Renda fixa

Renda fixa no exterior: vale a pena investir em bonds de empresas brasileiras?

Chance de dolarizar o patrimônio sem sair da renda fixa é um dos atrativos dos bonds; especialistas explicam diferenças em relação às debêntures e cuidados na hora de investir

O investidor brasileiro que quer continuar na renda fixa, mas também quer dolarizar parte de sua carteira, pode ver nesse momento boas oportunidades. Embraer, Petrobras, Suzano e Rede D’Or são apenas algumas das grandes empresas brasileiras que emitiram bonds no exterior recentemente.

Os bonds são títulos de dívida corporativa, emitidos por empresas no mercado externo – é o equivalente às debêntures, aqui no Brasil.

A queda das taxas de juros nos Estados Unidos pode criar uma janela de oportunidade para as companhias brasileiras, que buscam fontes de financiamento mais barato do que no Brasil. Isso quer dizer que a oferta desses papéis aos investidores pode aumentar.

O Bora Investir conversou com especialistas para explicar o que são os bonds, quais as diferenças entre bonds e debêntures, e quais os cuidados tomar antes de investir.

Por que empresas brasileiras optam por emitir bonds no exterior?

Cada vez mais, empresas brasileiras recorrem ao mercado internacional de dívida em busca de condições mais vantajosas. Para Claudio Ianface, economista e sócio da The Hill Capital, a principal razão é o acesso a uma gama maior e mais diversificada de investidores e reduzir o custo da captação. “É uma forma de diversificar fontes de financiamento e fugir da dependência exclusiva do crédito no Brasil, que costuma ser mais caro e restrito”, explica. Emitir em dólar também pode representar uma proteção natural para companhias exportadoras, que já têm receitas nessa moeda.

Na visão de Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, duas variáveis pesam mais na decisão das empresas: liquidez e custo. “O mercado internacional tem liquidez maior, permite emissões em volumes mais altos e de forma mais célere. Muitas vezes, o custo também é menor. No Brasil, com Selic a 15%, o investidor local tende a exigir taxas muito mais altas, o que encarece a emissão”, diz. Ele lembra ainda que a expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve também pode estimular novas captações lá fora.

O planejador financeiro Douglas Dias Rodrigues acrescenta que há um componente estratégico para as emissões no exterior. “Essa prática amplia a visibilidade internacional da companhia, fortalece sua reputação e credibilidade em um mercado cada vez mais globalizado”, diz.

Bonds x debêntures: qual a diferença para o investidor?

Na prática, tanto bonds quanto debêntures são títulos de dívida corporativa, mas a moeda faz toda a diferença. A debênture, emitida no Brasil e em reais, é mais acessível ao investidor brasileiro e pode trazer vantagens tributárias, como isenção em debêntures incentivadas. Já o bond é emitido em dólar no mercado internacional, o que significa maior liquidez e a possibilidade de diversificação cambial.

“Debênture pode ter benefícios tributários, mas está exposta ao risco local. O bond dá ao investidor a chance de dolarizar seu patrimônio, se proteger da desvalorização do real e ainda participar de um mercado mais líquido e global”, afirma Ianface.

Guilherme Almeida ainda pontua uma diferença que demanda a atenção dos investidores acostumados às debêntures: enquanto no mercado brasileiro os títulos mais comuns são pós-fixados ou indexados à inflação, no exterior, a maior parte dos bonds tem rentabilidade prefixada.

Além disso, os bonds costumam ter um pagamento periódico de juros, chamados cupons.

Cuidados ao investir em bonds

O investidor precisa estar atento a vários aspectos antes de aplicar. Ianface destaca a importância de entender que, ao comprar um bond, você estará exposto à variação cambial, que pode trazer volatilidade. “Esse é justamente o grande atrativo, pois funciona como proteção natural contra a instabilidade do real”, explica.

“A oscilação da moeda estrangeira impacta diretamente o retorno em reais”, completa Rodrigues.

Além disso, Guilherme Almeida lembra que a análise de títulos de dívida (sejam bonds ou debêntures) deve ser criteriosa, tanto em relação à empresa emissora quanto à emissão em si. Do lado da companhia, o investidor deve olhar indicadores de endividamento – como a relação dívida líquida/EBITDA – e avaliar se o negócio gera caixa suficiente para honrar o pagamento dos cupons e a amortização da dívida. “Não necessariamente ter dívida é ruim, mas é fundamental avaliar se o nível de alavancagem está dentro do razoável para o setor em que a empresa atua”, explica. Outro ponto essencial é verificar a lucratividade e a estabilidade das margens.

Risco de crédito em renda fixa: o que você precisa saber antes de investir

Empresas que apresentam resultados consistentes e governança corporativa sólida também oferecem maior segurança. Vale checar a classificação de risco das agências de rating, que reflete tanto a capacidade de pagamento quanto a qualidade da gestão.

E o investidor precisa examinar a estrutura da emissão. Cada bond tem suas particularidades: prazos de vencimento, taxas de juros, cupons periódicos e cláusulas conhecidas como covenants – compromissos assumidos pela empresa para limitar o endividamento ou preservar indicadores financeiros, por exemplo. “É importante ler o prospecto da emissão, entender as garantias envolvidas e calcular qual será o retorno real até o vencimento. Não é uma análise trivial, mas é indispensável para reduzir riscos”, afirma Almeida.

Outro ponto relevante a se avaliar é a liquidez, diz Rodrigues. “É preciso verificar se o título tem negociação ativa no mercado secundário internacional, principalmente se houver intenção de vender antes do vencimento”, afirma.

Como investir em bonds

O processo é feito por meio de corretoras e bancos que oferecem acesso ao mercado internacional. Ianface explica que basta abrir conta em uma instituição que ofereça os bonds, transferir os recursos e escolher os títulos disponíveis.

Segundo Almeida, não são todas as corretoras que oferecem o serviço, e há valores mínimos de aplicação. “Na prática, funciona de forma semelhante à aquisição de um título de renda fixa local, mas exige que o investidor esteja preparado para lidar com as condições do mercado externo.”

Bonds como forma de dolarizar o patrimônio

A dolarização é apontada pelos especialistas como uma das maiores vantagens do investimento em bonds. Ianface avalia que manter parte do patrimônio em moeda forte é uma estratégia de proteção contra os ciclos de desvalorização do real. “Não se trata de buscar ganhos extraordinários, mas de garantir que o poder de compra não será corroído ao longo do tempo”, diz.

Almeida acrescenta que mesmo o consumo doméstico no Brasil é altamente dolarizado. “Cerca de 40% do IPCA sofre influência de bens importados ou de matérias-primas cotadas em dólar. Ter ativos nessa moeda ajuda a reduzir o risco cambial dentro da própria economia brasileira.”

“Investir em bonds pode ser uma estratégia eficaz para dolarizar o patrimônio, desde que esteja alinhada ao perfil do investidor e seus objetivos de curto, médio e longo prazo”, diz Rodrigues. “Por meio desses títulos, o investidor se expõe diretamente a uma moeda forte, o que contribui para a proteção do capital contra a desvalorização do real e reduz a dependência da economia brasileira. Além disso, os bonds oferecem menor volatilidade em comparação a ativos de risco e proporcionam geração de renda passiva em moeda estrangeira por meio dos cupons, que podem ser pagos de forma semestral ou anual. Dessa forma, representam uma alternativa sólida para diversificação e preservação patrimonial.”

Bonds de empresas brasileiras ou estrangeiras?

A escolha depende do perfil e do objetivo do investidor. Para Ianface, companhias estrangeiras consolidadas podem oferecer mais segurança, enquanto empresas brasileiras costumam pagar taxas mais elevadas. “O ponto central é que em ambos os casos o investidor está dolarizando patrimônio – e esse já é o maior ganho”, conclui.

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