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Ataques em Brasília trazem incertezas e volatilidade para o mercado brasileiro

Atos antidemocráticos podem afastar investidores do país e elevar os prêmios de risco para os ativos brasileiros

Manifestação com inúmeras pessoas vestindo verde e amarelo frente ao Palácio do Planalto em Brasília
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 A semana começou movimentada no mercado brasileiro diante dos atos antidemocráticos realizados por radicais neste domingo, 08/01, em Brasília. O grupo, que passou meses acampado em frente ao Quartel-General do Exército do Distrito Federal, invadiu e depredou os prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.

 Os economistas são unânimes em dizer que os ataques a democracia brasileira vão trazer incertezas e instabilidade ao mercado do país. A percepção de risco passa principalmente pelos investidores estrangeiros – que traçam paralelo entre o episódio de ontem e a invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 2021.

“Apesar dos possíveis paralelos que possam ser feitos com os ataques ao Capitólio, a situação do Brasil é diferente, dado que somos um mercado emergente que depende mais de 50% do volume de operações em bolsa do investidor estrangeiro. A percepção de uma instabilidade institucional pode afastar esses investidores”, afirma Lorena Laudares, mestre em ciência política e Head de Estratégia da Órama.

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O estrategista da RB Investimentos afirmou que já há uma repercussão negativa nos investimentos. Gustavo Cruz traçou um paralelo do mercado entre as eleições – onde apesar do ambiente instável não houve protestos – e agora após os atos de radicais.

“Nas eleições, havia aversão a risco dos investidores estrangeiros, e quando não houve protestos entre os turnos, aconteceu uma onda de compra da bolsa brasileira. Entendo que agora vai acontecer um movimento inverso. Dado que expressaram esse tipo de preocupação durante o primeiro turno das eleições, agora haverá um fluxo negativo, de saída de investidores do Brasil”, explica.

 O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, afirmou que do ponto de vista econômico o risco é que os atos levem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a abraçar as partes mais à esquerda de sua agenda.

“As implicações da invasão do Congresso do Brasil por manifestantes ontem são principalmente políticos. Mas os tumultos podem resultar em prêmios de risco de longa duração para os ativos financeiros do país, principalmente se elas fizerem o presidente Lula reforçar a aposta em sua agenda econômica”, disse em nota.

Para os economistas da LCA Consultores, a reação forte da sociedade para condenar os atos de vandalismo deve fortalecer o presidente Lula, que prometeu ação firme contra este grupo de radicais.       

“Assim, os efeitos negativos nos preços dos ativos poderão ser mitigados. O risco é a ocorrência de outros grandes atos de vandalismo. Ambiente externo positivo também ajuda”, afirmaram.

 A visão também é compartilhada pelo J.P. Morgan, em relatório dos estrategistas Emy Shayo Cherman, Cinthya M Mizuguchi e Pedro Martins Junior.

“Enquanto o presidente se fortalece e a oposição se enfraquece, pode haver radicalização da esquerda, talvez influenciando a agenda mais do que se imaginava, embora o Congresso continue dominado por partidos de centro que, ao menos na teoria, seriam uma força contra a radicalização.”

Investidores: o que fazer?

A Head de Estratégia da Órama afirma que os rumos dos mercados nos próximos dias serão definidos pela capacidade das instituições brasileiras de conseguir evitar novos atos de vandalismo e reestabelecer a ordem pública. Pelo lado dos investidores, mais do que nunca, a dica é manter uma carteira diversificada.

+ O que os investidores devem esperar de 2023?

“Reforçamos a importância de uma carteira diversificada para momentos de incerteza como o atual. A composição do portfólio com classes de ativos distintas ajuda a proteger o patrimônio do investidor”, alerta Lorena Laudares.

Medidas tomadas pelo governo e justiça

Na manhã de hoje, a Polícia Militar do Distrito Federal e o Exército fizeram uma operação no Quartel-General do Exército, em Brasília, para desmontar o acampamento de radicais. Cerca de 1.200 pessoas foram detidas e retiradas do local em 40 ônibus. O grupo foi levado à Superintendência da Polícia Federal, onde as pessoas devem passar por uma triagem.

O grupo estava no local desde o segundo turno das eleições, e não aceitava o resultado do pleito. A operação cumpriu a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que determinou que o fim de acampamentos radicais.

Os manifestantes presos neste domingo, após os atos antidemocráticos, começaram a ser transferidos hoje para o Complexo Penitenciário da Papuda e para a Penitenciária Feminina do Distrito Federal. A Polícia Civil informou que 300 pessoas foram encaminhadas ao Departamento de Polícia Especializada (DPE), e 204 foram efetivamente presas por envolvimento nos ataques.

Ontem, o presidente Lula decretou intervenção federal para assumir a segurança do Distrito Federal. Já o governo do DF pediu a prisão de Anderson Torres, que respondia pela segurança em Brasília. O ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) por, pelo menos, 90 dias. Quem assume o cargo é a vice, Celina Leão (PP).

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