Quais as perspectivas para o mercado de ETFs no Brasil?
Simplicidade, transparência, diversificação e liquidez são algumas das vantagens dos ETFs
São 20 anos de história dos ETFs (fundos listados) no Brasil, mas menos de 1% dos ativos investidos no País estão nessa classe de ativos. O mercado global de ETFs soma US$ 14 trilhões. No Brasil, são R$ 50 bilhões, frente a uma indústria de fundos mútuos de R$ 9 trilhões. No entanto, alguns fatores começam a mudar esse cenário nos últimos anos, como a inovação desse mercado e uma mudança regulatória que pode trazer modificações no modelo de assessoria de investimentos. Especialistas se reuniram nesta quinta-feira (05/12) na B3 para discutir esse mercado.
Confira o material exclusivo da B3 sobre os 20 anos de ETFs no Brasil
Simplicidade, transparência, diversificação e liquidez foram algumas das vantagens repetidas pelos gestores e diretores presentes. Além disso, mostraram que os ETFs ganharam novos tons. Apesar de aparecerem, na maioria das plataformas de investimentos, na aba de renda variável, há uma diversidade cada vez maior de estratégia expressadas no veículo ETF, como renda fixa e criptomoedas. Há ainda os ETFs temáticos, que focam em empresas pagadoras de dividendos, ou companhias focadas em inteligência artificial, ou fundos concentrados em empresas de países e geografias específicas.
“O ETF é um produto que traz inovação junto com a simplicidade, os ETFs possuem capacidade muito grande de envelopar uma estratégia, que pode ser de renda variável, mas também outros ativos, como renda fixa, criptomoedas e mercado imobiliário”, resumiu Andrés Kikuchi, diretor executivo da Nu Asset. “Esse mercado é muito mais amplo do que parece ser, é muito maior do que renda variável”.
Renato Eid, sócio e líder de estratégias Beta e Investimento Responsável da Itaú Asset Management, lembrou, no entanto, que a conversa sobre ETFs precisa começar por uma conversa sobre índices. “O investidor tem que se informar, e para saber qual ETF vai melhor atender a demanda, precisa entender de índice. O ETF é um chassi de investimento que pode ter acesso a uma estratégia, uma localidade. Ele encapsula um processo de investimento que vai gerar uma carteira”, disse. “Quando você compra um ETF, está comprando uma tese de investimento que está representado num índice”.
Kikuchi defendeu ainda que os ETFs não servem apenas a objetivos de longo prazo. Eles “podem servir tanto para um modelo de portfólio focado em alocação estratégica de longo prazo, trazendo a customização de ETFs com diferentes estratégias a depender do cliente, quanto para uma posição mais estratégica, e traz facilidade para fazer a realocação de portfólio, de acordo com necessidade do cliente ou mudança de cenário”.
Bruno Barino, country manager da BlackRock Brasil, também tem a mesma visão. Segundo ele, “cada vez mais, os investidores de ETFs são ativos. A gente não tem só investidores que estão tentando acompanhar o índice, mas sim usando ETFs de modo ativo”, disse. Assim, cada investidor escolhe os ETFs que fazem sentido para seus objetivos e seu perfil.
Assim, os fundos listados servem como “blocos” para ajudar a formar os portfólios. “ETFs cabem como uma luva quando você vai montar portfólios de forma diversificada e personalizada”, resumiu Clayton Rodrigues, head de multi-assets da Bradesco Asset Management.
E apesar do crescimento recente dos ETFs no Brasil, os especialistas concordam que esse mercado tem muito a crescer no futuro. “Acho que o numero de gestoras com ETFs no Brasil ainda é baixo, e o número de ETFs ainda é baixo, mas esse mercado já tem amplitude que começa a ficar bem interessante”, afirmou Renato Nobile, founder e portfolio manager da Buena Vista.
Nova regra para assessores pode incentivar uso de ETFs
Uma novidade no mercado brasileiro, a norma 179 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pode ser um marco no mercado de ETFs no Brasil – apesar de a norma não dizer nada sobre os fundos listados. A regra visa dar mais transparência à relação entre investidores e assessores de investimento no Brasil, trazendo mais informações sobre os custos e a remuneração desses profissionais.
Isso porque a mudança pode aumentar a adoção do modelo conhecido como fee based para os assessores de investimentos – em que os investidores pagam aos assessores um porcentual sobre o patrimônio. Em contrapartida, o modelo mais adotado hoje no Brasil é conhecido como comission based, em que os assessores são remunerados a depender dos produtos indicados.
O que isso tem a ver com os ETFs? No modelo comission based, os assessores têm pouco incentivo para oferecer os fundos indexados, porque a comissão recebida é menor do que de outros produtos.
“O modelo fee based foi uma virada de chave nos EUA, e a gente imagina que com a nova regra da CVM vai ser uma virada de chave aqui no Brasil”, afirmou Débora Cazotti, head de business development da Global X ETFs.
“O modelo de negócios dos assessores traz uma grande mudança de paradigma, movimento que a gente acredita que vai começar a se intensificar”, concordou Barino, da BlackRock.
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