Volume financeiro: quanto é a média, alto ou baixo – e por que isso importa?
Entenda o que é o volume financeiro da bolsa de valores e como ele pode influenciar na decisão de investidores
Muitos dados são avaliados e divulgados todos os dias por investidores de bolsa de valores. Um que às vezes que pode passar despercebido é o volume financeiro diário, que, porém, pode revelar diversos fatores importantes sobre os investimentos.
O que é o volume financeiro diário da B3
O volume financeiro diário da B3 é o valor total em reais movimentado nas negociações de ativos na Bolsa de Valores brasileira em um dia de pregão. Esse indicador reflete a soma dos valores transacionados em ações, derivativos, títulos de renda fixa e fundos imobiliários, entre outros.
“Por exemplo, se no pregão de um determinado dia foram compradas e vendidas ações de empresas e outros ativos, somando um valor total de R$ 25 bilhões, esse valor será o volume financeiro diário da B3”, aponta Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.
Além disso, o professor aponta que o volume financeiro não se refere apenas às ações, mas também a instrumentos como contratos futuros de dólar e de índices, que frequentemente possuem volumes financeiros expressivos e ajudam a determinar a liquidez do mercado.
“Portanto, o volume financeiro diário é um indicador essencial para entender a atividade do mercado e o nível de participação de diferentes investidores”, afirma ele.
Para quê ele serve
O volume financeiro serve, de acordo com Piellusch, para medir a liquidez e o nível de participação no mercado, ajudando a identificar o comportamento dos investidores. “Quanto maior o volume financeiro, maior é a quantidade de recursos movimentados e, consequentemente, maior é a liquidez do mercado”.
Por exemplo, imagine que, em um determinado dia, o volume financeiro seja de R$ 15 bilhões, enquanto a média do mês anterior tenha sido de R$ 20 bilhões. Esse volume abaixo da média pode indicar um menor apetite de investidores para negociar ativos, o que pode ser causado por incertezas econômicas, falta de eventos relevantes ou feriados internacionais que limitam a participação de investidores estrangeiros.
O professor da FIA ainda destaca que o volume financeiro também é usado para avaliar se os movimentos de preço são sustentáveis. Por exemplo, se uma ação apresenta uma alta de 5% em um dia com volume financeiro significativamente acima da média, isso pode ser um sinal de força do movimento. Por outro lado, uma alta com volume baixo pode indicar fragilidade e falta de confiança do mercado no movimento.
“Por isso, para avaliar o volume financeiro, é importante compará-lo com médias históricas, analisar tendências ao longo do tempo e considerar fatores que possam ter afetado o volume, como resultados corporativos, dados macroeconômicos ou decisões políticas”, ressalta.
Volume financeiro do Ibovespa em baixa
O volume financeiro do mercado à vista na bolsa de valores vem demonstrando baixa nos últimos dois anos. Segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria, o volume financeiro diário médio do quarto trimestre de 2024 (até 21 de novembro), de R$ 18 bilhões, é o menor desde o quarto trimestre de 2019.
Segundo Marco Piellusch não há um valor absoluto para definir se o volume é baixo ou alto, pois isso depende do contexto econômico e histórico. No entanto, pode-se utilizar a média de volumes anteriores como uma referência.
Os dados, contudo, acendem um alerta, diz Einar Rivero, consultor financeiro da Elos Ayta. Para ele, a queda do volume financeiro diário não pode ser ignorada, mesmo com o Ibovespa batendo máximas históricas.
“Nos últimos trimestres, o Ibovespa rompeu barreiras históricas, mas o volume negociado caiu drasticamente. Para se ter uma ideia, em março de 2021, o volume médio diário atingiu R$ 31,9 bilhões, enquanto a pontuação do índice era de 116.633. Agora, a pontuação do Ibovespa está na casa dos 130 mil pontos, mas o volume médio diário despencou para R$ 18,1 bilhões. Parece uma vitória, mas o mercado não funciona assim. Uma alta sustentada por baixo volume de negociação acende um sinal de alerta”, destaca Rivero.
Liquidez e concentração
Para o consultor financeiro, a liquidez é a essência de qualquer mercado eficiente. Quanto maior o volume de negociações, mais fácil é para um investidor entrar ou sair de uma posição sem distorcer o preço do ativo.
“No Brasil, esse é um desafio crescente. Atualmente, apenas 94 ações das 460 listadas na B3 possuem uma liquidez que atrai o investidor estrangeiro — ou seja, movimentam mais de US$ 5 milhões por dia. Isso é preocupante porque os grandes fundos internacionais buscam ativos líquidos, que permitam operações de grande porte sem turbulência”, aponta.
Outro ponto levantado por ele é que quando o Ibovespa sobe com baixo volume, a explicação mais plausível é a concentração. “Poucos players, geralmente investidores institucionais, acabam dominando o mercado. Essa concentração distorce a percepção de valor e torna a alta insustentável no longo prazo. O resultado? Uma volatilidade maior e um risco elevado de correções bruscas”, diz.
Para que a alta do Ibovespa seja robusta, Einar Rivero afirma que ela precisa ser acompanhada por um volume consistente, mostrando que o mercado tem participação ativa e diversificada.
O que explica a diminuição do volume financeiro
O professor da FIA Business School destaca que a redução do volume financeiro na B3 nos últimos dois anos pode ser explicada por uma combinação de fatores econômicos, tanto internos quanto externos, como:
- Taxas de Juros Elevadas no Brasil: Desde 2021, a taxa Selic passou por diversos aumentos, alcançando níveis elevados para combater a inflação. Com a Selic em níveis altos, investimentos de renda fixa se tornaram mais atrativos, oferecendo rentabilidades interessantes com baixo risco. Isso desviou recursos do mercado de ações, diminuindo o volume financeiro. Investidores que anteriormente alocavam recursos em ações e ativos de risco passaram a buscar alternativas mais seguras e igualmente rentáveis, como CDBs, LCIs e títulos públicos.
- Juros Americanos em Alta: A política monetária do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, também impacta diretamente o volume da B3. Nos últimos dois anos, o Fed elevou os juros para conter a inflação, atraindo capital estrangeiro para os títulos do Tesouro americano, que são considerados de baixíssimo risco. Esse movimento de alta nos juros americanos resultou na saída de investidores estrangeiros da B3, o que impactou negativamente o volume financeiro da bolsa.
- Incertezas Econômicas e Políticas no Brasil: A instabilidade política e as incertezas sobre o cenário econômico também influenciam o volume financeiro. Investidores tendem a se afastar do mercado acionário em momentos de incerteza, adotando uma postura mais conservadora e optando por reduzir suas exposições a ativos de risco. A volatilidade política, mudanças em políticas fiscais e preocupações sobre o equilíbrio das contas públicas geram insegurança, diminuindo o apetite por investimentos no mercado de ações.
- Concorrência de Novos Mercados e Produtos: Nos últimos anos, vimos um aumento significativo na oferta de alternativas de investimento, como plataformas de fintechs e o crescimento do mercado de criptomoedas. Essas novas opções acabam atraindo parte dos recursos que, em outros momentos, seriam destinados ao mercado de ações. Além disso, o crescimento de novas bolsas e a possibilidade de investimentos em mercados internacionais também contribuem para fragmentar a liquidez e reduzir o volume da B3.
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