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Entenda o caso da 123 Milhas e por que o modelo de pacotes flexíveis se esgotou  

123 milhas suspendeu viagens da linha promocional com embarque de setembro a dezembro, e paralisou a emissão de novos pacotes e passagens

Foto: Divulgação 123 milhas
Foto: Divulgação 123 milhas

O planejamento financeiro de uma viagem é essencial para o sucesso da empreitada em outro país, estado ou mesmo num passeio de fim de semana. Mas e quando o problema acontece com a empresa que emite as passagens e os pacotes? O caso mais recente é da 123 Milhas, que desde a última sexta-feira, 18/08, suspendeu os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional.

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A medida impacta viagens de datas flexíveis, com embarques previstos de setembro a dezembro de 2023. Esse tipo de pacote era vendido por valores abaixo dos praticados no mercado.

Em comunicado, a empresa afirmou que a suspensão ocorreu diante da “persistência de fatores econômicos e de mercado adversos, entre eles, a alta pressão da demanda por voos, que mantém elevadas as tarifas mesmo em baixa temporada, e a taxa de juros elevada”.

Por que os pacotes promocionais não deram certo?

A empresa fazia uma aposta em preços baixos de passagens e hospedagens, para oferecer valores mais em conta. Isso era possível, pois as viagens não tinham data previamente marcada, já que era necessário garimpar os dias de voo e estadia mais baratos possíveis.

Durante a pandemia, o esquema funcionou bem – já que a procura por viagens quase zerou. No entanto, com a flexibilização houve uma elevação na demanda e os preços subiram.

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Foi então que a 123 Milhas passou a não encontrar opções dentro da faixa de preços cobrada de seus clientes. Com a sinalização de prejuízo no modelo, a alternativa foi adiar ou cancelar as viagens.

O viajante profissional, Rodrigo Ruas, explica que não há mágica para comprar passagens e pacotes sem data marcada, diante de um mercado tão volátil.

“A matemática é simples. No caso das passagens áreas, quanto menos assentos dentro de um voo, mais caro fica. Exemplo: uma empresa vende uma viagem de Salvador para o Rio, sem um dia específico para o mês de setembro. De última hora surgem vários eventos na cidade e os voos começam a lotar. Aumenta a demanda, os preços sobem e não tem como honrar o valor mais barato pago”.

Para explicar a situação complicada da 123 Milhas, o profissional faz até um paralelo com o mercado financeiro. 

“É muito parecido com a bolsa de valores. Quanto mais aumenta a procura pela ação de uma companhia, mais o preço dos papéis se valoriza. Isso funciona também para a hotelaria. Quanto menos quartos disponíveis, mais caro eles ficam”.

Como será feita a devolução do dinheiro?

A 123 Milhas afirmou que está devolvendo integralmente os valores pagos pelos clientes através de “vouchers acrescidos de correção monetária de 150% do CDI, acima da inflação e dos juros de mercado, para compra de quaisquer passagens, hotéis e pacotes”.

Segundo a empresa, esses vouchers vão poder ser usados em produtos da 123 Milhas. No comunicado, no entanto, a agência não deixou claro se haverá ressarcimento em dinheiro, para uso além de seus serviços.

“A minha dica é pegar o voucher e correr para emitir uma passagem na 123 Milhas com data marcada e localizador. Depois de emitida, o viajante pega o número do localizador, entra no site da companhia aérea, digita o número e visualizar a sua passagem”, explica Rodrigo Ruas.

Até o fim da tarde desta segunda-feira, 21/08, 40% dos clientes da linha promocional pediram os vouchers, de acordo com a empresa.

Repercussão

O presidente da CPI das Pirâmides Financeiras da Câmara, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), disse que a comissão vai investigar a empresa. “Muitas famílias se programaram e agora todo o sonho vai por água abaixo”.

O ministro do Turismo, Celso Sabino, informou que suspendeu a empresa 123 milhas do acesso a linhas de crédito em bancos públicos.

“O ministério suspendeu o cadastro do 123 Milhas no Cadastur, que é essencial para que as companhias tenham benefícios tributários destinados ao setor”.

A Secretaria Nacional do Consumidor deu prazo de dois dias para que a 123 Milhas apresente esclarecimentos sobre o cancelamento de pacotes promocionais. E determinou que a empresa indique um canal de comunicação para atender os consumidores.

Segundo a 123 Milhas, o consumidor pode entrar em contato com a agência pelos canais oficiais: www.123milhas.com ou www.123milhas.com.br,  na aba ‘Promo 123’; ou pelo WhatsApp (31) 99397-0210.