Entrevistas

“Quero chegar a R$ 1 milhão até os 40 anos”, diz Fernando Campos

Escritor, jornalista e influenciador digital, Campos conta sua trajetória de vida e como equilibra as contas com gestão consciente do dinheiro

Com humor e leveza, Fernando Campos conta ao B3 Convida sua trajetória de vida desde a descoberta do câncer na retina até os planos para o futuro. Ele contou também seus planos com relação aos investimentos. “Eu quero chegar a R$ 1 milhão até os 40 anos. Se Deus quiser, eu chego antes. Eu tenho esse planejamento com muita cautela e tento sempre ter orientação, sempre converso com minha família e vou em frente”, afirma.

Campos nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, e fez intercâmbio no Reino Unido em 2014. Ele escreveu um livro “Enxergando além do Atlântico – Uma jornada ao Reino Unido”. Além disso, sua família construiu uma ONG de apoio às crianças com deficiência e às suas famílias, chamada Casa Durval Paiva.

Confira trechos da entrevista a seguir.

Infância

“Eu perdi a visão aos dois anos em decorrência de um câncer na retina, um retinoblastoma, que é mais comum na infância, mas é raro. A gente nunca espera que o câncer vá acontecer com a gente. Foi um baque. A minha família é muito aguerrida. Eu costumo dizer que nós todos, para estarmos vivos, precisamos dar muitas cambalhotas. O câncer foi um divisor de águas. Mudou a vida de todos nós. Eu brinco que eu nunca tinha sido cego antes e nem minha família e a gente teve que aprender sem manual de instrução”.

Como ter uma ONG mexia com a dinâmica financeira em casa?

“Eu não tive educação financeira de ter mesada. Meus pais me davam um dinheiro quando eu merecia, com aquele discurso ‘Acha o que? Que dinheiro dá em árvore?’. Eu tinha aquela consciência de que as coisas tinham um preço, mas nunca nada planejado. Quando a gente vai crescendo vamos tendo mais diálogo. Quando eu fiz intercâmbio, foi a primeira vez que tive a noção de que o pessoal da agência disse que 200 libras era suficiente para um mês, então eu segurava a onda e fazia ele render. Se eu desperdiçasse o dinheiro dos meus pais, eu tinha um peso na consciência muito grande. Eu lembro que fui pegar um carro de aplicativo e me atrapalhei na tarifa dinâmica e paguei R$ 70 por uma corrida que era R$ 15. Sou de classe média, nunca me faltou nada, mas eu sempre tive essa consciência de que precisamos trabalhar para ter. O fato de crescer junto com a Casa Durval Paiva sempre me trouxe uma noção de realidade para além da minha bolha, porque eu sou um mauricinho, eu convivia com realidades muito diversas, com crianças vulneráveis. 2 mil famílias já foram atendidas na Casa. Quando uma criança é diagnosticada, a família toda adoece. Então, trabalhamos com uma equipe multidisciplinar para acolher todos, porque todas as frentes são fundamentais. Uma criança com câncer não pode ter uma infecção no dente, porque ela irá passar por quimioterapia e radioterapia, e as defesas imunológicas dela ficarão baixas e ela pode morrer em decorrência de uma cárie”.

Como começou a ideia da ONG?

“Ela começou pequena. É uma construção, assim como toda empresa, porque o olhar que temos na equipe é de empresa, apesar da filantropia. É uma equipe de excelência. Eu fiquei na Casa Ronald McDonald, e quando meu avô foi lá, ele e meu pai se olharam e combinaram de levar a ideia da Casa para o Brasil. ‘Vamos abrir uma dessa lá em Natal’. Meu avô já tinha comprado a primeira casa e depois passou para o meu pai. Nós buscamos profissionalizar esse cuidado com os filhos, entendendo as necessidades, as barreiras, e hoje a casa está cada vez maior. O espaço é equivalente a seis casas. Temos a casa dos ofícios, para as mães, enquanto a criança está em foco, a mãe também recebe um apoio, com cursos de doces, de salgados e isso gera renda para aquela mãe. Além de um acompanhamento psicológico para que toda a família esteja estruturada. A mãe tem outros filhos além daqueles que estão com câncer, então a família precisa ficar firme”.

Como foi sua decisão de ser jornalista?

“Tudo foi natural. Meu pai tinha o trabalho dele e a Casa Durval Paiva. Eu fui entendendo tudo com o decorrer da vida. Eu fui amadurecendo e esse momento com o Faustão foi um divisor de águas, quando fomos contemplados com o Criança Esperança. Eu tenho outra dimensão hoje, do impacto dela. A Casa é maior do que nós mesmos. Nós vamos, e ela vai ficar. É um legado. Eu não tinha paixão por jornalismo. Eu queria fazer teatro. Minha família [falava] aquela coisa, a arte é tão difícil de viver. Então, eu sou comunicativo e então o que vou fazer? Fiz vestibular de jornalismo e passei, então fui estudar. Eu fui cursando, mas não me apaixonava. Eu fui me apaixonar depois que me formei, quando pude entrevistar pessoas e contar histórias. Não foi para ter espaço para falar. Isso foi mais como influenciador, onde percebi a janela que eu tinha. Eu me formei em jornalismo e não sou um exemplo de superação. Todos somos exemplo de superação. O capacitismo ganhou força há pouco tempo, da pandemia para agora. Eu me formei sem nunca ter ouvido isso”.

Como usar esse lado mais comunicativo a seu favor?

“Eu comecei a ser palestrante. Fui gostando de contar histórias motivacionais, com PCD de forma embrionária e a questão do câncer, tudo o que permeou minha trajetória. Mas começaram a surgir as palestras e pensei em como divulgar? Na época, estava em alta ter canal no YouTube. Vamos começar a falar da minha vida, comecei a entrevistar artistas e me reaproximei do jornalismo”.

Como foi o intercâmbio?

“Rendeu muitos frutos para além do inglês. Eu fui com minha prima, mas morávamos em casas separadas. Ela no intercâmbio dela, e eu no meu. Eu vivi muitos perrengues. Quando comecei a cogitar a ideia de ir para o intercâmbio no Reino Unido, muitas pessoas me falaram para ir anotando tudo, porque renderia um livro. Eu estava lá, escrevendo dois dias sim, e quinze não. Eu fui em 2014 e lancei [o livro] em 2021, mas não tinha como lançar por causa da pandemia. E a sessão de autógrafos foi no estilo drive-thru”.

Lá fora o perrengue é chique?

“Perrengue é perrengue sempre. O intercâmbio é um hiper privilégio. São perrengues que trouxeram aprendizados para minha vida. Uma vez teve um episódio em que uma das nossas colegas é muçulmana, então ela não podia ser tocada por ninguém que não fosse o marido dela ou o pai. Um dia ficou apenas eu e ela na casa e tínhamos que ir para a escola, e eu precisava que alguém me guiasse. Então, eu dobrei minha bengala e falei que ela podia segurar de um lado, e eu, de outro, assim não tocaria nela. Chegamos atrasados na escola, eu com o coração na boca, mas o que importava era essa superação, cada um com sua limitação”.

Quais dificuldades enfrentou no intercâmbio em termos de acessibilidade?

“Quando falamos em acessibilidade, logo pensamos em rampa e elevador. Mas na verdade é dar acesso. Então, vai desde as barreiras que precisam ser enfrentadas, desde a calçada ampla e lisa até o sinal do semáforo com som. Agora falando de Brasil, o professor tinha que sair preparado para ensinar qualquer aluno da faculdade. Toda a educação tem que ser inclusiva, mas ela não é, na prática. O profissional precisa chegar ao mercado preparado, e não aprender no começo do ano letivo ao ver que irá ensinar alguém com deficiência”.

Como estão seus planos financeiros para o futuro?

“Eu juntei um dinheiro legal, tenho meu pé de meia. Hoje em dia tenho mais consciência. Antes meu dinheiro ficava parado na poupança, perdendo dinheiro. Meus amigos conversaram comigo e coloquei R$ 1 mil em um investimento, que foi se multiplicando lentamente. Eu fui muito arrojado, mas sou super conservador. Fui ganhando confiança porque não entendo muito e nem acho que irei entender tudo. Eu tenho uma consultora financeira que me orienta e me oferece alguns produtos com base nas minhas metas. Eu quero chegar a R$ 1 milhão até os 40 anos. Se Deus quiser, eu chego antes. Eu tenho esse planejamento com muita cautela e tento sempre ter orientação, sempre converso com minha família e vou em frente. As pessoas têm muito medo de perder dinheiro. É realmente importante que você busque um lugar de confiança, um assessor financeiro que lhe passe confiança e você entenda minimamente o que é explicado”.

E o surf?

“Eu comecei tem pouco tempo no surf, tem dois anos. Uma amiga foi surfar e eu fui ver como era isso. Eu pensava que para se equilibrar tinha que visualizar alguma coisa. Mas eu entendi que é muito mais sobre técnica. Eu não sou surfista, eu entro para pegar onda no mar sempre com um professor, e pego marolinha. É um momento de conexão com a natureza. Sentia falta da natureza em São Paulo. É uma selva de pedra. Então, eu gosto muito do mar”.

Assista a entrevista na íntegra

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