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“O ETF continua a ser um produto inovador”, diz superintendente de produtos da B3

Evento discutiu o desenvolvimento dos ETFs no Brasil

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Em 20 anos de desenvolvimento, os ETFs se diversificaram e trouxeram inovação para o mercado. Foto: Pexels

Vinte anos atrás, era lançado o primeiro ETF no Brasil, o PIBB11. Na época, foi necessário reunir BNDES, B3, CVM e Itaú Asset para colocar de pé o novo produto. Entre as dificuldades, estavam desde criar bases de operação até a de montar as regras e explicar para os investidores o que era o fundo listado em bolsa. Para garantir o sucesso da primeira oferta, foi necessário inclusive lançar uma opção de venda (chamada de put) para que investidores pudessem repassar suas cotas um ano depois sem prejuízo, se quisesse.

“A gente ainda está no começo da jornada, mas muita coisa evoluiu nesses 20 anos. Com o PIBB11, a gente queria democratizar o produto”, disse Sergio Foldes, executivo sênior do BNDES. A primeira oferta foi próxima a R$ 600 milhões e atraiu 25 mil pessoas físicas. “Tivemos o trabalho de priorizar o varejo, inclusive com uma put para dar a possibilidade de venda um ano depois, que nem foi exercida. O PIBB11 teve valorização de 50% no primeiro ano”. Em 2005, já foi feita uma segunda oferta, maior em volume e em número de pessoas físicas.

O contexto em que o ETF foi criado no País, “era de um enxugamento do mercado brasileiro, com muitas empresas fechando capital, e o BNDES e a B3 estavam preocupados com isso”, contou André Carvalhal, executivo sênior do banco de desenvolvimento. “O banco tomou isso como prioridade. Faltavam investidores, emissores e instrumentos, e o ETF poderia impulsionar tudo isso”, disse.

Nesta quinta-feira (02/05), um evento realizado na B3 reuniu gestores e assessores de investimento para falar sobre o desenvolvimento do mercado de ETFs no País. Hoje, já são mais de 100 ETFs disponíveis no mercado brasileiro, com exposição local e internacional, além dos BDRs de ETFs, que dão acesso a fundos listados em outros países. “O ETF continua a ser um produto inovador”, resumiu Thalita Forne, superintendente de produtos da B3.

Ao longo dos anos, com o desenvolvimento dos produtos, algumas vantagens ficaram mais claras, afirmou Leonardo Vasques, portfolio manager da Itaú Asset. “A gente não via tão claramente as vantagens, mas com o aluguel das ações da carteira do ETF, o PIBB11 não só bateu o Ibovespa, como bateu seu próprio benchmark [o índice IBX-50]”.

Vasques lembrou ainda que “o próprio conceito de ETF mudou, deixou de ser um instrumento só de renda variável e passou a ser renda fixa também”. “Os investidores no Brasil são muito focados em renda fixa, e o ETF é um instrumento que possibilidade investir na renda fixa dentro da bolsa”.

Carvalhal, do BNDES, argumentou que apesar do crescimento dos ETFs, o produto ainda “está muito aquém do que seria possível. Um uso mais frequente dos ETFs seria muito benéfico para investidores e para o mercado como um todo”.

ETFs, dividendos e renda passiva

Em sua maioria, os ETFs de renda variável reinvestem automaticamente os dividendos recebidos pelas ações de suas carteiras. No entanto, no ano passado, foi criada a possibilidade de lançar ETFs que distribuem os dividendos aos cotistas.

Andrés Kikuchi, head e CIO da Nu Asset, pontuou que o recebimento de dividendos é relevante para as pessoas físicas. A gestora lançou no ano passado dois ETFs focados em dividendos, um deles com a distribuição e outro que reinveste os valores. “Essa estratégia teve crescimento muito amplo, existe uma demanda por estratégia de renda passiva. É importante trazer essa inovação para o mercado de ETFs no Brasil”, disse.

Há, por outro lado, vantagem também na estratégia de reinvestimentos. Segundo Renato Eid, head de estratégias beta da Itaú Asset, é comum que investidores reinvistam os dividendos na mesma ação que o distribuiu. “Nesse caso, além de te dar mais trabalho, você paga o imposto de renda [sobre o dividendo]”, lembrou. “Se a pessoa não precisa daquela renda passiva, o próprio ETF reinveste sem incidência do IR, para que o dinheiro fique trabalhando pelo investidor”.

Eid destacou como vantagem também a diversificação da carteira de um ETF. “A renda variável é um mercado de risco em termo de volatilidade”, diz. No caso dos fundos listados focados em dividendos, “o investidor já está acessando a tese de melhores pagadoras de dividendos, e leva de carona a diversificação”.

Tendência de investimentos ESG

Outro ponto que chama a atenção nos ETFs é a possibilidade de criar fundos temáticos. Nesse quesito, desde 2020, o interesse dos investidores por ESG (questões ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) quadruplicou, afirmou Manuela Rodrigues, superintendente de pessoas e diversidade da B3.

Isso ajuda, inclusive, a aproximar os investimentos dos investidores, defendeu Bruno Stein, head de produtos da Safra Asset.  “Os produtos financeiros são muito abstratos, distantes. Mas, em geral, quando você vai para o mundo dos temáticos e do ESG, as pessoas se engajam, têm vontade de manifestar suas crenças através dos investimentos”, disse.

No Brasil, segundo ele, há pelo menos dez ETFs de renda variável, local e internacional, com a temática ESG. “Existe volume. Vamos ver o nascimento de mais ETFs de ESG nos próximos anos, com certeza”, afirmou Stein.

Daniele Medeiros, assessora sênior da BB Asset, concorda que o tema tende a crescer. “Quando a gente fala de ESG e investimentos ESG, estamos falando de uma tendência do mundo que vem para investimentos”, diz.

Ela destacou também o papel dos índices de influenciar as empresas a tomarem ações mais sustentáveis. “Quando uma empresa faz parte de um índice ESG, ela tem uma percepção positiva e também recebe mais investimento”, disse, já que os próprios fundos listados indexados a tais índices passam a demandar as ações.

ETFs e diversificação

Alessandra Gontijo, sócia e COO da Investo, pontuou que os ETFs foram os produtos que mais cresceram nos EUA nos últimos anos, alcançando US$ 8 trilhões sob gestão e mais de 3 mil fundos listados.

Paula Salamonte, head de produtos iShares da BlackRock, lembrou que além dos ETFs na B3, os investidores têm acesso aos BDRs de ETFs, ou seja, os recibos de fundos listados em bolsas fora do Brasil. “Isso traz a possibilidade de exposição ao dólar sem precisar criar uma conta diferente e traz mais democratização e acesso a produtos internacionais”, afirmou.

Alessandra concorda. “É muito importante posicionar esse tipo de produto para que se possa enxergar a possibilidade de construir um portfólio com poucos ETFs e BDRs de ETFs, e vai ter acesso a um número maior de empresas e estratégias, de forma diversificada”, afirmou.

E mais recentemente, os ETFs passaram a dar acesso a uma nova classe de ativos: as moedas digitais. Durante o evento, Pedro Lapenta, head de research da Hashdex, ressaltou a possibilidade de investir em fundos listados com a temática dos criptoativos. “Já tem uma complexidade enorme de tratar com blockchain. A ideia é que o produto [ETF] absorva essa complexidade”, afirmou.

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