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Copom fala de incerteza sobre juros nos EUA e reafirma importância de política fiscal

Para analistas, a ata teve tom neutro e reforçou compromisso do Copom em levar reancorar expectativas de inflação

A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que manteve a Selic em 10,50% ao ano, trouxe novidades e reafirmou mensagens já mencionadas em comunicados anteriores. Entre as novidades, estão a elevação da projeção para a inflação no cenário de referência e o aumento da estimativa de juro neutro no Brasil. Além disso, a ata voltou a destacar as incertezas sobre o ciclo de queda de juros nos EUA e as preocupações com a trajetória da dívida do País.

Na avaliação do economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, o tom foi neutro, mas o documento trouxe algumas evidências um pouco mais duras. “A direção principal é que o ambiente ficou mais complexo, e que rodando o modelo com juros caindo, a inflação fica acima da meta, mas com juros parado, fica na meta. Então eles vão deixar parado”, resume o economista.

Para o Bradesco, a principal mensagem é que o colegiado está comprometido em reancorar as expectativas de inflação. Para o banco, esse sinal deve ser suficiente para levar o IPCA para próximo da meta no ano que vem. “Em nosso cenário, o firme compromisso do Copom com a meta de inflação de 3,0% vai dar resultado”, diz o Bradesco, em relatório. “Projetamos inflação do IPCA em 3,1% no ano de 2025, abrindo espaço para retomar o ciclo de afrouxamento monetário no segundo semestre do ano que vem.”

Segundo a ata, a projeção para o IPCA de 2024 está em 4,0% no cenário de referência. Na reunião de maio, a instituição previa um IPCA de 3,8% este ano, já acima do centro da meta, de 3%.

Para 2025, que já tem maior peso nas decisões de política monetária, a projeção é de 3,4% – acima do alvo central de 3,0% para o ano –, também uma elevação em relação à estimativa divulgada no encontro de maio.

Além disso, o Copom trouxe um cenário alternativo, em que a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, com projeções de IPCA de 4,0% em 2024 e de 3,1% em 2025.

O cenário de referência pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,15 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, a premissa é de que o barril de petróleo siga aproximadamente a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e suba a 2% ao ano na sequência. O BC ainda considera a hipótese de bandeira tarifária verde na conta de luz para o fim de 2024 e de 2025.

Copom destaca incerteza em relação ao ciclo de queda dos juros nos EUA

A ata mantém a avaliação de cenário externo adverso, principalmente em função das incertezas em relação ao ciclo de queda dos juros dos Estados Unidos e à persistência do processo de desinflação nas principais economias.

O Copom voltou a reiterar, entretanto, que “não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica”. Por isso, o colegiado focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna. “Um cenário de maior incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica, devido à possível ocorrência de movimentos mais abruptos no cenário prospectivo”, diz.

Comitê reforça importância de fiscal crível

O Comitê reafirmou que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e a redução dos prêmios de risco, o que impacta a condução da política monetária. Por isso, o colegiado monitora “com atenção” como os desenvolvimentos recentes da política fiscal vão afetar a política monetária e ativos financeiros.

“Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, diz o documento.

Em avaliação unânime, o Comitê destacou a perseguição da reancoragem das expectativas de inflação “independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada”. Essa reancoragem é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta.

“O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”, diz a ata. O Copom, por fim, diz que “não se furtará” do compromisso para atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas nessa dinâmica.

Estimativa de juro real neutro aumenta de 4,5% para 4,75%

A ata também mostra que o Copom aumentou a sua estimativa de taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%. A projeção do BC estava estável desde meados do ano passado.

“Em função da incerteza intrínseca e da própria natureza da variável, o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta e que tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. Nesse contexto, o Comitê elevou marginalmente a hipótese de taxa de juros real neutra em seus modelos para 4,75%”, diz a ata.

Economistas do mercado vinham debatendo a possibilidade de um ajuste da taxa neutra de juros desde o início deste ano. Mesmo com o ajuste divulgado hoje, a estimativa do BC permanece abaixo das projeções da maior parte do mercado, que trabalha com um valor mais próximo de 5% para a variável. Alguns profissionais consideram que a taxa neutra do Brasil pode estar mais próxima de 6%.

*Com informações da Agência Estado

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