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Memes: como a linguagem descontraída ajuda a ampliar acesso à educação financeira

Influenciadora Nath Finanças e professora de marketing Patrícia Artoni analisam nova estratégia de comunicação nas redes sociais

De um golfinho com um arco-íris ao som de “Symphony” para informar que “aposta não é investimento” até a Peppa Pig desligando uma ligação suspeita do banco. Essa tem sido a maneira como o Banco Central passou a abordar diferentes assuntos relativos à educação financeira por meio das redes sociais. Especialistas apontam que essa é uma estratégia interessante para atingir o público jovem, mas alertam sobre os cuidados para manter o equilíbrio entre ser acessível e manter a precisão nas informações.

Ampliar o acesso à educação financeira é um dos principais desafios em um País com mais de 72 milhões de pessoas em situação de inadimplência, segundo dados da Serasa. Por isso, navegar na onda das trends e de conteúdos que viralizam nas redes sociais tem sido a tônica da comunicação de diversas instituições financeiras.

BC usa memes para se comunicar sobre investimentos e educação financeira. Foto: Reprodução/Instagram/BC
Imagem foi compartilhada nas redes sociais do BC para alertar população sobre plataformas de apostas. Reprodução/Instagram/BC

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Os brasileiros na faixa etária entre 41 e 60 anos representam a maior parte da população com nome restrito, uma parcela de 35,1%, de acordo com a Serasa. Em seguida vêm os de 26 a 40 anos, com 34%, acima de 60 anos, com 19%, e os jovens entre 18 e 25 anos, que são 11,8% dos inadimplentes.

Ao Bora Investir, a influenciadora Nath Finanças analisa que a comunicação assertiva deve usar o meme como um meio, e não um fim em si. “Usar uma linguagem acessível para falar de temas que grande parte da população desconhece é um avanço com toda a certeza. O meme deve fazer parte da comunicação, mas a comunicação é maior, mais ampla. O meme vai conversar com o conteúdo sério para que tudo se encaixe”, afirma.

Como ampliar o acesso à educação financeira?

A professora de marketing da FIA Business School Patrícia Artoni faz algumas ponderações sobre a estratégia de entrar nas trends para levar educação financeira. “Essa abordagem não está isenta de críticas. Simplificar demais pode levar a mal-entendidos. No entanto, os benefícios podem superar os riscos, especialmente quando acompanhados de links para fontes mais detalhadas e confiáveis. A chave está em encontrar um equilíbrio entre ser acessível e manter a precisão das informações”, afirma.

Já Nath observa que a estratégia de comunicação precisa ser mais abrangente, para ir além de atingir tão somente os jovens. “Toda comunicação acessível e com a linguagem da geração atual atinge esse público de maneira relevante e eficaz. Mas é importante ressaltar que não é só com os jovens que eles precisam se comunicar. É extremamente indispensável falar com as gerações anteriores também, precisa ser abrangente”.

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Quais são os impactos dessa comunicação?

Um dos efeitos diretos deste tipo de comunicação é o engajamento. “Isso não apenas amplia o alcance das mensagens, mas também melhora a percepção do público em relação à instituição que se envolve com temas que estejam alinhados com as necessidades e desafios do público”, explica Artoni. “A comunicação mais informal e visualmente atrativa tende a ser mais eficaz em captar a atenção e facilitar o entendimento de informações complexas”.

Por outro lado, um dos impactos negativos pode ser a exclusão de certos públicos em decorrência do tipo de linguagem utilizado na postagem. “No meu ponto de vista, a comunicação erra quando exclui as gerações passadas”, destaca Nath. “É um avanço o que tem sido realizado, mas é essencial olhar com atenção para os mais velhos. Encontrar uma forma de falar também com esse público é fundamental”.

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Como os memes ajudam na comunicação?

Para a professora, o uso dos memes se tornou uma ferramenta poderosa para democratizar a educação financeira. “Memes são, por natureza, acessíveis e facilmente compartilháveis, o que facilita a disseminação de informações. Quando o Banco Central utiliza um meme para explicar algo, ele está quebrando barreiras de entendimento e tornando a educação financeira mais inclusiva”, observa.

Nos próximos anos, Nath espera um avanço na personalização dessa estratégia. “Acredito que num futuro próximo a comunicação seja cada vez mais acessível, rápida (antenada com a realidade da época) e feita de forma personalizada para o público-alvo”.

A professora ressalta que os termos técnicos dos mercados financeiro e de capitais podem não fazer parte do vocabulário da população, o que os memes podem simplificar ao traduzir o sentido desses termos. “Esse tipo de comunicação atinge um público que pode não se sentir confortável ou familiarizado com jargões técnicos. Este é um exemplo claro de como a inovação na comunicação pode gerar impacto positivo na sociedade”, afirma Artoni.

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