CEO da Melver pede medidas duras contra bets no Brasil: “são um câncer para a sociedade”  

A dimensão dos efeitos da ‘febre das bets’ no Brasil está longe de ser conhecida, mas a avalanche de casas de apostas online vem causando impactos na economia. Dados mostram que mais de R$ 240 bilhões de foram destinados às bets em 2024 no país, assim como 57% dos brasileiros endividados que já apostaram ou apostam online atualmente não estavam inadimplentes antes de começarem a apostar.   

Por esses motivos, Raony Rossetti, CEO e fundador da Melver, fintech de educação, cobra medidas mais duras contra o que chama de um ecossistema “tóxico e cancerígeno” que está sendo chancelado no Brasil. 

“É um problema que precisa ser atacado imediatamente. Não se trata de um projeto que dê um passo após o outro, porque não vai dar tempo. Tem que haver vários passos acontecendo ao mesmo tempo. Por isso, a importância de medidas políticas mais enérgicas para cortar o problema”, afirma.  

Raony ainda destaca que não é uma “uma tacada de gênio” que irá resolver o problema, dado o ritmo com que as bets cresceram no país. Por isso, ele acredita em medidas mais definitivas no curto prazo. 

“É preciso proibir. As bets são um câncer para a sociedade. É uma expressão dura, mas é o que é. Elas são um câncer que se não for retirado rapidamente pode virar algo muito maior, muito mais difícil de ser resolvido depois”, ressalta.

“É o tipo de coisa que ou você corta pela raiz ou você chancela. Enquanto times de futebol, a paixão nacional, forem patrocinados pelas bets, elas vão estar nos principais canais de veiculação, estar na camisa e na propagando de heróis de muitas pessoas. Isso é uma chancela. Se o meu herói fala que pode, se está escrito na camisa dele, então pode”, completa. 

Educação financeira como antídoto para as bets 

De acordo com o CEO, a falta de educação financeira no Brasil tem gerado consequências graves para a sociedade, e a viralização das bets é uma delas. Para ele, o crescimento da indústria de apostas esportivas é sintoma de uma sociedade desinformada sobre finanças. 

“Sem educação financeira, muitos jovens entram nesse universo sem compreender plenamente os perigos do vício, a alta probabilidade de perdas e o impacto negativo no orçamento familiar. A combinação de acessibilidade às plataformas de apostas e a falta de preparo financeiro coloca milhões de brasileiros em risco de endividamento crônico”, diz. 

Assim, para combater essa epidemia, Raony afirma que é necessário tomar ações integradas que vão além da regulação desse mercado. “Exige um compromisso coletivo para garantir que a educação financeira seja uma prioridade em todas as etapas da formação escolar”.  

O CEO afirma que o primeiro efeito de uma educação financeira vinda da base é o consumo consciente. E que as pessoas em geral não conhecem a equação mais simples e mais importante das finanças, que é:

• Quanto entra de salários – quanto se poupa = quanto se gasta.  

“Essa simples equação de subtração pode mudar por completo a visão de uma família. Ela faz com que as pessoas passem a ter um consumo diferente, se perguntem se o que compram faz sentido, se é necessário ou é supérfluo. ‘Preciso mesmo disso ou é algo que eu desejo, e que eu devo criar um plano para conquistar esse desejo?’ Trata-se de um trabalho de mentalidade financeira, que vai além de qualquer planilha complexa”, relata. 

Para ele, esse entendimento faz as pessoas projetarem um futuro diferente e incentiva a consciência de que a realidade delas não necessariamente significa o futuro. “Traz uma visão de prosperidade, de tirá-las de uma zona nociva de conforto e suposta estabilidade”. 

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Educação financeira desde a base 

Raony Rossetti diz acreditar ainda que as escolas desempenham um papel muito significativo nesse contexto, pois têm o poder de transformar a relação das próximas gerações com o dinheiro.  

“O ensino de conceitos como planejamento financeiro, consumo responsável e investimento desde cedo ajuda a criar uma base sólida para escolhas conscientes. Soma-se a isso iniciativas que envolvam os pais e a comunidade escolar para ampliação do impacto, garantindo que os valores transmitidos na sala de aula sejam replicados no dia a dia das famílias”, ressalta. 

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Por acreditar nisso, o CEO ‘levantou a bandeira’ do analfabetismo financeiro zero, e criou o projeto Melver nas Escolas, que visa implementar um programa de educação financeira que englobe professores, alunos e pais ao mesmo tempo. 

“É um projeto que busca atacar as três frentes, já que os professores são os multiplicadores que geram a conscientização do aluno e a aplicabilidade com os pais. Dessa forma, a gente começa a construir um futuro diferente por meio das crianças e jovens, e ataca o presente por meio dos pais e dos professores”, aponta.   

O projeto é feito por meio de materiais específicos para professores e alunos do ensino fundamental 1 e 2, e contam com material impresso e digital para atividades em família, assim como, consultorias de implementação. 

“O projeto começou há dois anos com o apoio da secretaria de educação da prefeitura de Florianópolis, entrando nas escolas da rede municipal, dando aula de fato. Foi um grande laboratório, um trabalho de campo, dentro de sala de aula, conversando com muitos professores das mais variadas disciplinas da rede pública e privada, para entender qual era o grau de consciência das crianças, o que elas estavam aprendendo”, conta ele. “Tudo isso para levar a educação financeira de um jeito leve e agradável, para que seja uma das matérias preferidas das crianças”. 

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