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Biotecnologia é a nova IA? Entenda as perspectivas e desafios para esse mercado

Empresas de biotecnologia sofreram com o cenário macroeconômico nos últimos anos, mas número de pesquisas tem aumentado e traz perspectivas promissoras

produção de vacinas
O número de medicamentos em desenvolvimento cresceu de 3.200 em 2012 para 6.100 em 2022. Foto: Ricardo Stuckert/PR

“A era de ouro da inovação”. É assim que a McKinsey descreve o momento atual dessa indústria de biotecnologia. Hoje, o pipeline de estudos clínicos é o maior e mais diverso da história, fruto de décadas de inovação e pesquisa, diz a consultoria. O número de medicamentos em desenvolvimento cresceu de 3.200 em 2012 para 6.100 em 2022 – e 14% deles usam técnicas validadas nos últimos cinco anos.

Esse crescimento tem sido financiado pelos governos e pela iniciativa privada. A McKinsey estima que os investimentos privados em life sciences somaram US$ 146 bilhões nos últimos três anos. O valor é maior do que o patrimônio líquido total do megainvestidor Warren Buffett, a sexta pessoa mais rica do mundo.

Os retornos potenciais de investir em uma empresa que pode encontrar uma droga capaz de curar uma doença grave são enormes. Os riscos também. Entre o início do desenvolvimento de um medicamento e sua aprovação, passam-se anos em que são gastos centenas de milhões de dólares sem uma única fonte de receita e inúmeros desafios precisam ser superados.

E como muitos dos ativos de maior volatilidade, as ações das empresas de biotecnologia sofreram nos últimos anos por conta dos juros elevados nas principais economias do globo.

“É uma área que envolve risco, e quando há problemas econômicos ou geopolíticos, as pessoas fazem um rotation de mercados risco para mercados de no-risk. E a gente tem passado por várias crises nesses últimos anos, então biotecnologia realmente teve uma queda substancial”, afirma Suy Anne Rebouças, gestora do fundo de HealthCare da JGP.

Quem investe no setor defende que é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Até mesmo Rebouças alerta que o investidor não deve colocar em seu fundo um dinheiro buscando retorno no curto prazo.

Afinal, é nas grandes inovações que estão os maiores retornos. E essas inovações levam tempo. Stephanie Sirota, da gestora especializada RTW Investments, diz: “nosso investimento preferido é quando identificamos um ativo que terá um efeito transformacional significativo, não só uma valorização de curto prazo”.

Mas o jogo pode estar começando a virar, sugerem os números. Segundo o Goldman Sachs, US$ 1,5 bilhão já foram levantados por empresas do setor em IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês) este ano até abril, frente a US$ 2,8 bi em 2023 e US$ 1,6 bi em 2022.. O banco inclusive lançou um fundo com essa temática em janeiro, com um capital de US$ 650 milhões.

Parte do otimismo vem justamente do aumento do número de pesquisas e da maior eficiência. A inteligência artificial tem inclusive um papel relevante nisso. “A inteligência artificial em si é uma metodologia para melhorar a pesquisa e os processos internos das empresas que realizam as pesquisas. Por exemplo, quando você começa um estudo clínico de alguma molécula, você tem de fazer uma triagem entre milhares de moléculas para ver qual a que mais se adaptaria àquele estudo. E a AI tem cumprido um papel importantíssimo, por exemplo, nesse estágio”, diz Suy.

Os últimos anos, entretanto, fizeram uma peneira nas empresas que se mantiveram de pé. “Essas empresas são muito dependentes do capital do investidor. [Os juros altos] impactam bastante”, afirma a gestora. Como o risco é elevado – a maioria dos estudos clínicos falham, segundo ela – essas companhias acabam não conseguindo acessar o mercado de dívidas. Com o investimento privado secando, o jogo ficou mais difícil.

Então o que é que aconteceu nos últimos 3 anos? “Uma triagem natural das empresas, aquelas não tinham cash suficiente para se manter automaticamente saíram da indústria. Então a gente ficou só com aquelas empresas mais capitalizadas, que têm um recurso financeiro suficiente”, responde Suy.

Na opinião dela, isso tem um lado positivo e um negativo para quem investe no setor. De um lado, quanto mais empresas e pessoas envolvidas na pesquisa, maiores as chances de se encontrar um medicamento melhor. De outro, fica mais fácil para escolher as empresas dentro do setor.

Essa facilidade, vale dizer, é relativa. Em breve olhar sobre a equipe da RTW Investments acusa que o time é formado por mestres e doutores especializados em medicina. A própria Suy Anne, gestora da JGP, também tem pós-doutorado pela famosa Johns Hopkins. A análise, afinal, não depende apenas das finanças, mas da ciência apresentada por casa companhia.

Para quem busca investir e mitigar os riscos, mas não tem essa especialização toda pode se apoiar na diversificação, lembra Bruno Schneller, diretor da Erlen Capital Management.

“O renascimento do sector da biotecnologia apresenta um cenário díspar e o valor das empresas diverge com base em vários fatores, incluindo a força dos seus canais de medicamentos, a saúde financeira e o posicionamento no mercado”, escreve. “No mundo volátil do investimento em biotecnologia, a diversificação surge como uma estratégia crítica para mitigar o risco”.

Como investir em biotecnologia?

Grande parte das empresas de biotecnologia listadas em bolsa são estrangeiras, diz Suy Anne Rebouças. Uma forma das formas de se expor a esses mercados é justamente pelos fundos temáticos. Mas há também fundos de ações mais abrangentes que têm posições em empresas que desenvolvem medicamentos. Outra forma é através dos fundos de índice, ou ETFs, que trazem a diversificação em empresas do setor. Na B3, há BDRs de ETFs que replicam índices do segmento.

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