“O Méliuz mudou”, diz fundador. Entenda a nova estratégia da empresa
Confira a entrevista com Israel Salmen, fundador e presidente do conselho do Méliuz
O Méliuz, primeira startup do Brasil a realizar IPO na B3, entrou a partir de agora em uma nova fase. A empresa realizou um follow-on nesta semana, que levantou R$ 180 milhões, e pretende destinar os recursos captados para a compra de Bitcoin. Trata-se da nova estratégia da companhia, que se torna a primeira Bitcoin Treasury Company.
O que isso significa? Que seu objetivo passa a ser o de acumular mais bitcoin ao longo do tempo. “O que aconteceu na prática é que o Méliuz mudou. Até ontem a missão era conectar usuários com lojas, gerar vendas para os parceiros e gerar serviços financeiros para a base de usuários. Isso passa a algo secundário na nossa história. A nossa missão agora, enquanto companhia, passa a ser acumular mais bitcoin”, diz Israel Salmen, fundador e presidente do conselho do Méliuz.
Para que essa mudança fosse possível, foi necessário aprovar a estratégia junto aos acionistas em uma assembleia geral extraordinária, criar novas estruturas de custódia dos ativos, e até olhar para diferentes métricas financeiras, como o bitcoin yield.
“O bitcoin tem características até melhores do que o ouro, que durante muito tempo foi a principal reserva de valor do planeta. Estamos super animados aí com essa nova fase, é um momento de ouro pro bitcoin. Eu acho que isso é realmente é o começo”, diz o executivo.
Em entrevista ao Bora Investir, Israel detalhou a nova estratégia, falou dos desafios e da visão de futuro para o Méliuz. Confira a entrevista completa:
Bora Investir: Como surgiu a ideia de alterar a estratégia para o caixa da companhia e passar a investir o caixa do Méliuz em bitcoin?
Israel Salmen: No ano passado, nos vimos em uma situação em que estávamos com um volume de caixa muito grande, e que não havia uma destinação muito clara. Ao longo do ano inteiro estudamos o que fazer com esse caixa, se a gente ia olhar para M&A, se a gente ia investir mais no core business, se a gente ia voltar a queimar caixa para crescer. A gente estava olhando uma série de oportunidades, mas tinha um custo de oportunidade grande, porque a gente mantinha o dinheiro investido no CDI, na renda fixa.
Mas ao mesmo tempo, tínhamos de pagar um imposto de 34% sobre o lucro. Então, o nosso rendimento do CDI era menor do que 70% do CDI, no final do dia. Isso era bem prejudicial para o caixa e para os nossos acionistas, a gente tinha que fazer alguma coisa.
Chegamos a distribuir R$ 430 milhões para os acionistas, e depois a gente ainda tinha entre R$ 240 e R$ 250 milhões. Foi quando começamos a estudar mais a fundo o que algumas companhias fora do Brasil estavam fazendo.
O principal exemplo é a MicroStrategy, nos Estados Unidos, que decidiu fazer do bitcoin o principal ativo de reserva de valor da tesouraria.
Bora Investir: E o que justifica essa estratégia?
Israel: Tem a questão dos impostos sobre os rendimentos da renda fixa. E há uma crença de que a expansão constante da base monetária feita pelos países, seja os Estados Unidos ou pelo Brasil, acaba sendo o real preço da inflação, não os índices divulgados. Então, a gente via um retorno negativo do nosso dinheiro.
Vimos no Bitcoin essa oportunidade. O Bitcoin é um ativo que nos últimos 10 anos se valorizou 70% ao ano em dólar. E para a gente, o Bitcoin tem todos os requisitos necessários para guardar esse valor no tempo. Estamos confortáveis também com a volatilidade desse ativo no curto prazo. Porque de certa forma é justamente essa volatilidade que nos permite acessar o mercado de capitais para levantar mais dinheiro da forma que gente acabou de fazer. Essa volatilidade acaba sendo importante. No momento que muitos correm da volatilidade, a gente está meio que correndo a favor dela.
Bora Investir: Apesar das oportunidades que a volatilidade traz, ter o caixa da empresa investido em um ativo volátil traz desafios diferentes na gestão financeira?
Israel: Sem dúvida nenhuma altera o risco da companhia. Tivemos que atualizar todo nosso formulário de referência, sessão de riscos e tudo. E a gente teve que pegar uma autorização da maior parte dos acionistas. Procuramos fazer isso da melhor forma possível, de forma bem transparente com o mercado, falando dos riscos, mas também da oportunidade que isso poderia trazer. E levamos esse tópico para uma AGE. Tivemos o maior quórum da nossa história desde o IPO numa AGE, e 99,3% dos votos válidos aprovaram a mudança de estratégia. Fizemos essa mudança sempre lado a lado com os nossos acionistas, e eu acho que era a maneira certa de fazer mesmo.
Dito isso, tem todas as particularidades de custódia desses ativos. Não é só colocar num banco, você tem que ter todo um aparato de segurança. Mas estamos seguindo as melhores práticas, as mesmas que as empresas lá de fora utilizam para guardar esses ativos, e as melhores práticas utilizadas pelos próprios ETFs de bitcoin, que também precisam guardar esses bitcoins em algum lugar.
Construímos uma estrutura, há uma série de regras para a fazer a gestão desse dinheiro da melhor forma possível, de forma segura. E diga-se de passagem, é algo que a gente já vinha fazendo desde 2021, quando compramos uma corretora cripto. Então de certa forma a gente já tinha esse know-how dentro de casa.
Bora Investir: Olhando para médio e longo prazo, o que você acha que essa mudança de estratégia pode trazer de diferencial para o Méliuz?
Israel: O que aconteceu na prática é que o Méliuz mudou. A nossa missão agora, enquanto companhia, passa a ser acumular mais bitcoin. Até ontem a missão era conectar usuários com lojas, gerar vendas para os parceiros e gerar serviços financeiros para a base de usuários. Isso passa a ser algo secundário na nossa história. Todas as empresas que fazem parte do grupo são agora uma forma adicional de geração de caixa para comprar bitcoin.
O objetivo da empresa listada é ser um veículo para adquirir bitcoin. E a gente vai usar não somente da geração de caixa, mas também o mercado de capitais para fazer, por exemplo, follow-ons, para gerar bitcoin de forma assertiva para os acionistas. Temos uma métrica que chama bitcoin yield, que é a quantidade de bitcoin que a gente tem por ação, e a nossa meta é ter sempre mais. Por mais que eu faça follow-ons, a ideia é que cada ação te dê direito a mais bitcoins.
Bora Investir: Além dessa mudança de estratégia, qual o momento da companhia hoje? E qual sua visão de futuro?
Israel: Olhando para frente, a gente está hoje numa posição que a companhia consegue crescer e gerar caixa ao mesmo tempo. A principal meta dos CEOs das empresas do grupo é geração de caixa – que será utilizado para comprar bitcoin para o grupo como um todo. O objetivo da companhia é continuar crescendo de forma eficiente, gerando caixa e destinando esse caixa gerado para compra de bitcoin.
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