Câmbio

Por que dólar se valorizou mais de 16% em 2024 mesmo com queda dos juros nos EUA? 

Risco fiscal e saída de investimento em dólar no País são citados como pontos de atenção

Apesar de no mês de setembro o real ter sido a moeda que mais se valorizou perante ao dólar, com um avanço de mais de 3%, o saldo do ano não é tão bom. De 1º de janeiro de 2024 até o fechamento de 17 de outubro, a moeda norte-americana registra 16% de alta.

Neste período, a taxa Selic no Brasil baixou de 11,75% para 10,50%, e depois voltou a subir para 10,75%. Enquanto isso, a taxa de juros dos EUA foi reduzida em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano. Porém, essas mudanças não parecem ter surtido efeito no câmbio.

Os juros importam no tema câmbio porque o diferencial entre as taxas cobradas aqui e as taxas norte-americanas é um fator importante na precificação do dólar na comparação com o real.

Variação da cotação do dólar frente ao real em 2024

Fonte: Mais Retorno

Segundo José Alfaix, economista da Rio Bravo Investimentos, apesar da perspectiva positiva para o câmbio, devido à não sincronia dos ciclos de política monetária americano e brasileiro, e consequente aumento do diferencial de juros entre as duas economias, o que observamos em 2024 é uma depreciação generalizada do real, não só frente ao dólar.

“Mesmo com elevado cupom cambial, a moeda local tem sofrido pelo lado do prêmio de risco, especialmente naquilo que diz respeito ao controle da dívida pública. Observamos despesas obrigatórias que crescem em ritmo elevado devido à sua indexação, e não há flexibilidade para efetuar os cortes necessários”, aponta Alfaix.

Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, a valorização do dólar em relação ao real este ano está ligada a dois fatores principais: a saída de dólares do Brasil, e a desconfiança do mercado perante ao resultado fiscal do país.

“Apesar do superávit na balança comercial, que mostra que o país exporta mais do que importa, houve uma significativa fuga de recursos financeiros. Isso significa que, enquanto o Brasil apresenta um saldo comercial favorável, sua balança cambial se deteriora, com muitos investidores mandando dinheiro para fora do país”, afirma ele.

Já no fiscal, o CEO da gestora Multiplike diz que o  país tem visto um aumento contínuo da dívida em relação ao PIB, o que gera apreensão. “O governo frequentemente fala sobre ajustes fiscais, mas as ações concretas estão em falta”, ressalta.

O que pode fazer o dólar baixar?

De acordo com Eyng, para reverter essa tendência e permitir a valorização do real, é essencial que medidas fiscais rigorosas sejam implementadas. “Somente assim o governo poderá reconquistar a confiança do mercado e, consequentemente, provocar uma desvalorização do dólar”, destaca.

João Kepler, CEO da Equity Fund Group, ainda ressalta que para recuperar a confiança do mercado e permitir uma valorização do real, são necessárias ações concretas e eficazes que demonstrem um comprometimento real com a responsabilidade fiscal. 

“Enquanto isso, o mercado aguarda as próximas movimentações do Federal Reserve, que poderão influenciar ainda mais o cenário cambial e econômico global” completa Kepler.

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