ETFs ganham força no Brasil. Conheça a diversidade e perspectivas para os fundos listados
Mercado de ETFs no Brasil tem ganhado diversidade de produtos e inovação
Muito usados nos EUA, os fundos listados em bolsa começam a ganhar tração no Brasil. Com custos mais baixos que fundos tradicionais e mais liquidez, eles oferecem vantagens aos investidores e foram tema central do ETF Week 2025, que reuniu reguladores, executivos e gestores na B3 para discutir os rumos do mercado.
Nos Estados Unidos, os ETFs já são parte essencial da indústria de investimentos, com patrimônio que supera o dos fundos tradicionais. Por lá, o número de fundos listados já superou o número de ações individuais. No Brasil, embora ainda em fase de consolidação, esse produto tem ganhado tração e se sofisticado a cada ano. Com liquidez e acesso simplificado a diferentes classes de ativos – de renda fixa a cripto –, os fundos listados em bolsa oferecem vantagens para os investidores e despontam como protagonistas da próxima fase do mercado financeiro brasileiro.
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O que são ETFs
Os ETFs, sigla em inglês para Exchange Traded Funds, são fundos de investimento negociados em bolsa que replicam índices de mercado, como o Ibovespa B3, ou cestas temáticas de ativos. Eles permitem ao investidor acessar, em uma única operação, uma carteira diversificada de ações, títulos de renda fixa ou até mesmo criptoativos. Com taxas geralmente menores que fundos tradicionais e maior liquidez, têm se consolidado como uma alternativa eficiente de alocação no Brasil e no mundo.
“ETF é um produto supersimples, apesar da sopa de letrinhas”, disse Ricardo Eleutério, da Bradesco Asset Management. Para ele, a simplicidade e a vantagem tributária — já que os ETFs de renda fixa são tributados em 15%, sem come-cotas — ajudam a explicar o avanço do produto no mercado brasileiro.
Crescimento global dos ETFs e perspectiva para mercado brasileiro
A indústria de ETFs já movimenta trilhões de dólares no mundo e deve ganhar ainda mais protagonismo nos próximos anos. “Os ETFs vão dominar a indústria de investimentos”, disse Renato Nobile, CEO da Buena Vista. Segundo ele, o produto concentra hoje a maior parte da inovação financeira atualmente, por sua flexibilidade e custo competitivo.
No Brasil, o mercado ainda é jovem, mas cresce a passos largos. De acordo com Thalita Forne, superintendente de Equities da B3, o volume negociado saltou de R$ 300 milhões por dia em 2018 para R$ 1,8 bilhão em 2025, com uma média de expansão de 20% ao ano. “Já temos mais de 650 mil investidores pessoa física com posição em ETF”, destacou.
Rogério Santana, diretor de relacionamento da B3, reforçou que a tendência é inevitável: “Os ETFs ganharam relevância muito grande globalmente, em muitos países reúnem recursos acima da indústria tradicional de fundos. Aqui no Brasil, esse processo está em andamento, ETFs estão crescendo a velocidade acelerada”.
Cauê Mançanares, CEO da Investo, lembrou que o Brasil ainda está no início dessa trajetória, mas que o caminho já foi trilhado no exterior. “Nos EUA, demorou 10 anos para chegar no estágio que a gente vê hoje, e outros 10 de aceleração exponencial. No Brasil, a gente ainda está no começo. Espero que não demore 10 anos.”
Diversificação e acesso internacional
Um dos pontos mais ressaltados durante o evento foi a possibilidade de usar ETFs como porta de entrada para investimentos globais. Keegan Ball, da J.P. Morgan, destacou que os BDRs de ETFs eliminam barreiras: “A aplicação em ETFs globais simplifica a exposição internacional, já que não é necessário abrir uma conta offshore e pode ser negociado em real”.
A BlackRock, que acaba de ampliar para 181 o número de ETFs listados na B3, reforçou a importância da diversificação geográfica. Nesse sentido, Cindy Shimoide lembrou que, ao contrário do que muitos pensam, esperar pelo momento “certo” para iniciar a diversificação de seus investimentos no exterior não costuma se traduzir em ganhos relevantes. “Essa ideia faz sentido intuitivamente. Mas quando a gente vê os números, nem tanto”, disse.
Nobile acrescentou que os ETFs já são vistos como instrumentos para qualquer tipo de alocação. “O ETF é um veículo que facilita qualquer tipo de alocação em qualquer classe de ativo.”
Flavio Vegas, da Global X, completou: “Com um ETF internacional ou global listado na B3, o investidor não precisa de conta no exterior ou fazer remessa de câmbio”.
Inovação em ETFs: cripto e smart beta
Além de ações e renda fixa, os ETFs têm avançado para novas frentes. No Brasil, já existem 24 fundos listados que replicam índices de criptoativos, com média diária de R$ 100 milhões em negociação. Para João Piccioni, da Empiricus Asset, ignorar esse segmento pode custar caro: “Quem deixar de lado essa classe nos próximos anos vai perder um grande vetor de retorno”.
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A visão é compartilhada por Theodoro Fleury, da QR Asset. “O bitcoin tem correlação baixa com demais classes de ativos, no geral. E não deixa de ser também uma diversificação cambial”, disse. Já Henry Oyama, da Hashdex, ressaltou que o desempenho desses ativos depende muito mais da adoção da tecnologia do que de ciclos macroeconômicos.
Outra frente em destaque foram os ETFs smart beta, que buscam capturar fatores específicos do mercado, como baixa volatilidade ou dividendos. Andrés Kikuchi, CEO da Nu Asset, explicou: “O processo de criar smart beta é basicamente o mesmo de um gestor ativo. Você vai escolher um universo de ações, criar um funil e buscar fatores para entregar valor”.
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Renda fixa via ETFs
Se o investidor brasileiro tem tradição na renda fixa, o desafio agora é expandir esse apetite para dentro dos fundos listados. “O mercado brasileiro é muito voltado para renda fixa, mas a proporção dos ETFs de renda fixa em relação ao total ainda é baixa”, afirmou Ana Rodela, CIO da Bradesco Asset Management.
Na mesma linha, Eduardo Leal, do BTG, avaliou que a queda da Selic pode impulsionar esse segmento: “Com a queda da Selic, podemos ver mais interesse em ETFs de renda fixa com duration mais longa e prefixados, mas deve favorecer os produtos de equities como um todo.”
Além disso, os ETFs de crédito privado vêm ganhando espaço. Eduardo Arraes, Credit Fund Manager do BTG Asset, destacou a vantagem de acesso e liquidez: “Temos um ETF com uma carteira com mais de 100 emissores, e o cliente consegue sair rapidamente de sua posição”. Segundo ele, a ausência de come-cotas também torna o produto mais eficiente do ponto de vista fiscal.
ETFs de gestão ativa e evolução regulatória
A próxima fronteira pode estar nos ETFs ativos. “Essa é a evolução dos ETFs, e essas regulações aprovadas fazem com que os ativos sejam cada vez melhores para os investidores”, disse April Reppy, da First Trust.
Do lado regulatório, Marco Velloso, superintendente da CVM, foi direto: “Minha percepção é que o produto no Brasil está defasado, precisa ganhar características que existem no exterior. Temos isso no nosso planejamento.” Ele citou ainda a Instrução 179, que aumenta a transparência da remuneração dos assessores de investimento, como divisor de águas para o setor.
Papel dos assessores e da educação financeira
A disseminação dos ETFs também depende de quem está na ponta, em contato direto com os investidores. “Em 10 anos, vimos a transformação do papel do assessor de investimento. Hoje, o ETF faz sentido na composição dos nossos clientes”, disse Diego Ramiro, presidente da ABAI.
Camila Faria, analista de produtos da B3, reforçou que simplicidade e clareza são pontos centrais: “Os ETFs trazem simplicidade, diversificação instantânea, transparência, liquidez e menores custos”.
Gestores de grandes casas brasileiras também destacaram o potencial dos ETFs para construção de portfólios sofisticados. “Não dá para saber qual classe de ativos vai ter performance melhor no futuro, mas dentro de uma classe de ativos, você vai ter um desempenho melhor se alocar com custos mais baixos”, disse Alexandre Frade, da Itaú Asset.
Danilo Gabriel, da XP Asset, acrescentou: “É possível hoje com ETF montar uma carteira sofisticada o suficiente e ter exposição a todas as classes de ativos”.
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