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Empréstimos ficarão mais baratos com a queda da Selic?

O efeito de uma queda nos juros costuma ser instantâneo quando se trata de empréstimos. Contudo, risco de crédito alto pode atrapalhar

Após um longo período de alta e meses estável, a Selic registrou no início do mês a sua primeira queda. Quem está pensando em tomar crédito, seja o consignado, crédito pessoal ou até um CDC oferecido por banco, se pergunta: os empréstimos ficarão mais baratos?

O efeito de uma queda nos juros é praticamente instantâneo quando se trata de empréstimos, diz Miguel Oliveira, diretor-executivo de pesquisa da Anefac. “A cada 0,5 ponto a menos da Selic as taxas mensais dos empréstimos tendem a cair 0,04 ponto. Ou seja, um empréstimo com taxa de 8% ao mês cairá para 7,96%, e assim por diante.

Segundo aponta a pesquisa mensal da Associação dos Executivos de Finanças (Anefac), a queda nos juros dos empréstimos aconteceu em praticamente todas as modalidades de crédito. Foi a primeira baixa observada nos últimos tempos, diz Oliveira.

Veja também: + Por que empréstimos não são a melhor forma de sair da inadimplência

Veja abaixo como variaram as taxas em julho, quando já havia um consenso de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziria a taxa básica de juros, em relação ao mês anterior:

ModalidadeJunhoJulho
Juros do comércio5,61%5,56%
Cartão de crédito14,86%14,83%
Cheque especial8,18%8,13%
Crédito Direto ao Consumidor (CDC)2,15%2,14%
Empréstimo pessoal (bancos)4,13%4,13%
Empréstimo pessoal (financeiras)7,31%7,25%
Taxa média7,04%7,01%
Fonte: Anefac

Com exceção do crédito pessoal oferecido por bancos, em todas a taxa média cobrada pelos empréstimos caiu. “Como a linha de empréstimo pessoal em bancos é composta por 70% de crédito consignado, que é a linha mais barata do mercado, não há muito espaço para a queda dos juros”.

Segundo o executivo, quanto maior os juros cobrados na linha, maior e mais rápida será a queda em um ciclo de cortes da Selic. É o caso da taxa do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito.

Mas Oliveira ressalta que as taxas cobradas por bancos e financeiras no crédito não dependem apenas do custo do dinheiro, que toma como referência a Selic. As taxas se baseiam ainda em mais quatro pontos: impostos e volume de depósitos compulsórios, sujeitos às mudanças anunciadas pelos governos; despesas administrativas, custos de processos e funcionários; margem de lucro e inadimplência. Caso o risco de calote dos consumidores esteja alto, o banco pode optar por não reduzir suas taxas.

+ Cheque especial: entenda os riscos da linha de crédito

“Estamos em um ambiente desafiador para o crédito. O índice de desemprego continua elevado, enquanto a inflação segue acima da meta do Banco Central. Além disso, o endividamento da população está alto, bem como a inadimplência. Esse cenário colabora para que haja restrição na concessão de empréstimos: apenas consumidores com score alto podem ter acesso“.

É hora de tomar um empréstimo?

Analistas do mercado preveem um ciclo longo de queda dos juros, que pode durar até 2025. Diante dessa expectativa, é provável que os juros dos empréstimos caiam ainda mais. Caso contrate o empréstimo hoje, o consumidor pagará a taxa de hoje até o final do contrato, quando a Selic pode estar bem menor. A recomendação, portanto, é postergar a decisão ao máximo, caso possível, diz Oliveira.

+ Teto de juros do consignado do INSS cairá para 1,91% ao mês

“Se não for possível esperar, a dica é tentar reduzir ao máximo o tempo do empréstimo, de forma a diminuir o pagamento de juros altos”. É possível contratar um empréstimo e, diante de um ciclo de quedas, realizar a portabilidade posteriormente para outra instituição financeira. Oliveira, contudo, lembra que é necessário que haja interesse dos bancos na dívida. “As instituições financeiras tendem a ter apetite para crédito consignado e financiamento de imóveis, por exemplo. Já quando se trata de crédito pessoal o apetite é menor”.

Segundo Oliveira, da Anefac, a perspectiva é de queda dos juros. Porém, caso o cenário de risco para crédito continue, apenas consumidores que representam menor risco para os bancos terão acesso a essas taxas menores.

Quem já diminuiu taxas

Em ciclos de baixa de juros, os bancos públicos costumam ser os primeiros a anunciar taxas menores, pois o governo pressiona para que as taxas sejam menores, de forma que possam induzir outros bancos a fazerem a mesma coisa. Foi o caso do BB e da Caixa, que imediatamente após a reunião do Copom anunciaram queda nos juros de empréstimos.

O Banco do Brasil anunciou a redução nas suas taxas de juros, que pode chegar até 10 bps ao mês, conforme as características da linha. Os juros estão mais atrativos nas linhas de crédito consignado, automático, salário, benefício, renovação e 13º Salário, com destaque para redução no Consignado INSS, de 1,80% ao mês para 1,76% ao mês, na faixa mínima, e de 1,95% ao mês para 1,89% ao mês no patamar máximo.

Já a Caixa anunciou a redução nas taxas do crédito consignado para beneficiários e pensionistas do INSS, que passa de 1,74% para a partir de 1,70% ao mês.

O Itaú Unibanco informa que, após o corte da Selic, repassou a redução para sua linha de crédito pessoal. A mudança é válida para a taxa máxima de empréstimo. O banco ressalta que as taxas variam de acordo com o perfil do cliente e de seu relacionamento com o banco.

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