que é uma escolha e que seu esforço será recompensado. Assim ela também começa a associar o dinheiro ao trabalho e à disciplina.”
Paula sugere também deixar as crianças dessa idade organizarem as contas que chegam pelo correio. Assim, começam a compreender que coisas como luz, gás, água, telefone e cartão de crédito custam.
Jovens de 15 anos: o valor do dinheiro e os juros
Na adolescência, há jovens que já trabalham e ajudam os pais com as contas da casa e aqueles que ainda são sustentados pela família. Mas, via de regra, as pessoas com essa idade já têm uma clareza maior do valor das coisas, de produtos e marcas que são mais caros ou mais baratos, diz Paula.
Larissa conta também que é um momento ideal para começar a instruir o jovem a como traçar metas, poupar e a pensar no futuro. “Nessa etapa é legal o adolescente reconhecer através dos pais a importância do trabalho e do esforço financeiro. Entender que se poupar hoje, vai ter uma recompensa maior no longo prazo. E nessa época, o adolescente já tem desejos mais caros, como uma viagem, celulares, videogames. Muitos deles vão ter valor superior ao da mesada, então é crucial já ter a ideia de poupança”.
Nessa idade também já faz sentido explicar para o jovem sobre os juros, diz Paula. “Você começa explicando que, ao deixar seu dinheiro no banco, o dinheiro não fica parado em uma caixinha, mas será emprestado para outra pessoa, e essa outra pessoa vai pagar um aluguel para usar o seu dinheiro”, diz. “E quanto mais tempo deixar esse dinheiro emprestado, maior vai ser a rentabilidade. E entra a questão da disciplina.”
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