Commodities

Impacto de tarifas de Trump sobre aço ainda é incerto para o Brasil, dizem especialistas

Em seu primeiro mandato, Trump havia imposto medida semelhante, mas voltou atrás pouco mais de um ano depois

No início desta semana, o presidente americano Donald Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio ao país. Apesar de o Brasil ser um grande exportador de aço e ter os EUA como um dos principais destinos para a commodity, ainda não está certo qual será o impacto para a economia e as empresas brasileiras.

“Há uma possibilidade grande desse impacto ser menor do que se imagina. Tanto que não tivemos grandes alterações no preço das ações das empresas que em tese seriam as mais afetadas”, diz Carla Beni, economista, professora da FGV e conselheira do Corecon SP.

Ela lembra que em 2018, em seu primeiro mandato, Trump já havia imposto tarifas semelhantes ao aço brasileiro. “Mas ele voltou atrás um ano e meio depois, porque houve um efeito rebote péssimo na economia americana, com o aumento dos preços de automóveis e até eletrodomésticos”, diz.

Rodolfo Olivo, professor da FIA Business School, entretanto, destaca a importância do setor siderúrgico para a economia brasileira. “Há estudos preliminares que indicam que se for mantida essa tarifa de 25% sobre o aço, o Brasil poderia ter perdas até da ordem de US$ 6 bilhões”, diz ele. Além do impacto importante para as companhias brasileiras exportadoras da commodity, essa queda nas exportações poderá alterar o resultado da balança comercial brasileira. “Se essas tarifas forem mantidas, isso pode pressionar o dólar para cima, porque vai ter menos entradas de dólares via balança comercial”.

Segundo dados da Amcham, em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 5,7 bilhões em aço e ferro para os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 267 milhões em alumínio para o mercado americano, equivalente a 16,7% das vendas globais brasileiras. 

Por outro lado, ambos concordam que as consequências imediatas para o Brasil não estão claras. “Existe uma pequena chance de nada mudar, os EUA continuarem comprando e repassarem o preço ao consumidor interno”, lembra Carla Beni.

“Uma segunda possibilidade é as empresas brasileiras passarem a vender mais para o nosso mercado doméstico – até porque a maioria da nossa produção já é destinada ao consumo interno”, lembra a professora. “Pode ser uma oportunidade interessante, a gente pode vender uma cota maior aqui dentro, no Brasil, o que vai aumentar a oferta e fazer cair o preço interno, e isso inclusive pode estimular a indústria”, diz.

Uma terceira alternativa seria o Brasil encontrar outros parceiros comerciais que possam absorver a demanda dos EUA.

Além disso, as tarifas não devem afetar o setor siderúrgico de forma uniforme, diz Rodolfo Olivo. “O Brasil exporta tanto produtos de aço semi-acabados quanto o aço já acabado, como chapas e tubos. Para os produtos semi-acabados, as siderúrgicas americanas são bastante dependentes. Então, elas também sairiam prejudicadas, porque o custo delas vai aumentar”, diz ele. Numa possível negociação, essa dependência das indústrias norte-americanas pode ser uma carta importante para o Brasil.

Para muitos, essa possibilidade de negociação não deve ser descartada. Vale lembrar que na semana passada mesmo o presidente americano divulgou que iria taxar os produtos do México e Canadá, mas negociou um meio termo com ambos os países dias depois.

Em nota, a Amcham destaca que a indústria siderúrgica brasileira tem significativo grau de integração com os Estados Unidos. “Em 2024, as empresas brasileiras importaram US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico americano, utilizado para a produção do aço no Brasil”. Além disso, “O aço brasileiro é um insumo estratégico para a indústria americana. O Brasil, por sua vez, importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos Estados Unidos, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação. Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana”, lembra a associação. “A Amcham Brasil espera que os governos do Brasil e dos Estados Unidos busquem uma solução negociada para preservar o comércio bilateral, que tem registrado recordes nos últimos anos, com ganhos para ambas as economias e expressivo superávit para o lado americano”, conclui a nota.

“Eu acredito que pode haver uma flexibilização, por vários motivos. Primeiro, porque o Brasil é um parceiro estratégico para os Estados Unidos, especialmente na questão dos semi-faturados, mas também no minério de ferro, pela proximidade geográfica. Outros grandes produtores mundiais, como a Índia e a China, estão muito mais longe, então o frete é muito mais caro. E o Brasil tem uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo”, resume Olivo.

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