“ETFs somam US$ 14,5 trilhões no mundo e esse mercado deve crescer no Brasil”, diz Joe Nelesen, do S&P Dow Jones Indices
No Brasil, entretanto, os ETFs ainda engatinham, representando cerca de 1% do total da indústria de fundos
O mercado global de fundos listados, os chamados ETFs, tem crescido nos últimos anos e já alcança US$ 14,5 trilhões. Para Joe Nelesen, especialista de estratégia de investimento em índices do S&P Dow Jones Índices, há alguns fatores que podem acelerar o uso dos ETFs no Brasil. Ele citou o caso dos Estados Unidos: nos últimos dez anos, US$ 2,9 trilhões foram retirados dos fundos de investimento ativos – e grande parte desse capital foi para os fundos listados, que apresentaram crescimento de US$ 4 trilhões nesse período. No Brasil, entretanto, os fundos listados ainda engatinham, representando cerca de 1% do total da indústria de fundos.
Em evento sobre o mercado de índices no Brasil, Nelesen mostrou dados de um estudo comparando o desempenho de fundos ativos brasileiros e seus respectivos benchmarks – que podem ser acessados através de ETFs. “No Brasil, a maior parte dos fundos não supera seus benchmarks”, resumiu.
Outro possível catalisador para os fundos listados, na opinião dos especialistas presentes, é uma nova norma no mercado brasileiro: a instrução 179 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que passou a valer em novembro. A regra prevê que assessores de investimentos informem aos clientes a remuneração recebida por produto indicado.
Conforme explica Nicolás Gómez, diretor de ETFs e investimentos indexados da BlackRock na América Latina, essa norma pode incentivar uma mudança de modelo de negócio dos assessores no Brasil. Hoje, a maior parte desses profissionais atua no modelo conhecido como “comission based”, em que são remunerados pelos distribuidores dos produtos que eles oferecem aos clientes. Para Gómes, a regra pode estimular uma mudança para o modelo “fee based”, em que o cliente paga ao assessor uma tarifa fixa pelo serviço.
“Entre 60% e 70% do mercado dos EUA usa o modelo fee based”, conta. Isso, entretanto, foi consequência de uma mudança recente nos Estados Unidos, que aconteceu também após uma nova norma do mercado. E o que isso tem a ver com ETFs? Antes, diz ele, quando os assessores ganhavam pelos produtos, poucas pessoas tinham ETFs em suas carteiras. “Conforme a indústria caminhou para o fee based, o papel do assessor mudou”, diz. “Ganhou espaço um papel de gerenciamento de risco, de encontrar novos clientes, e os assessores passaram a usar mais modelos e ETFs para gerir os portfólios de seus clientes, se tornando mais eficientes”.
20 anos de ETFs no Brasil
O evento também discutiu o desenvolvimento do mercado brasileiro de ETFs, que completou 20 anos em 2024. Thalita Forne, superintendente executiva da B3 , destacou que hoje existem mais de 100 fundos listados de emissores locais, com exposição local e internacional, além de mais de 250 BDRs de ETFs, que dão acesso a fundos listados nas principais bolsas do mundo.
Sergio Foldes Guimarães, assessor sênior na área de mercado de capitais do BNDES, comentou que 2004, ano de lançamento do PIBB11, primeiro ETF do Brasil, o País passava por “um momento de esvaziamento do mercado brasileiro, com fechamentos de capital, problemas de governança que afetavam os investidores minoritários”. A criação do fundo listado, diz ele, foi um “esforço conjunto para popularização do mercado“. “A gente via nos ETFs, baseado na experiência dos EUA, uma forma de atrair investidores para a bolsa”, conta.
Mesmo depois de 20 anos, diz Renato Eid, sócio e líder de estratégias beta e investimento responsável da Itaú Asset Management, “é muito fácil ser otimista e entender o potencial crescimento que a gente tem pela frente”. Segundo ele, esse mercado tem muito a crescer, mas é preciso “trabalhar para ajudar o investidor a investir melhor”.
Segundo ele, é preciso desmistificar a ideia de que é preciso escolher entre os ETFs e a gestão ativa, mas que um único investidor pode se aproveitar de ambos. “A construção que foi feita ao longo de 20 anos, de trazer arcabouço regulatório e fiscal que suporte a criação de diversos produtos e estratégias diversos e amplos, possibilita ao investidor o acesso a um portfólio global, diversificado, com liquidez e com custo que dificilmente vai passar de 30-35 basis”, disse.
Bruno Stein, superintendente de produtos da Safra Asset Management, lembrou ainda que o ETF não é um produto apenas para investidores do varejo. Segundo ele, um grande uso dos ETFs no exterior é pelos gestores de fundos ativos. “É um mecanismo de construção de ajuste de portfólio absurdamente eficiente”.
Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.