Organizar as contas

Crédito do Trabalhador: como avaliar se o novo consignado privado vale a pena? 

Promessa do governo é de que os juros aplicados em cima do empréstimo consignado sejam menores

Na última sexta-feira, 21 março, foi lançado o novo modelo de empréstimo consignado, batizado pelo governo federal de ‘Crédito do Trabalhador’, que é voltado para trabalhadores CLTs e MEIs. Com isso, discussões sobre os juros aplicados e comparações com outros tipos de empréstimos já tomaram as redes sociais e levantam a importante pergunta: vale a pena? 

Como funciona o consignado privado 

O empréstimo consignado já é uma modalidade existente e bastante comum entre servidores públicos, aposentados pelo INSS e trabalhadores celetistas de grandes empresas, que fazem convênios com financeiras e bancos para disponibilizar esse tipo de crédito aos seus funcionários.  

“Este tipo de empréstimo tem juros mais baixos do que o empréstimo pessoal, porque o desconto do valor das parcelas é feito diretamente na folha de pagamento do tomador do crédito, o que reduz de forma significativo o risco de crédito e inadimplência para as instituições financeiras”, diz Taís Magalhães, planejadora financeira da SuperRico

Agora, com o novo programa, a ideia é facilitar o mecanismo de consignado para trabalhadores com CLT de empresas pequenas e médias, assim como para trabalhadores rurais, empregadas domésticas e assalariados de MEI.  

De acordo com o governo, essa medida pode beneficiar 47 milhões de trabalhadores e, segundo a FEBRABAN, pode triplicar a oferta de consignado no Brasil para 120 bilhões de reais. 

A contratação será realizada por meio do aplicativo Carteira de Trabalho Digital (CTPS Digital), onde o trabalhador poderá autorizar o acesso de bancos aos seus dados, receber propostas em até 24 horas e finalizar a contratação no canal escolhido. As parcelas do empréstimo serão descontadas automaticamente na folha de pagamento, com uma margem consignável de até 35% do salário. 

E em caso de demissão? Como garantia do empréstimo, será considerado até 10% do valor em FGTS ou 100% da multa rescisória no caso de demissão sem justa causa. 

Para quem já tem empréstimo consignado, será possível também fazer a portabilidade para a nova modalidade. No caso de mudança de emprego, o novo empregador é que fica responsável pelo repasse das parcelas à Caixa. 

O novo empréstimo consignado vale a pena? 

Uma análise minuciosa das próprias finanças é o primeiro passo para avaliar a necessidade do novo consignado, de acordo com Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.  

“Ao considerar a contratação do ‘Crédito do Trabalhador’, é fundamental que o trabalhador analise sua capacidade de pagamento, garantindo que o comprometimento de até 35% do salário não prejudique seu orçamento mensal. Analise inicialmente as despesas fixas e mensais e avalie se a parcela não comprometerá parte da renda que seria destinada a outros gastos, como alimentação, transporte, saúde, etc”, aponta ele. 

A planejadora financeira da SuperRico ainda ressalta que essa análise deve ser feita com cautela, já que apesar do limite de 35% do salário para as parcelas, esse percentual é bastante alto para ser comprometido com um empréstimo.  

Outro ponto essencial a levar em conta, segundo os especialistas, é se a taxa de juros aplicada no empréstimo realmente será menor que outras opções do mercado, como prometido no lançamento do programa. 

“Deve-se comparar as taxas de juros oferecidas pelas diferentes instituições financeiras, buscando as condições mais vantajosas. Além disso, é importante verificar o prazo de pagamento e o valor total financiado, assegurando que as parcelas se encaixem no planejamento financeiro pessoal. Utilizar o aplicativo da CTPS Digital para receber e comparar propostas de múltiplos bancos pode auxiliar na tomada de decisão mais informada”, alerta Piellusch. 

Taís Magalhães destaca que, diferentemente de outros empréstimos que por vezes é possível atrasar o pagamento (claro, com pagamento de juros e multa), no consignado não é possível deixar de fazê-lo. Assim, o salário a receber será mais baixo e não se pode desconsiderar isso no mês a mês. 

A quem é indicado – ou não 

Dadas as características do tipo de crédito, a planejadora financeira CFP pela Planejar, Leticia Camargo, afirma que o consignado privado funciona – quando bem avaliado – para quem já tem dívidas com taxas mais altas. Por exemplo, caso haja parcelamento da fatura do cartão de crédito, se está devendo no cheque especial ou pegando empréstimo pelo crédito direto ao consumidor (CDC), vale a pena renegociar para o novo consignado CLT.  

“Para atender imprevistos nos casos em que a pessoa não tenha uma reserva de emergências, esse empréstimo consignado também será mais recomendado do que outras linhas de crédito, se os juros forem menores”, segundo ela. 

Ele não é recomendado, segundo Camargo, para quem ainda trabalha, mas já se aposentou e tem limite para o consignado pela aposentadoria. “Melhor pegar o empréstimo consignado pela aposentadoria nesse caso, já que os juros são mais baixos do que os do consignado CLT”. 

Além disso, “não é recomendado para quem não se planeja e vai pegar um empréstimo por viver em um padrão de vida acima do que poderia com o seu salário. Mas isso vale para qualquer tipo de empréstimo, não só para essa modalidade. O melhor seria ajustar os seus gastos à sua realidade para não precisar se endividar”, afirma ela. 

Vantagens e riscos 

Benefícios: 

  • Taxas de juros mais baixas: devido ao desconto direto na folha de pagamento, as instituições financeiras podem oferecer taxas de juros menores em comparação a outros tipos de empréstimos pessoais. 
  • Facilidade de contratação: o processo é menos burocrático, podendo ser realizado de forma digital através do aplicativo da CTPS Digital, sem a necessidade de convênios entre empresas e bancos. 
  • Parcelamento estendido: algumas instituições permitem o parcelamento do crédito em até 84 meses, proporcionando maior flexibilidade no pagamento. 

Riscos: 

  • Comprometimento da renda: o desconto automático das parcelas no salário reduz a renda líquida mensal disponível, exigindo um planejamento financeiro cuidadoso para evitar dificuldades. 
  • Endividamento excessivo: sem um controle adequado, o trabalhador pode contrair dívidas além de sua capacidade de pagamento, levando a problemas financeiros. 
  • Consequências em caso de demissão: se o trabalhador for demitido, as parcelas restantes poderão ser descontadas das verbas rescisórias, conforme o limite legal, e eventuais garantias, como parte do FGTS, poderão ser acionadas para quitação do saldo devedor. 

“É crucial que o trabalhador considere cuidadosamente esses fatores antes de contratar o ‘Crédito do Trabalhador’, garantindo que a decisão seja alinhada às suas necessidades e capacidade financeira”, completa o professor da FIA Business School. 

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.