ESG

Barreiras comportamentais ainda são desafio para estimular investimentos ESG, afirmam especialistas

Falta de atenção e de informação estão entre os desafios

Os investimentos com impacto ESG (meio ambiente, social e de governança, na sigla em inglês) pedem cada vez mais atenção conforme avança a agenda da transição energética. O desafio é vencer barreiras comportamentais e estimular a consciência em torno do impacto ambiental e social promovido pelo investimento financeiro. Essa foi a percepção compartilhada entre as especialistas durante a Semana Mundial do Investidor, no painel online “Transformando Decisões – Como incentivar mais investidores a adotar critérios ESG?”.

“Por que não tem mais gente apoiando essa iniciativa? Por que damos esse tiro no pé? Porque somos humanos, nem sempre escolhemos o que é melhor para nós. A gente quer sempre o melhor, mas não significa que a gente consiga”, questiona Vera Rita de Mello Ferreira, presidente da Associação Internacional de Pesquisa em Psicologia Econômica.

“Nós precisamos enxergar nosso futuro. Estamos despencando, basta olhar para a intensidade do furacão nos EUA, as graves queimadas no Pantanal e na Amazônia. Ainda assim, temos dificuldade em ver que isso resulta das escolhas erradas que fizemos”, complementa ela.

Ferreira chama atenção para a efetividade de cada letra que compõe a sigla ESG. “Fica difícil contemplar as siglas do ESG. No meio ambiente, estamos vendo o resultado de não ter cuidado suficiente. A gente tem muita dificuldade de pensar no social, se não for todo mundo junto não é possível falar em desenvolvimento, de uma visão individualista. Se o planeta não estiver funcionando, não tem como pensar em sustentabilidade. As finanças sustentáveis têm uma perspectiva de contemplar o meio ambiente ao oferecer apoio e tudo que for possível para que exista um futuro para o planeta. Mas o viés do presente ainda reina, junto com isso há a dificuldade de identificar risco que nós temos”, observa. 

3 formas de investir no meio ambiente pela bolsa de valores

O que move o investidor na pauta ESG?

Além do retorno financeiro esperado ao investir, a especialista em economia comportamental Flávia Ávila destaca que o investidor pode e deve ir atrás de outras motivações que o levem a aportar recursos em projetos com impacto social e ambiental.

Ela falou também sobre o conceito do homo economicus, teoria segundo a qual as pessoas são completamente racionais e sempre tomam decisões financeiras com base na razão. Já os homo sapiens, segundo Ávila, têm como objetivo o próprio bem-estar, mas são afetados pelo contexto, por outros indivíduos e não processam de maneira ótima todas as informações disponíveis. “Isso não significa que as pessoas reais são irracionais, mas isso pode levar a desvios sistemáticos da racionalidade”, explica ela. E isso precisa ser considerado quando falamos de investimentos ESG.

Saiba como avaliar um investimento de impacto social e ambiental

Ávila traz uma sugestão de tópicos que podem mudar o comportamento do investidor individual para que ele pense além do aspecto financeiro ao investir:

  • Desejo de impacto positivo
  • Preocupações com as alterações climáticas
  • Dinâmica social e influência dos pares
  • Importância da governança e conformidade regulatória na análise de risco
  • Demanda do mercado por sustentabilidade, que tem gerado produtos ESGs mais acessíveis
  • Reputação das empresas
  • Relatórios ESG – aumento na quantidade, qualidade e possível padronização
  • Medos: greenwashing e fraudes podem afastar investidor e aumentar a incerteza

Obstáculos ao investidor pessoa física

O investimento em ESG passa por diferentes barreiras. Esse desafio fica ainda maior para o investidor pessoa física, segundo Ana Carolina Velloso, advogada do BNDES e criadora do Neuroeconomia Educação. “A pessoa vai passar por obstáculos ao pensar em investir em ESG. Pode ser escassez de tempo, de dinheiro, energia, memória, atenção. Ou pode ser de contexto, que envolve a cultura, o físico e o social. E o sistema emocional, com vieses e heurísticas. Temos que pensar além da rentabilidade, e por questões éticas, afinidades com o projeto”, afirma.

Outros fatores pesam nesse momento, segundo ela. “Os obstáculos são a complexidade da decisão, falta de taxonomia, comparabilidade de produtos e transformar intenção em ação”.

Nesse caminho ainda há, também, algumas complicações, como o uso inadequado de termos ESG, que confundem o investidor. “Os atalhos mentais por meio dos selos de ESG que não sabemos a procedência, nomes, influencers que investem nisso. Os atalhos, se usados de forma indiscriminada, podem nos levar ao greenwashing de produtos, empresas e países que, na verdade, estão mais comunicando e fazendo marketing de sustentabilidade do que realmente se dedicando à causa”, destaca.

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.