Notícias

Inflação do Calor: ar-condicionado é o vilão dos preços e sobe quase 10% no ano

Temperaturas acima da média em várias partes do país têm puxado os preços de produtos muito consumidos no calor. Vendas de ar-condicionado já crescem 38% nesse 2º semestre

A onda de calor que atinge o país nesta semana tem levado as temperaturas para acima da média em 15 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, os termômetros têm marcado, em média, 37ºC com sensação térmica de 40ºC. No Rio de Janeiro, o calor bateu os 42ºC, com sensação de 58ºC. 

O fenômeno, cada vez mais comum no Brasil, é resultado da aproximação do verão e é intensificado pelo El Niño – fenômeno climático que aquece as águas dos oceanos.

O calor intenso traz um efeito na economia pelo lado do agronegócio – já que secas prolongadas prejudicam a produção de alimentos e elevam os preços de frutas e verduras – mas também de aparelhos eletrônicos e produtos industrializados muito consumidos em dias escaldantes.

O vilão da inflação do calor em 2023 são os aparelhos de ar-condicionado. Apenas em outubro os preços saltaram 6,09%, ante 1,43% no mês anterior, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Para se ter uma ideia do tamanho da alta, as máquinas de ar-condicionado tiveram no mês passado a segunda maior alta entre os itens não alimentícios, atrás apenas da passagem aérea (23,7%) – que impulsionou os preços em outubro. A variação é bem superior ao mesmo mês de 2022, quando tinha subido 1,37%.

Entre janeiro e o mês passado, os preços acumulam alta de 9,35%, bem acima da inflação média que bateu 3,75%. Segundo o gerente da pesquisa do IBGE, André Almeida, as ondas de calor têm impactado os preços, assim como a seca na Amazônia e a alta demanda.

“As temperaturas mais quentes podem influenciar o preço do ar-condicionado. E a seca na Amazônia, que pode afetar a produção na Zona Franca de Manaus. Mas, de maneira geral, essa onda de calor pode contribuir para essa alta de ar-condicionado”, afirmou.

Com a seca, o nível dos rios no Amazonas está no menor patamar da história, o que prejudica o transporte fluvial na região, utilizada para escoar produtos como aparelhos de ar-condicionado. Isso sem falar nas peças e componentes para produzir diversos equipamentos e que não conseguem chegar nas fábricas.

Crescimento nas vendas

O modelo mais comum de ar-condicionado instalado nas residências em todo o país é o chamado ‘Split’. As vendas desse tipo de aparelho cresceram 16% no 1º semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

Foram 1.483.492 equipamentos que saíram das lojas entre janeiro e junho de 2023, contra 1.279.074 unidades em 2022, de acordo com a Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA).

Segundo o presidente do Departamento Nacional de Comércio e Distribuição da ABRAVA, Toríbio Rolon, a estimativa é que as vendas neste ano atinjam quatro milhões de equipamentos.

“O primeiro semestre apontou o aumento nas vendas de ar-condicionado na loja ao cliente final na ordem de 25%, e neste segundo semestre, já acumula um aumento de 38%”.

Energia elétrica e o calor

A energia elétrica residencial avançou quase na mesma proporção que as máquinas de ar condicionado. No acumulado do ano, a alta foi de 7,78% diante dos reajustes nas alíquotas feitos pelas concessionárias.

Importante pontuar que no mês passado houve deflação de 0,58% nos preços da energia, ante um aumento de 0,99% no mês anterior. 

Com a onda de calor extremo nesta semana, a demanda por energia elétrica bateu recorde no Brasil por dois dias consecutivos, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Na terça-feira, 14/11, o consumo ultrapassou 101,475 mil megawatts – superando os 100,955 GW registrados na segunda, 13/11.

Em nota, o operador afirmou que “a onda de calor que vem afetando boa parte do Brasil incidiu diretamente na demanda por energia elétrica”. No entanto, o Sistema Elétrico Nacional é “robusto, seguro, possui uma ampla diversidade de fontes e está preparado para atender às demandas de carga e potência da sociedade brasileira”.

A estrategista de Inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, afirma que as altas temperaturas trazem riscos para lavouras e elevam consumo de eletricidade. Apesar disso, ela acredita que a necessidade de geração de energia térmica adicional (mais cara) para atendimento da demanda não deve impactar as tarifas.

“Não acreditamos que haja necessidade de despacho de usina térmica numa quantidade suficiente para impactar a tarifa. Vamos identificar os valores de cada térmica acionada para chegar em algum impacto”, explica.

Ventilador: um refresco no preço

Se por um lado os aparelhos de ar-condicionado estão mais caros, por outro o preço dos ventiladores não subiu tanto. Segundo um levantamento do B3 Bora Investir, com base nos dados do IBGE, os preços avançaram no ano 2,67%, bem menos que o IPCA.

Apesar do valor mais baixo, em outubro houve uma aceleração de 0,20% no valor dos ventiladores, após uma deflação de 0,14% em setembro.

Sorvete, refrigerante e água estão mais caros

Para se refrescar do calor intenso, nada melhor que aquele delicioso ‘gelato’ italiano ou mesmo o sorvete tradicional da padaria.

O problema é que os preços desses produtos escalaram 9,62% no acumulado dos dez primeiros meses do ano. Apenas em outubro, os sorvetes ficaram 0,80% mais caros, ante 0,09% no mês anterior.

Os refrigerantes e a água mineral também subiram de preço: 6,60% entre janeiro e outubro.

VEJA ABAIXO A TABELA COMPLETA DA INFLAÇÃO DO CALOR

 set/23out/23jan-out/23
IPCA0,26%0,24%3,75%
Ar-Condicionado1,43%6,09%9,35%
Sorvete0,09%0,80%9,62%
Refrigerante e água0,78%0,44%6,60%
Energia Elétrica0,99%-0,58%7,78%
Ventilador-0,14%0,20%2,67%
Chinelo0,57%1,31%1,51%
Fonte: IBGE / Elaborado: B3 Bora Investir

Quer entender o que é macroeconomia e como ela afeta seu bolso? Acesse o curso gratuito Introdução à Macroeconomia, no Hub de Educação da B3.