Emprego nos EUA cresce acima do esperado e tem maior avanço do ano
Resultado do Payroll impactou o mercado, já que mais vagas abertas pressionam a inflação e investidores temem que novos aumentos de juros voltem a prejudicar os ativos
As previsões mais pessimistas do mercado financeiro, de um aumento no número de vagas nos Estados Unidos acima do esperado em setembro, se concretizou nesta sexta-feira, 06/10.
A economia americana criou 336 mil empregos no mês passado, segundo o Payroll que é o relatório divulgado pelo Departamento de Trabalho. O resultado veio quase o dobro da previsão dos analistas de abertura de 170 mil postos de trabalho.
Esse foi o maior aumento no número de vagas desde o início do ano. Em julho, os empregos criados atingiram 236 mil vagas e em agosto foram 227 mil, dados revisados pelas autoridades americanas.
Para o economista-chefe do banco Master, Paulo Gala, o efeito desse aumento de vagas pode ser violento em termos de alta nas taxas de juros americanas.
“Esse estresse que a gente tem visto nas últimas semanas no Brasil e nos países emergentes pode continuar com o Payroll muito forte, pois aumenta bastante a chance do BC americano subir a taxa de juros em mais 0,25 ponto percentual na reunião de novembro”.
A resiliência do mercado de trabalho nos Estados Unidos mostra que as companhias seguem confiantes no aumento das vendas, o que confirma as despesas das famílias ainda em alta e pressiona mais a inflação.
Uma maior demanda pode indicar dificuldades do Federal Reserve – o Banco Central americano – em controlar a inflação. Com isso, a autoridade monetária precisa manter os juros mais altos e por mais tempo, o que impacta direto o mercado financeiro – que já espera um novo aumento até o fim deste ano.
A inflação elevada levou os juros nos EUA ao maior patamar em 22 anos, no intervalo entre 5,25% e 5,50% ao ano. Na semana passada, em decisão unânime, o Fed manteve a taxa nesse patamar.
No início da semana, a pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho (JOLTS, na sigla em inglês) já havia apontado um aumento de vagas disponíveis no mercado americano.
“É a tal história do ‘good news, bad news’. O crescimento nas vagas é uma ótima notícia para a economia americana, que está muito longe de uma recessão. Já a ‘bad news’ são os juros que podem continuar subindo”, afirma Paulo Gala.
Impactos no mercado
Diante do resultado, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasures) voltaram a avançar. As bolsas mundiais retomaram o viés de baixa e o dólar passou a se fortalecer frente aos principais moedas mundiais.
No longo prazo, se o aumento no rendimento dos Treasures continuar, isso pode impactar nos custos dos empréstimos para consumidores e empresas.
No Brasil, o mercado financeiro segue em baixa diante dos temores de que uma política monetária mais apertada possa levar a maior economia do planeta a uma recessão, com impactos globais.
Com essas previsões mais pessimistas, os agentes de mercado tiram o dinheiro das bolsas de valores e aplicam nos títulos do Tesouro americano. A saída de recursos da Bolsa do Brasil leva a uma valorização do dólar, o que pode impulsionar a inflação.
“A Treasure de 30 anos bateu 5% essa semana e a de 10 anos também pode chegar a esse valor. Isso pode agravar a liquidação que a gente está vendo em bolsas e moedas emergentes, com o real podendo se desvalorizar mais, a bolsa brasileira tombar e os juros mais longos voltar para perto de 12%”, conclui.
Esperança está na desaceleração dos ganhos salariais
O salário médio dos americanos por hora trabalhada cresceu 0,2% em setembro ante agosto, uma estabilidade. Em relação ao ano anterior, o aumento foi de 4,2%, menor valor desde meados de 2021.
A desaceleração dos ganhos salariais oferece uma fresta de esperança para o BC americano, uma vez que isso pode ajudar a reduzir o gasto dos consumidores. A taxa de desemprego ficou inalterada em 3,8%, um pouco acima do esperado pelo mercado – que era de 3,7%.
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