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Maior entrada de estrangeiros na bolsa desde 2023 explica recorde do Ibovespa B3, diz JPMorgan

Relatório indica que fluxo pode continuar, dependendo do resultado das negociações entre Estados Unidos e China

Uma entrada atípica de investimento estrangeiro na bolsa do Brasil está por trás do recorde do Ibovespa B3, mostrou um relatório do JPMorgan nesta terça-feira (20). Contando apenas dias regulares de negociação, entre 17 de abril e 15 de maio, a B3 registrou 18 dias consecutivos de entrada de recursos estrangeiros, num total de R$ 20,8 bilhões.

Com isso, o Ibovespa subiu 7,5% no período, atingindo nova máxima em reais. Nesta terça, o índice fechou aos 140 mil pontos pela primeira vez.

A última vez que esse tipo de fluxo teve uma sequência assim foi entre novembro e dezembro de 2023.

Na contagem do JPMorgan, desde o começo de 2020, tal sequência de ingressos ininterruptos de recursos aconteceu apenas seis vezes.

“Não estamos em uma fase normal”, afirmou no relatório a chefe de estratégia em ações para Brasil e América Latina do JP, Emy Shayo.

PeríodoDias seguidos de entradas líquidasVolume de entrada
(R$ bi)
Valorização do Ibovespa
Nov/20 a Jan/215566,922,3%
Dez/21 a Mar/225051,76%
Jul/22 a Ago/223121,915,9%
Out a Nov/222017,30,2%
Jan a Fev/232955,60,6%
Nov/23 a Jan/244447,215,1%
Abr a Mai/251820,87,5%

Fonte: Bloomberg Finance e JPMorgan

Parte desse movimento, é verdade, refletiu a volta de parte do dinheiro que tinha saído pouco antes. Nas duas semanas seguintes ao anúncio de uma campanha de aumento de tarifas comerciais, pelos Estados Unidos, cerca de R$ 10 bilhões saíram do Brasil.

No entanto, esses resgates foram não apenas revertidos, mas compensados com sobras. Com isso, no acumulado do ano, a entrada de recursos estrangeiros é de R$ 15 bilhões.

Segundo o relatório, o fluxo estrangeiro para o Brasil pode continuar, mas isso depende em parte da evolução da trégua comercial entre Estados Unidos e China.

Nas últimas semanas, enquanto o fluxo para Brasil e América Latina foi positivo, os fundos asiáticos registraram resgates muito fortes.

Nesse sentido, os mercados latino-americanos poderiam estar perto de passar por uma rodada de realização de lucros. “A menos que comecemos a ver uma rotação mais ampla dos EUA para os mercados emergentes, o que traria fluxos para a América Latina e também para a Ásia”, diz trecho do relatório.

O JPMorgan parece acreditar nessa última hipótese. Recentemente, o estrategista global do banco, Mislav Matejka, elevou a classificação das ações de mercados emergentes para overweight (acima da média) em sua alocação global de ativos.

Estrangeiros na contramão dos fundos locais

O rápido ingresso de recursos de não residentes nas últimas semanas veio na contramão dos fluxos de fundos de investimentos locais, que têm sido fortemente negativos. Segundo dados dados da Anbima, esses fundos resgataram quase R$ 9 bilhões da bolsa em abril, elevando as saídas para R$ 35 bilhões no acumulado do ano.

Com isso, a participação das ações dentro do patrimônio total dos fundos brasileiros ficou na casa dos 7,5%, o menor valor já registrado e muito distante da média histórica de 11,5%.

Nas contas do JPMorgan, só a volta do dinheiro dos fundos para a média histórica resultaria em US$ 47 bilhões em entradas para a bolsa brasileira.

Mas não são apenas os fundos que têm saído do mercado de ações. Os investidores de varejo também têm diminuído sua participação.

Uma volta mais assertiva das diferentes classes de investidores para o mercado de ações poderia levar à recuperação do valor de mercado da bolsa brasileira, que está significativamente abaixo da máxima histórica, em dólares.

Nesse sentido, para retomar o recorde, estabelecido em 2010 (US$ 1,5 trilhão), as ações precisariam em conjunto dobrar de preço em relação aos valores atuais.

Valor de mercado conjunto das empresas listadas na B3

Fonte: B3, com dados compilados pelo JPMorgan

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