Entrevistas

“O mercado cripto fica cada vez mais parecido com o mercado de bolsa”, diz head de digital assets do BTG Pactual

André Portilho comenta o desenvolvimento do mercado e a que o investidor deve se atentar antes de investir

André Portilho, head de digital assets do BTG Pactual
André Portilho, head de digital assets do BTG Pactual

“Eu não repito a tese de que o bitcoin é um ativo muito volátil”, diz André Portilho, head de digital assets do BTG Pactual, contrariando o que muita gente pensa sobre o mercado de criptoativos. Segundo ele, a volatilidade tem caído gradativamente e hoje é menor do que “grande parte de ações da Nasdaq”, como as de biotecnologia. Mas Portilho faz o adendo: isso não quer dizer que a volatilidade não seja algo a ser analisado antes de se fazer um investimento.

Segundo ele, a avaliação sobre aportar ou não em criptoativos é muito similar a qualquer outro investimento. Depende do portfólio e perfil de cada um.

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Para o especialista, o mercado de criptoativos tem se desenvolvido e cada vez mais se assemelha a outros mercados mais tradicionais, como o de bolsa. Com a aprovação, na semana passada, de ETFs de bitcoin à vista nos EUA, isso fica mais visível. É mais um instrumento que permite aos investidores as mais diversas estratégias, como a combinação da compra de ativos à vista e contratos futuros, por exemplo.

Em entrevista online ao Bora Investir, Portilho falou diretamente de Davos, onde participou do Fórum Econômico Mundial, e comentou também como tem visto as discussões por lá. Confira os trechos da conversa:

Bora Investir: Muita gente colocou a aprovação do ETF de bitcoin, na semana passada, como um marco para o mercado. Para você, isso muda a perspectiva de investimentos no setor?

André Portilho: Não sei se eu chamaria de marco, mas foi um evento muito importante. Primeiro, pela dificuldade, o primeiro pedido para ETF de bitcoin foi feito em 2013. E é um evento muito importante, porque abre a classe de ativo de cripto, começando com o bitcoin, para todo o mercado americano para quem não acessava, e estou falando tanto de investidores institucionais quanto o varejo.

Mas vou um pouco além. A gente tem o efeito de primeira ordem, que é o de ampliar o acesso a essa classe de ativos via canais normais que o investidor já tinha. Mas pela característica das empresas que fizeram os ETFs, temos também um efeito de segunda ordem, que é a força de venda de empresas como BlackRock e Fidelity, que vão começar a falar de cripto no processo de vendas deles. Você tem um produto novo e você vai ter um discurso de venda para aquele produto.

Bora Investir: Você comentou que os ETFs estão começando com o bitcoin, mas que há espaço para ETFs de outros criptoativos. Qual a sua visão sobre quais são os outros criptoativos a que os investidores devem se atentar?

André Portilho: Dado o estado da indústria, a tese de bitcoin é claramente bem diferente das outras teses. O bitcoin cada vez mais se consolida como um ativo global menos correlacionado com as outras classes de ativos e que vai ser importante na alocação de portfólio de investidores. No próximo momento você vai ter provavelmente o ethereum, e aí você traz outra narrativa, que é completamente ligada à tecnologia. Essa tecnologia vai trazer novas infraestruturas para a indústria financeira.

E querendo ou não, o mercado cripto fica muito mais parecido com o mercado que a gente tem hoje, por exemplo, de bolsa. No caso da bolsa, se você quer ter exposição a ela, você pode entrar em um fundo ativo, em fundo passivo, via ETF ou comprar diretamente. Cada vez mais o mercado de cripto parece com isso.

Bora Investir: Para uma pessoa que está pensando em investir em criptoativos, o que é preciso saber e o que analisar nesse mercado antes de investir?

André Portilho: Isso não vale só para cripto, mas para qualquer investimento. A pessoa precisa entender o que está fazendo, que tipo de investimento é esse, o que ele representa. O que representa comprar bitcoin, seja via ETF, seja via um fundo, seja diretamente em uma exchange. O que é esse ativo? O que representa? O que ele pode adicionar em termos de risco e torno na carteira dela? O que faz o valor daquele ativo subir ou cair? Essa é a primeira coisa.

Eu não repito muito a tese de que é um ativo muito volátil, a volatilidade do bitcoin só cai e se você comparar, o bitcoin é bem menos volátil que uma grande parte das ações da Nasdaq. Mas você precisa entender o nível de volatilidade que você vai ter em um criptoativo para saber o quanto vai alocar.

É o que o mercado chama de suitability, o perfil do investidor. No fim das contas, isso significa saber se você tem estômago para ter mais risco ou se não vai dormir de noite se a sua posição estiver mexendo muito. Então você tem que dosar isso tudo no tamanho da alocação.

Bora Investir: Você está em Davos, no Fórum Econômico Mundial. O que teve de desenvolvimento na discussão sobre cripto esse ano?

André Portilho: Davos é interessante que é onde sentimos para onde o vento está soprando. Quando eu estava aqui em 2019, era cripto em tudo quanto é lugar, o mercado estava num boom. No ano passado e nesse ano, está mais contido. A discussão sobre cripto está muito mais sóbria. Vemos menos empresas de cripto aqui e nos painéis e reuniões de que participei, a conversa está muito mais madura, e temos muito mais empresas tradicionais participando junto das empresas de cripto. Agora que vemos quais são as aplicações que de fato vão trazer a tecnologia para gerar benefício para o cliente final e para o mercado.

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