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Copom confirma que manterá cortes de 0,5 p.p. na Selic e suaviza divergências

Ata da reunião explicou as discordâncias entre os diretores sobre a queda dos juros. Tom foi considerado duro pelo mercado

Copom. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil
O livro de registros do Copom, o Comitê de Política Monetária. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira, 08/08, a ata da reunião na semana passada que reduziu em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros, a Selic, para 13,25% ao ano.

No documento, o colegiado avaliou que ambos os cortes colocados na mesa (0,25 p.p. ou 0,5 p.p.) eram “compatíveis com a convergência da inflação para a meta” nos próximos anos.

Os cinco membros que votaram pelo corte maior argumentaram que esse ritmo não iria atrapalhar o cumprimento da meta de inflação e a credibilidade da política monetária.

Já os outros quatro, que votaram pela redução de 0,25 p.p, consideraram que não houve mudanças relevantes nas projeções que justificassem reavaliar a sinalização de “cautela e a parcimônia” indicada nas reuniões anteriores.

Apesar dessas divergências de cenário, o consenso é de que ainda existem sinais na economia que pedem uma postura mais conservadora do Copom. São eles:

  • Projeções de inflação no longo prazo (2024 e 2025) ainda longe da meta de 3%;
  • Núcleos de inflação, medidas que buscam captar tendências ao excluir do cálculo itens mais voláteis como alimentos e combustíveis, ainda acima do desejado;
  • Inflação de serviços ainda acima da meta, o que mostra uma economia resiliente.

Segundo a ata, era consensual que esse cenário “requer uma postura mais conservadora ao longo do ciclo de flexibilização da política monetária [corte dos juros]”, afirmou o BC.

Tom mais duro da ata

Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, a ata do Copom trouxe um tom mais duro, reforçando o cenário de cautela mesmo com a escolha do corte de 0,50 p.p.

“O Copom volta a mencionar o ajuste fiscal, ainda incerto, e possíveis políticas parafiscais, como crédito direcionado, que podem manter a atual desancoragem parcial”.

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O head de pesquisa macroeconômica da Kínitro, João Savignon, concorda com a firmeza do tom adotado pelo Comitê, principalmente ao falar dos próximos passos da política monetária. “[O Copom] coloca uma ‘barra’ bastante alta para uma intensificação no ritmo de cortes de juros”.

Novos cortes de 0,5 p.p. na Selic estão precificados

A ata do Copom afirmou que houve “unanimidade” sobre a previsão de cortes futuros de 0,5 ponto na Selic. E que “esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

O Copom disse também que o “cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado”. E que é “pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes”.

Essa sinalização reforçou que não haverá reduções maiores, como se chegou a especular no mercado e como também passou a precificar a curva de juros.

“Podemos ver um ajuste no mercado nas taxas curtas. Por outro lado, o cenário externo também é de cautela, e pode impactar a expectativa de piso para a Selic nesse primeiro momento do ajuste, com a taxa terminal mais próxima de 9%”, conclui a economista do Inter.

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Para o comitê, uma possível intensificação no ritmo de corte de juros só viria com “uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação”.

Dentre elas, destacaram: “reancoragem bem mais sólida das expectativas” e “uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

Sobre a duração do ciclo de cortes, o colegiado foi curto e grosso: “dependerá da evolução da dinâmica inflacionária”.

O Copom não projeta qual será o novo patamar da Selic ao fim desse ciclo de queda dos juros.

Repercussão no governo

Em entrevista à Globonews, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que o Banco Central está de parabéns após a divulgação da ata.

“O comunicado veio no tom certo, a ata está absolutamente esclarecedora, realista, mostrando que é possível sim nas próximas três reuniões do Copom diminuir em pelo menos 0,5% a taxa de juros do Brasil”, afirmou.

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