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Javier Milei: entenda as propostas econômicas do presidente eleito da Argentina

Ultraliberal afirmou que inflação será controlada em até dois anos e que vai fechar o Banco Central. Sobre dolarizar a economia, Javier Milei disse que moeda "será aquela escolhida pelos indivíduos"

Com discurso antipolítica e ideias econômicas ultraliberais, Javier Milei foi eleito presidente da Argentina com 55% dos votos – três milhões a mais que seu adversário, o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia.

O novo mandatário da Casa Rosada terá pela frente a difícil e ingrata missão de controlar uma inflação que bateu 140% em 12 meses e juros de 133% ao ano. O país ainda sofre com a desvalorização cambial (o peso já perdeu mais de 90% de valor em relação ao dólar neste ano), rombo nas contas públicas e tem 40% da sua população na pobreza.

No discurso da vitória, Milei defendeu pautas liberais e evitou falas das mais radicais, como fechar o Banco Central e dolarizar a economia. No entanto, em entrevista nesta segunda-feira, 20/11, à rádio argentina Continental, o presidente eleito confirmou que vai levar a diante esses planos.

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“Fechar o Banco Central é uma obrigação moral, e dolarizar [a economia] é uma maneira de nos livramos do Banco Central”, afirmou. Mas ao final da sua fala, propôs que a moeda adotada por seu governo “seja aquela escolhida pelos indivíduos”.

Para o economista e sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, a Argentina precisa restabelecer a sua credibilidade e confiança, se tornar um país mais produtivo, fazer o ajuste fiscal e conscientizar a sociedade de que é preciso mudar o modelo econômico para sair da crise.

“Não estou nem um pouco convencido de que a sociedade vai topar pagar o preço desse período de ajustes que não vai ser curto. Estou falando de vários anos com dificuldades em termos de recessão e de piora no bem-estar econômico”.

A posse de Javier Milei será no dia 10 de dezembro. Entenda abaixo as principais propostas econômicas do presidente eleito da Argentina.

Controle da inflação e mudanças cambiais

O presidente eleito disse hoje que vai levar entre 18 e 24 meses para controlar a inflação, que está em 120% no acumulado entre janeiro e outubro deste ano.

Javier Milei afirmou também que, por enquanto, vai manter as taxas de câmbio atuais e seguir com as medidas de restrição à compra de dólares, imposta pelo atual presidente, Alberto Fernández, para controlar o saldo da moeda americana.

“Antes de levantar a limitação ao estoque do dólar, é preciso resolver o problema da Leliq [taxa básica de juros do país]. Vamos tentar fazer isso o mais rápido possível, porque, se não, a sombra da hiperinflação estará aqui o tempo todo”, disse.

A crise de hiperinflação na Argentina é causada pela dívida externa muito elevada, com déficits crescentes e quase nenhuma capacidade de arrecadação. Assim, o BC precisa emitir dinheiro para financiar esses gasto, o que eleva a inflação.

“Ao longo de décadas a Argentina acreditou na força do Estado como o grande agente indutor do crescimento, e não no livre mercado, no setor privado produzir e gerar riqueza. O resultado são desequilíbrios econômicos e inflação persistente, o que leva à desconfiança na moeda”, explica o economista da Tendências.

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Dolarização e o fim do Banco Central

O novo mandatária da Casa Rosada afirmou durante a sua campanha que iria dolarizar a economia do país, ou seja, trocar o peso argentino pelo dólar norte-americano.

Se a decisão for implementada, a moeda dos EUA teria de ser importada e as decisões de juros dependeriam do Federal Reserve, o banco central americano. Isso acabaria com o BC argentino, que iria perder a sua soberania em arbitrar a política monetária do país.

Pelo lado dos empresários, a dolarização da economia poderia derrubar a competitividade diante do aumento dos preços. Isso se somaria a perdas do setor de turismo, que vive uma onda positiva com a depreciação cambial.

Privatizações

Javier Milei disse nesta segunda-feira, que vai privatizar a empresa estatal de petróleo YPF e as companhias públicas de comunicação do país. Segundo o presidente eleito, o que puder ir para as mãos da iniciativa privada irá.

“Na transição que estamos pensando na questão energética, a YPF e a Enarsa têm um papel. Desde que essas estruturas sejam racionalizadas, elas serão colocadas para criar valor para que possam ser vendidas de uma forma muito benéfica para os argentinos”, afirmou.

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A petrolífera YPF foi nacionalizada em 2012 durante o governo de Cristina Kirchner.

As ações argentinas listadas nas bolsas dos Estados Unidos dispararam com a vitória de Milei, principalmente as da estatal YPF com as declarações de privatização. Por volta das 12h, os papéis da petroleira subiam mais de 43%.

Implementação das medidas de Javier Milei

Para o economista, André Perfeito, as propostas econômicas de Javier Milei podem ser classificadas como revolucionárias, logo sua implementação será bem difícil.

“Uma agenda ultraliberal, gera – a curto prazo – queda na atividade na esteira do corte de gastos na expetativa que o investimento venha no longo prazo. Neste sentido, o jogo político de Milei não será fácil, uma vez que sem crescimento econômico num primeiro momento as pressões internas serão intensas na política portenha”.

Segundo o analista, dificilmente o presidente eleito vai conseguir colocar em prática toda a sua agenda. “Isso gerará grandes tensões que não sabemos ao certo como ele irá reagir. É provável que os dois primeiros anos sejam difíceis”, concluiu.

Comércio Internacional

Na campanha, Milei afirmou em vários discursos sobre uma possível saída da Argentina do Mercosul, além de cortes das relações comerciais com os dois principais parceiros: China (1º) e o Brasil (2º).

Para a equipe de economistas da Guide Investimentos, a relação da Argentina com os dois parceiros não deve mudar.

“Por enquanto, a relação comercial deve seguir com ‘business as usual’. Mas será importante acompanhar o desempenho da economia dos Hermanos nos próximos anos e seu efeito para a nossa balança comercial”.

Nesta segunda-feira, o ministro da Fazenda do Brasil evitou comentar o resultado das eleições presidenciais na Argentina. Fernando Haddad se limitou a repetir a posição do presidente Lula publicada nas redes sociais.

“Agora é desejar sorte, celebrar o fato de que o presidente Lula demonstrou apreço pela democracia, que nosso continente tem que fortalecer a democracia. Aguardar os acontecimentos”.

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