Renda fixa

Com Selic em alta, renda fixa atrai investidores – mas exige cuidado

Apesar de a renda fixa ser conhecida pela maior previsibilidade e segurança, há riscos envolvidos nos títulos de crédito, que nem sempre são avaliados pelos investidores

Com a Selic em patamares elevados e subindo, a renda fixa tem atraído a atenção (e o dinheiro dos investidores) desde o ano passado. De acordo com dados da Anbima (Associação Brasileira de das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), os fundos dessa classe registraram captação líquida de R$ 243,0 bilhões em 2024 – o melhor desempenho da indústria de fundos no ano passado. Segundo o relatório Focus, do Banco Central, o mercado projeta que a taxa básica de juros irá permanecer acima de dois dígitos pelos próximos anos. Assim, a perspectiva é que a renda fixa continue ocupando uma boa fatia da carteira dos investidores brasileiros. Mas se por um lado os juros elevados abrem oportunidade de ganhos para os investidores, por outro, é preciso calcular os riscos assumidos nessa classe de ativos.

“É o momento da renda fixa, não me lembro de ver um juro real desse tamanho, e tudo indica que a gente vai chegar em um juro real perto de 10% ao ano ou mais, porque a gente não sabe até onde vai a Selic”, diz Julio Ortiz, sócio-fundador da CX3. O juro real, vale lembrar, é a diferença entre a Selic e a inflação média – ou seja, aquilo que o dinheiro de fato está se valorizando, além da manutenção do poder de compra.

Apesar de a renda fixa ser conhecida pela maior previsibilidade e segurança, há riscos envolvidos nos títulos de crédito, que nem sempre são avaliados pelos investidores.

“Se você está ganhando muito na renda fixa, é porque tem alguém pagando muito”, lembra Ortiz. E aí que surgem os riscos. Afinal, é preciso avaliar se o emissor do título tem a capacidade de pagar o investidor no prazo e nas condições acordadas.

Segundo ele, não é o momento de assumir mais riscos do que o necessário na renda fixa em busca de ganhar mais do que oferecem os títulos mais seguros. Há alguns motivos para isso. Primeiro, porque a instituição financeira ou empresa que emite dívidas oferecendo um valor maior do que os títulos públicos está assumindo o compromisso de pagar no futuro uma dívida cara – e é preciso avaliar se terá de fato condições de honrar esse compromisso.

Em segundo lugar, porque os títulos públicos, disponíveis no Tesouro Direto e considerados os mais seguros da economia, e os papéis emitidos pelas grandes instituições financeiras já estão oferecendo bons rendimentos, diz Ortiz. “Você não precisa hoje sair do bancão, do risco de crédito mais conservador, para ganhar dinheiro”, lembra ele. Vale lembrar que, no médio e longo prazo, os títulos que pagam um rendimento igual à variação do IPCA + 6% ao ano tendem a render mais do que as demais classes. E hoje, o Tesouro IPCA + oferecem rentabilidades superiores a 7% ao ano.

Por fim, porque os chamados spreads de crédito estão pequenos nesse momento. Isso quer dizer que a diferença entre os juros oferecidos pelos títulos mais seguros (como de grandes bancos ou do governo) e os oferecidos por emissores mais arriscados estão baixos. Ou seja, você assume um risco maior, em proporção a um potencial de ganho mais elevado, que não está valendo a pena nesse momento, avalia Ortiz.

“O fluxo de capital para os títulos de renda fixa foi tão grande que acaba causando algumas distorções. Tem empresas que têm um risco mais elevado, mas gente olha o spread crédito, ele não está no valor que a gente acha justo”, explica Felipe Higashino, da G5 Partners. “Algumas empresas deveriam estar remunerando mais por aquele risco. O crédito exige muito cuidado, uma análise mais minuciosa”.

Além de olhar o risco da empresa que emite o título, a estrutura de dívida tem diversas características, como garantias, cláusulas de pré-pagamento, que precisam ser analisadas. “O fato de você ter uma taxa contratada de largada pode fazer parecer que crédito é uma coisa fácil, mas que exige um trabalho bem grande de análise e monitoramento”, diz Fernando Donnay, da G5 Partners.

Oportunidade: menor liquidez

Para quem busca um retorno maior sem aumentar o risco de crédito da carteira, uma opção é buscar títulos menos líquidos. “Você encontra títulos como os CRAs [certificados de recebíveis agrícolas] de grandes bancos com iliquidez de dez meses, por exemplo, e a partir daí tem liquidez diária. Nesses casos, você consegue uma taxa mais alta”, comenta Ortiz.

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