Quais setores da bolsa brasileira podem ser beneficiados pela guerra comercial entre EUA e China?
Apesar de cenário difícil para ativos de risco, Brasil pode receber fluxo de capital estrangeiro saindo dos EUA em direção a emergentes
Os últimos dias foram marcados por uma escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Com anúncio de novas taxas e retaliações a cada dia, e a expectativa por algum tipo de acordo, os índices acionários em todo o mundo seguem voláteis. Se na quarta-feira (09/04) o Ibovespa B3 fechou em alta de 3%, na quinta-feira, chegou a cair mais de 2% durante o dia. Em meio ao sobe e desce, há investidores que tentam entender o que a tensão comercial trazida pelo presidente americano Donald Trump pode trazer de perspectivas de médio e longo prazo para os setores representados na B3.
“É preciso fazer o disclaimer que o cenário está bastante volátil, tudo pode mudar da água para o vinho rapidamente”, diz Rafael Furlan, sócio da Norte Asset. “Ao que parece, o Trump vai negociar as tarifas caso a caso com cada país. Ele colocou os 10% de base, tirando a China, mas parece que a ideia é negociar com todos os países para chegar no meio do caminho. Dito isso, a gente ainda acredita que o Brasil pode ser beneficiado”, complementa. Isso porque, desde o primeiro anúncio do tarifaço, o Brasil ficou com a menor alíquota imposta, de 10%.
Para Daniel Utsch, gestor de ações da Nero Capital, mais importante do que saber exatamente quais serão as alíquotas para cada país é ver o pano de fundo. “Na nossa leitura, é mais importante o significado desse movimento do que as tarifas em si. Não é porque vai deixar de ter tarifas por 90 dias que vai mudar tanto a atividade econômica global”, diz.
Cenário difícil para ativos de risco, mas comparativamente bom para o Brasil
Para Daniel, o momento deve trazer dificuldade para as bolsas ao redor do mundo. “Quando a gente fala desse nível de guerra comercial, começa a olhar para atividade global desabando, com um cenário de inflação e juros altos no mundo todo, que é difícil para o mercado”, complementa Utsch.
“Mas se o cenário não for de um desastre, pode incentivar um fluxo de capital saindo dos EUA e vindo para emergentes, o que é bom para a gente”, diz.
Furlan concorda. “A gente está um pouco mais otimista, na margem, com o Brasil. Essa briga dos EUA com a China tirou muito dinheiro de lá. E esses dois países concentram muito da alocação global. Qualquer porcentual pequeno que saia dos EUA e venha para mercados emergentes é muito relevante para o Brasil”, diz.
“Esse movimento acrescenta muita incerteza para os Estados Unidos, o que é uma toada bem diferente dos últimos anos, em que os EUA moviam o mundo, eram sempre o mercado mais beneficiado, em detrimento dos demais”.
Agronegócio como maior beneficiado da guerra comercial
“O agronegócio invariavelmente vai ter um benefício grande, por alguns pontos. A oferta de alimentos é limitada no mundo. Se pegar o gado como exemplo, você não consegue aumentar a oferta de uma hora para outra. Leva tempo construir confinamento, rebanho”, explica. Com a escalada das tensões entre EUA e China, o Brasil pode aumentar a diversificação de sua pauta exportadora, enviando produtos a países que antes compravam dos EUA, ou aumentando o volume exportado.
“Com a guerra comercial entre EUA e China, o Brasil vai ser o país que vai exportar para os dois, já que não é brigado com ninguém”, diz. “E o câmbio alto, entre R$ 5,80 e R$ 6, favorece os exportadores”.
Outro setor que pode abocanhar outros mercados é o de calçados, diz Furlan. “O Brasil tem indústria calçadista bastante competitiva. E se você olhar pela ótica de que as empresas americanas não vão mais fazer produtos no Vietnã e China, pode fazer sentido que essas fábricas venham para o Brasil”, diz ele. “Não estou dizendo que vai acontecer, mas é de se pensar”.
Atenção com commodities não agrícolas
Furlan, contudo, coloca um ponto de alerta sobre as empresas ligadas a commodities não agrícolas. “Com essa briga, é de se esperar que a possibilidade de recessão global seja maior. E as commodities naturalmente sofrem com isso. Estou falando em petróleo, minério de ferro”, diz. “Se tem uma possibilidade maior de recessão, o mercado já começa a precificar isso. Por isso vemos essas commodities num patamar inferior de preço”.
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