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ETFs: o que você precisa entender sobre liquidez antes de investir


Einar Rivero. Foto: Divulgação

Einar Rivero

Einar Rivero é engenheiro e especialista em dados financeiros, com carreira dedicada à análise de informações econômicas e à geração de insights estratégicos para o mercado. Ao longo de mais de duas décadas, atuou em posições de liderança em grandes plataformas de dados, consolidando-se como referência em estudos e levantamentos sobre o mercado financeiro brasileiro, América Latina e EUA.


Se você já ouviu falar em Exchange Traded Funds (ETF), os fundos cujas cotas são negociadas no pregão como fossem ações, você sabe que eles são uma maneira simples e prática de investir em vários ativos ao mesmo tempo. O que talvez você não saiba é que existe um ponto fundamental para escolher qual ETF colocar na carteira: a liquidez. É ela que determina com que facilidade você consegue comprar e, principalmente, vender as cotas sem ter de sacrificar o lucro (ou mesmo ter um prejuízo).

No mercado financeiro, “liquidez” é associada ao volume de negociação. Esse é um indicador importante. Em 2019, por exemplo, todos os ETFs negociados na B3 movimentavam em média R$ 550 milhões por dia. Seis anos depois, em 2025, esse volume diário saltou para R$ 1,46 bilhão, quase o triplo do valor original.

Mesmo assim, o universo dos ETFs ainda é pequeno diante do mercado à vista da B3, que movimenta R$ 18,1 bilhões por dia. Ou seja, ainda que a liquidez dos ETFs tenha crescido bastante e de forma consistente, ela representa hoje cerca de 8,08% do total de negócios. Em 2019, porém, esse percentual era ainda menor, apenas 3,62%.

Os ETFs mais líquidos

O crescimento inicial do volume de ETFs negociados não trouxe muita diversificação, mas isso está mudando. Ainda hoje, três ETFs concentram a maior parte das negociações no Brasil: BOVA11, BOVV11 e SMALL11. Juntos, eles representavam 96% de todo o volume de ETFs em 2019.

Essa concentração caiu desde então. Atualmente, esses três ETFs respondem por 73,9% do volume de negócios, sinal de que o mercado começa a se diversificar e que novos fundos estão atraindo investidores. Ainda assim, a força dos grandes permanece. Esses três produtos, sozinhos, movimentam cerca de R$ 1,08 bilhão por dia, o equivalente a 6% de todo o volume do mercado à vista da B3.

Os “fazedores de mercado”

Embora o volume diário seja o indicador mais visível, ele não conta toda a história. A liquidez de um ETF depende também de um personagem muitas vezes desconhecido pelo investidor, o formador de mercado, também chamado de market maker. É uma instituição financeira, banco ou corretora, que compra e vende cotas do fundo para garantir que haja sempre negociações.

O market maker literalmente “faz” o mercado: ele garante que sempre exista um comprador para o investidor disposto a vender e um vendedor para o investidor que quiser comprar. A existência do market maker reduz os spreads, a diferença entre o preço de compra e o de venda, e também diminui o risco de liquidez do investidor.

A presença de um market maker eficiente pode tornar um ETF com pouco volume negociado muito mais líquido do que aparenta. Isso é especialmente relevante para fundos menores ou recém-lançados, que ainda não ganharam tração entre investidores.

Criação e resgate: o mecanismo que evita distorções nos preços dos ETFs

Outro ponto pouco conhecido pelos investidores iniciantes é que a quantidade de cotas de um ETF não é fixa. Diferentemente de uma ação tradicional, que tem um número limitado de papéis em circulação, as gestoras de recursos que emitem os ETFs podem criar novas cotas ou extinguir as existentes conforme a demanda do mercado aumente ou diminua.

Esse processo de criação e resgate de cotas é conduzido pelos chamados participantes autorizados, geralmente grandes instituições financeiras. Quando há muita demanda por um ETF, eles compram as ações que compõem o índice de referência e entregam ao fundo, que emite novas cotas. Quando a demanda cai, fazem o caminho inverso. Retiram as cotas de circulação, as cancelam e vendem as ações no pregão. Esse mecanismo mantém o preço do ETF alinhado ao seu valor patrimonial e evita distorções significativas em relação ao índice que ele replica.

Um mercado em expansão

Os dados de negociação mostram que, apesar de ainda representarem uma fatia modesta do mercado, os ETFs têm avançado com consistência. O volume médio diário cresceu cerca de 170% em seis anos, e a participação no mercado à vista mais que dobrou.

Ao mesmo tempo, a presença de market makers, a diversificação de produtos e o mecanismo de criação e resgate vêm tornando esse mercado cada vez mais eficiente e acessível. Para o investidor pessoa física, isso significa mais alternativas, custos menores e uma ferramenta poderosa para diversificar a carteira sem complicação.

Em um mercado em que a liquidez é sinônimo de agilidade e segurança, entender esses bastidores pode ser a diferença entre investir com consciência ou apenas seguir o fluxo. E com os ETFs se consolidando como porta de entrada na renda variável, essa é uma lição que vale cada linha do prospecto.

*As opiniões contidas nessa coluna não refletem necessariamente a opinião da B3

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