Criptoativos

Conheça a história do 1º ETF de criptoativos do mundo – que é brasileiro

Marcelo Sampaio, fundador da Hashdex, conta como encontrou no Brasil o solo favorável para listar um ETF de criptoativos

Marcelo Sampaio, cofundador da Hashdex
“Hoje, o Brasil tem a melhor regulação de cripto no mundo”, afirma Marcelo Sampaio, cofundador da Hashdex. Foto: divulgação.

O ano era 2017. Em uma das diversas reuniões que teve com a Sec (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) para tentar colocar de pé um ETF de cripto, Marcelo Sampaio percebeu que seria necessário mudar os planos. Há anos pensava em como criar uma estrutura eficiente que permitisse a qualquer um investir em criptoativos, e estava convicto de que um fundo listado seria a solução. Foi com esse objetivo que fundou a Hashdex, ao lado de Bruno Caratori. “A gente tentou fazer isso nos Estados Unidos, porque era o maior mercado. Mas teve um momento em que tivemos uma reunião com a Sec, e você conseguia ver no body language do cara que não ia rolar”, resume Marcelo.

Essa mudança de planos envolveu uma volta aos negócios no Brasil, depois de uma longa temporada nos EUA, onde inclusive teve uma experiência anterior no empreendedorismo e cofundou de uma startup de software, a Endless, que chegou a ter 27 milhões de usuários.

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E por que o Brasil, além do fato de serem brasileiros? “No Brasil, você tinha uma característica, que no Banco Central e na Comissão de Valores Mobiliários, as lideranças estavam muito abertas, e viram nisso uma oportunidade de dar uma vantagem competitiva para o país em relação a outras jurisdições”, diz Sampaio.

O processo não foi simples, mas três anos depois, a Hashdex conseguiu colocar no mercado o primeiro ETF de criptomoedas do mundo, listado aqui no Brasil.

Por que investir em cripto?

Quando fundou a Hashdex, Marcelo já estudava o mercado de criptoativos há algum tempo. Em 2011 ele começou a ter os primeiros contatos com o tema, em fóruns online. “Tinha pessoas defendendo esse negócio, falando que iria mudar tudo, acabaria com o mercado financeiro, que o mundo seria outro, e outras pessoas escrevendo que esse negócio era um absurdo, era fraude, era aquela coisa toda. E o que me impressionou é que você tinha gente muito inteligente escrevendo textos enormes”, lembra.

Mas só em 2013 que ele resolveu de fato comprar criptomoedas. E foi aí que o empreendedor sentiu todos os obstáculos para isso. “Obviamente, tive todos os tipos de dificuldade. Quando eu fui fazer meu primeiro investimento, meu contador gringo me ligou e falou ‘olha, se você seguir com esse investimento, eu vou te demitir como cliente, porque eu não vou estar envolvido com um crime’. Eu não achava que era crime, mas fiquei com medo. Ele me disse que se eu arrumasse um instrumento regulado pra investir nesse negócio, aí tudo bem. Tá. E aí, o que aconteceu? Não existia nada”.

Aos poucos, foram surgindo fundos de investimento, que permitiam aportar em cripto por meio de veículos mais tradicionais do mercado financeiro. O fundo GBTC, da gestora Grayscale, por exemplo, foi um dos pioneiros. Marcelo procurava essas opções e até investia nelas, mas ainda não estava completamente satisfeito. “O que acontecia é que eu era super crítico a esse negócio todo, porque eu achava todos os produtos muito ruins. Eram caros, a governança era ruim. Tinha questões que eles não resolviam bem”, diz. “A Hashdex foi nossa resposta, para fazer o produto que a gente realmente queria comprar”.

Por que criar um ETF de cripto?

Segundo Marcelo, desde o início, ele e Bruno Caratori tinham como objetivo criar um ETF. Essa escolha tem muito a ver com o momento da criação da Hashdex, quando os ICOs (initial coin offering) estavam bombando nos Estados Unidos. Quem já acompanhava o mercado sete anos atrás provavelmente se lembra o que foi esse boom de novas moedas sendo lançadas a cada semana. Segundo o discurso da época, os lançamentos eram uma nova forma de IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês), processo em que as empresas abrem o capital nas bolsas de valores tradicionais. Ou seja, quando uma empresa buscava se financiar, em vez de abrir o capital na bolsa e vender ações, criava um novo criptoativo em uma blockchain e os vendia.

“Foi quando esse negócio [criptomoedas] começou a ficar gigante. Mas se estou investindo olhando para os próximos 20 ou 30 anos, o problema é se eu estiver investindo no que vai dar errado e com o foco no que vai dar muito certo”, explica Marcelo.

Ou seja, em meio à infinidade de tokens que estavam sendo lançados, como escolher os vencedores e fugir daqueles que iriam perder seu valor em algumas semanas? Para Marcelo, a solução é justamente investir em um índice, que represente uma cesta de moedas, para que o investidor não tenha que escolher cada criptoativo.

“Na minha opinião, [ao entrar em qualquer mercado, deveria-se] começar em índice. Se você quer começar a investir no Brasil, você não vai comprar Petrobras, você vai comprar Ibovespa. Se você quer começar a investir nos Estados Unidos, você não vai comprar Apple, Nvidia, você vai comprar o S&P 500”, argumenta. “Depois você vai entender e falar ‘eu acho que Apple vai ser melhor que o mercado, então peraí, deixa eu comprar Apple’”.

“Hoje, o Brasil tem a melhor regulação de cripto no mundo”

Depois de anos se reunindo com os reguladores para colocar a Hashdex e seus produtos no mercado, Marcelo defende que o País é pioneiro na regulamentação de criptomoedas no mundo. “Não tem nada melhor do que o Brasil nesse momento da história. Não é os Estados Unidos, com certeza. Não é a Suíça, que é um país legal também. O Brasil hoje está realmente impressionante”, afirma.

Segundo ele, parte crucial desse desenvolvimento foi a definição do que são os criptoativos e qual é o órgão responsável do governo por regular esse mercado.

“Um dos principais problemas de cripto no mundo hoje, eu vou dar o exemplo dos Estados Unidos, é justamente não definir as coisas”, explica Sampaio. Lá, a regulação fica em um espaço cinzento entre Sec, Fed e CFTC, a Comissão de Negociação de Contratos Futuros de Commodities. Sem uma definição de quem é o responsável pela regulação, as decisões ficam mais difíceis.

Essa incerteza traz problemas para os próprios investidores, diz Marcelo. “O que eu falava muito, que se a gente não aprovasse um ETF, estaríamos levando todo mundo a usar exchance [as corretoras de criptomoedas]. Tem exchanges que são bacanas, mas tem um monte de gente que não é séria”, diz Sampaio.

Foram pouco mais de três anos para o lançamento do HASH11, que aparece com frequência entre os ETFs mais negociados da B3.

Anos depois, a aprovação nos EUA

No início deste ano, os Estados Unidos aprovaram a criação de ETFs de bitcoin à vista, após uma longa discussão. Recentemente, aprovaram também os ETFs de ethereum.

Notícia ruim para a Hashdex? Na visão de Marcelo, não. “Pelo contrário, mais players entrarem no mercado é bom”, diz. “Primeiro do ponto de vista de marketing, porque também tivemos um ETF aprovado, então crescemos como marca lá fora”.

Em segundo lugar, ele defende que aprovação “legitima a indústria de criptoativos como um todo” e abre a possibilidade de novos investidores importantes, como fundos de pensão e grandes investidores institucionais.

“É um negócio de muito longo prazo. A gente sente que tem uma abertura muito maior agora”, diz.

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