Investir melhor

A difícil arte de falar para quem não está pronto para ouvir


Carol Stange, colunista Bora Investir. Fonte: Arquivo pessoal.

Carol Stange

Educadora e planejadora financeira, especialista e analista em investimentos, Carol Stange atua como multiplicadora do programa “Eu e meu dinheiro” do Banco Central e acumula as certificações CEA (Anbima) e CNPI-T (Apimec), além de ser Consultora CVM, criadora da marca “Como enriquecer seu Filho” e cofundadora do Instituto de Educadores Financeiros.


Em geral, o brasileiro tem medo da bolsa de valores. Muitos acreditam que é um mercado de apostas, com funcionamento semelhante a um cassino, onde só os ricos e muito bem-informados ganham e o risco de perder tudo é muito alto.

Mas a verdade é que a bolsa de valores está longe de ser um predador à espreita do investidor, pronto a abocanhar-lhe todo o seu dinheiro. A bolsa de valores é um mercado onde empresas de todo o mundo levantam capital para crescer e se desenvolver. 

Para investir na bolsa de valores é preciso ter muito dinheiro?

Quando uma empresa oferece cotas de sua empresa ao investidor, é como se estivesse convidando esse investidor a ser seu sócio. E nesse ponto, o mercado de ações é democrático: não importa a raça, gênero, idade, escolha política ou religiosa; também pouco importa se o investidor ainda tem pouco recursos a investir. 

Todos podem se tornar sócios de grandes empresas listadas na bolsa de valores e compartilhar o ônus e bônus dessa escolha com o mercado. Digo, sem sombra de dúvidas, o que a pessoa precisa para investir não é dinheiro; é paciência e estudo.

Mas não são todas as pessoas que estão prontas para receber de braços abertos esse tipo de informação. 

Recentemente, conheci João Alexandre, gerente de filial, residente no interior de São Paulo. Aos 52 anos, João já havia, conforme suas palavras, “tentado a sorte” diversas vezes com a bolsa de valores e em nenhuma das vezes obteve sucesso. 

Após saber que atuo como Planejadora e Consultora Financeira há anos, contou-me alegremente suas desaventuranças no mercado: ora havia investido todo o dinheiro do pai na Telebrás (e mantido sua posição até o final na expectativa de uma virada repentina da empresa), ora havia caído na promessa de crescimento fantástico da OGX, petroleira de Eike Batista, aportando todo o dinheiro que tinha em mãos, inclusive aquele do dia a dia. 

Quando sofreu o baque da perda com a OGX, migrou seus poucos recursos restantes para a Boi Gordo (considerado até hoje um dos maiores golpes financeiros do Agro) na tentativa de se recuperar rapidamente.

Após mais esse susto, escolheu transacionar pequenos valores através de day trade seguindo as orientações do youtuber da vez. Na sua visão, tinha certeza de que se reergueria através das operações de curtíssimo prazo, afinal, tantos ganhavam fortunas dessa forma, por que não ele? Por essa época, chegou a pedir afastamento do trabalho para poder operar de forma centrada e dedicada. 

João contou-me que, pelos seus cálculos, mais de 1 milhão de reais passaram e se foram das suas mãos nessas aproximadas 3 décadas. Para o João, de nada adiantaram meus esforços em explicar-lhe que, antes de começar a investir, é importante aprender sobre o mercado de ações. 

Ler livros, artigos de blogs qualificados sobre o assunto e participar de cursos de educação financeira é imprescindível. Também ele pouco quis saber sobre o velho e sábio ditado popular, aquele de não colocar todos os ovos na mesma cesta, e por fim, de nada adiantou minha mensagem final de que as oscilações fazem parte do jogo do mercado de ações, e que esse não é, definitivamente, um jogo de curto prazo ou de enriquecimento rápido. Investir não deveria causar essa emoção toda. 

A bolsa de valores é um meio para enriquecer rápido?

Eu poderia também ter dito que a bolsa de valores pode ser democrática, sim, mas também é um mercado que exige estudo, paciência e disciplina. Que ela definitivamente não é um cassino, mas que perdas podem acontecer. 

Que é um mercado que oferece oportunidades de crescimento e rentabilidade, mas que não é um caminho para o enriquecimento rápido. Mas nosso colega seguia mais preocupado em falar do que ouvir. 

No meu trabalho, tenho a oportunidade de diariamente conhecer pessoas que seguem uma filosofia diametralmente oposta à do João Alexandre. São pessoas comuns que acumulam dinheiro e rentabilizam esse recurso poupado de forma inteligente na bolsa de valores. 

Essas pessoas estão construindo um futuro tranquilo e financeiramente seguro, diversificando seus investimentos em classes diferentes de ativos, sem grandes emoções e sem expectativas milagrosas de rentabilidade. Infelizmente, nem todos estão prontos para ouvir essa verdade.

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