Entenda o impacto da reestruturação das lojas Marisa no mercado varejista
Problemas financeiros da Marisa e outras varejistas, além do fechamento de lojas, mexeu com o resultado do setor em maio. Especialistas alertam para uma piora do cenário
A rede varejista Marisa anunciou nesta semana o fechamento de 88 lojas em todo país e o fim do seu processo de reestruturação.
A empresa afirmou que a iniciativa faz parte dos esforços para tentar recuperar a sua capacidade de gerar caixa, ou seja, ter recursos para investir, operar e voltar a ser rentável. A companhia projeta um Ebitda (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 40 milhões em 2023 e R$ 60 milhões a partir de 2024.
Em um outra frente do seu processo de restruturação, a renegociação de dívidas da varejista atingiu 90% dos seus fornecedores e 97% dos valores devidos aos seus revendedores.
“Ao longo do segundo semestre serão otimizados os serviços de terceiros e outras despesas, o que deverá gerar uma economia adicional de pelo menos R$ 10 milhões por ano”, disse a empresa, em comunicado.
O sócio-fundador da Excellance, especializada na recuperação de empresas, Max Mustrangi, explica que o principal problema da Marisa aconteceu por conta de seu excessivo processo de alavancagem (mecanismo em que a empresa usa mais dinheiro que o disponível para manter ou expandir suas operações).
“Eles fizeram uma tarefa de casa tardia na questão do fechamentos das lojas não rentáveis. Pelo lado do faturamento, assim como outras varejistas, a Marisa se alavancou demais. É preciso agora conseguir uma entrada de capital para reduzir essa alavancagem e renegociar a dívida. Mas o mercado está muito fechado para financiar a empresa”.
Outro ponto que preocupa o processo de recuperação da rede varejista é o cenário econômico do país, especialmente o aumento da inadimplência e a falta de crédito. “Essa é uma situação que o varejo como um todo tem enfrentado. A inflação comeu o poder aquisitivo do consumidor, que também está altamente endividado. Isso se torna uma espiral negativa”, afirma Max.
Impactos no varejo brasileiro
A crise na Marisa, assim como a recuperação judicial das lojas Americanas desde o início do ano, tem impacto direto no comércio varejista brasileiro.
O volume de vendas do comércio recuou 1% em maio na comparação com abril, segundo divulgou na semana passada o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
De acordo com Cristiano Santos, gerente do IBGE, esse resultado foi puxado não só pelos problemas na concessão de crédito, mas também pelo fechamento de lojas por problemas de contabilidade.
“As atividades de tecidos, vestuários e calçados, e artigos pessoais e domésticos, que tradicionalmente têm componente histórico de se beneficiar com o Dia das Mães, não tiveram desempenho expressivo ou até queda”.
Para o sócio-fundador da Excellance, a perspectiva é negativa para as empresas de varejo, mas também para outros setores da economia.
“Está todo mundo muito mal das pernas: o setor alimentício, de construção e até o próprio governo. Para os próximos meses vejo ainda resultados piorando e a alavancagem financeira subindo na estratosfera”, conclui Max Mustrangi.
A crise na Marisa
A crise financeira da varejista, que é uma das maiores lojas de moda feminina e lingerie do país, com 246 lojas em operação, já dura uma década e tem impactado nos seus resultados.
Em 2020, a empresa registrou um prejuízo líquido de mais de R$ 400 milhões, seguido por outro de R$ 70 milhões (2021) e mais um de R$ 200 milhões (2022). Reflexo não só da pandemia e da queda na renda dos brasileiros, mas também da falta de inovação e da recessão de 2015 e 2016.
Varejo: como o caso Americanas interfere na perspectiva do setor para 2023
No começo da semana, a Marisa reportou em seu balanço um prejuízo líquido de R$ 148,9 milhões no 1º trimestre deste ano, crescimento de 64,2% em relação a igual período de 2022.
Os crescentes problemas na empresa levaram as ações dos R$ 27 em 2013 para menos de R$ 1 hoje. No início do ano, a Marisa contratou duas empresas para ajudar na sua reestruturação. O banco de investimentos BR Partners atua no processo de renegociação de dívidas, enquanto o Galeazzi Associados apoia a companhia na sua estrutura de custos.
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