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Petrobras tem lucro recorde com política de dividendos no alvo do governo

Estatal teve lucro líquido de R$ 188 bilhões em 2022 – maior para uma empresa de capital aberto do Brasil. Dividendos estão garantidos, mas governo que mexer na distribuição

Mesmo diante das críticas do governo federal ao alto valor dos dividendos pagos pela Petrobras aos acionistas, a estatal aprovou a distribuição de R$ 35,8 bilhões referentes ao 4º trimestre de 2022. O anúncio veio após a companhia registrar – entre outubro e dezembro do ano passado – lucro líquido de R$ 43,3 bilhões, alta de 37,6% na comparação com o mesmo período de 2021 (R$ 31,5 bi).

O pagamento desses dividendos ainda precisa ser aprovado pelo Conselho de Administração da Petrobras que se reúne no dia 27 de abril. Importante destacar que esse valor proposto ultrapassa a fórmula da política de remuneração aos acionistas da Petrobras em R$ 6,5 bilhões. Assim, segundo comunicado da companhia, houve uma recomendação para que R$ 6,9 bilhões – do total pago de R$ 35,8 bilhões – sejam destinados a uma ‘reserva estatutária’ – cuja finalidade não foi detalhada.

Ao todo, em 2022, a estatal aprovou o pagamento de R$ 215,7 bilhões em dividendos aos acionistas. O valor é mais do que o dobro de 2021, que somou R$ 101,4 bilhões.

Esse resultado, levou a Petrobras ao patamar de segunda maior pagadora de dividendos do mundo no ano passado – distribuindo US$ 21,7 bilhões do seu lucro aos acionistas. Os dados são da gestora Janus Henderson. A estatal brasileira ficou atrás apenas da mineradora anglo-australiana, HP, que pagou US$ 23,5 bilhões.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem discutido com ministros e o próprio presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, a diminuição do repasse dos lucros como forma de amortecer uma possível alta nos preços dos combustíveis. A ideia, no entanto, tem sido mal-recebidas pelo mercado, porque geram dúvidas e podem afastar investidores em ações da petroleira.

Importante pontual que o governo federal é um dos maiores beneficiários da política de distribuição de dividendos da Petrobras – já que é o seu maior acionista. Em 2022, a estatal pagou um volume recorde de R$ 279 bilhões em tributos e R$ 72 bilhões em dividendos ao governo. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 02/03, pelo diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Rodrigo Araújo.

Em seu primeiro pronunciamento como presidente da estatal, Jean Paul Prates também falou sobre a distribuição de lucros pela companhia. Hoje, em uma teleconferência com analistas, ele afirmou que a distribuição equilibrada de dividendos é aquela que o conselho, assembleia e diretoria decidem em prol de “investir bem e remunerar acionistas”.

“Chego a ter dúvidas se há regras muito rígidas em termos de percentuais de distribuição. (…) A gente vai ter sim uma robustez de dividendos, porque a gente pretende ter lucros a altura do que foi auferido agora, embora eu imagino que sejam circunstâncias diferentes. O desafio é maior”.

Lucro líquido recorde

A Petrobras registrou lucro líquido recorde no ano passado de R$ R$ 188,3 bilhões. O resultado leva a companhia ao patamar de maior lucro já registrado por uma empresa de capital aberto no país. Segundo levantamento da Trademap, na segunda colocação está o lucro da Vale de R$ 95,9 bilhões também no ano passado.

O resultado reflete à alta de 43% do barril de petróleo Brent – referência internacional, a maiores margens de derivados e a um melhor resultado financeiro.

Mudanças na política de preços

Em um comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a estatal afirmou hoje que não há nenhuma discussão para alterações na política de preços de combustíveis. A companhia reiterou o compromisso com preços competitivos e equilíbrio no mercado.

“Qualquer alteração deverá ser debatida pelos órgãos internos de governança da Petrobras, especialmente a diretoria e o conselho de administração, e será divulgada ao mercado” afirmou.

A Petrobras adota desde 2016 a política de Preço de Paridade Internacional (PPI). Nela o preço dos combustíveis nas refinarias é reajustado conforme a cotação do dólar e do preço do barril de petróleo no mercado internacional.

Na teleconferência com analistas, Rodrigo Araújo afirmou que a dinâmica da companhia é manter preços competitivos e repassar completamente a volatilidade para o mercado nacional.

“Reforço nossa capacidade de manutenção de preços competitivos, alinhados ao mercado internacional”.

Suspensão venda de ativos

A Petrobras anunciou ontem o recebimento de um ofício do Ministério de Minas e Energia (MME) solicitando a suspensão do processo de venda de ativos por 90 dias.

Segundo a estatal, o pedido acontece em razão da reavaliação da Política Energética Nacional e da nova composição do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Na videoconferência de hoje, o presidente da estatal comentou sobre o assunto.

“Não vamos nos desfazer de refinarias ou de regiões inteiras do país simplesmente porque o governo quer. Vamos fazer decisões de empresa. Quando houver oportunidade de territórios do Brasil ou exterior, vamos perseguir. Quem vai decidir isso não é um imperador ou uma pessoa só. É o conselho e a diretoria executiva. É um diálogo aberto com investidores”, afirmou Prates.

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