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Crise Econômica na Argentina: 5 fatos para entendê-la

País enfrenta um longo histórico de recessões econômicas; problemas começaram há pelo menos trinta anos. Saiba mais sobre a crise econômica na Argentina!

Conteiner pintado com cores da Argentina
A crise econômica na Argentina fez a atenção de todo o mundo se voltar ao país sul-americano. Foto: Adobe Stock

A crise econômica da Argentina fez a atenção de todo o mundo se voltar ao país sul-americano nos últimos meses. Inflação alta e falta de reservas do Banco Central são alguns dos agravantes. Porém, o que hoje se observa já fez parte, no passado, de outras recessões vividas pelo país.

A seguir, listamos cinco pontos para explicar alguns dos problemas que há tempos insistem em perturbar um dos nossos vizinhos mais importantes.

Como é a inflação na Argentina?

Entre o final da década de oitenta e começo de noventa, a Argentina tinha um quadro econômico perecido com o brasileiro, tendo sido marcado pela hiperinflação. Em 1989, a taxa anual bateu 3.079,4% e, posteriormente, em 1990, alcançou 2.314%.

Assim como no Brasil, foi preciso um plano econômico para combater a escalada dos preços. Se aqui tivemos o Plano Real, lá houve o Plano Cavallo, criado pelo então ministro da economia Domingo Cavallo e que institui a paridade entre peso e dólar, ou seja, 1 peso passava a ter o valor de 1 dólar.

O plano deu certo no começo, fez a inflação cair e o PIB crescer. Mas no longo prazo, a paridade encareceu os produtos argentinos no mercado externo e a entrada de dólares no país diminuiu. Tal fato configurou um problema, já que, para manter a paridade, era preciso que o país tivesse a moeda americana em suas reservas. A solução foram empréstimos no mercado externo.

Mas como isso interfere na crise econômica da Argentina? Veja a seguir!

Por que a dívida externa da Argentina é alta?

Como explicado no último tópico, a Argentina precisou recorrer a empréstimos no mercado externo – a dívida argentina que, em 1989, era de US$ 62,2 bilhões, saltou para US$ 132 bilhões, em 2001.

Para piorar, nesse hiato aconteceu a crise asiática, que fez os investidores ficarem mais receosos e encarecerem os juros dos empréstimos. Em 1999, como decorrência da crise econômica brasileira, originada pela desvalorização do Real, as importações de produtos argentinos pelo Brasil caiu e fez com que a Argentina perdesse seu principal parceiro econômico na época.

Também em 1999, a Argentina se encontrava oficialmente em recessão, tendo passado a registrar deflação, isso é, queda de preços.

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A Argentina é um país pobre?

A deflação na Argentina pode ser vista como um fenômeno decorrente do empobrecimento da população. Uma vez que os argentinos tinham menos dinheiro, passaram a comprar menos e, com a menor procura, houve queda de preços, isso é, deflação — o contrário de inflação.

Se, em 1980, apenas 7% das famílias urbanas argentinas eram consideradas pobres e 2% delas se enquadravam na categoria de indigentes, em 2002 as proporções subiram para 45% e 21%, respectivamente.

A crise que se iniciou em 1998 e e se estendeu até 2002 teve seu auge em 2001, quando manifestações populares exigiram o impeachment do então presidente Fernando De La Rúa. Grande parte das insatisfações veio do fato de o governo ter congelado depósitos em poupanças e imposto limites semanais para a retirada dos fundos. De La Rúa renunciou em 21 de dezembro de 2001.

Outro fato dessa época foi a crescente procura da Argentina pelo mercado de investidores, com o objetivo de captar recursos por meio de títulos públicos – um dado curioso é que alguns desses títulos tinham prazo de validade de mais de quarenta anos.

Também data dessa crise a moratória do Fundo Monetário Internacional (FMI), isso é, as dívidas contraídas na instituição tiveram prazo de vencimento prolongado, o que causou a reestruturação da dívida argentina.

Como está a economia da Argentina hoje?

Mais uma vez a economia da argentina se encontra em crise. Apesar de não bater os números de hiperinflação desde 2018, o aumento dos preços é uma realidade e a inflação anual tem ficado em cerca de 50% ao ano.

Assim como no passado, o câmbio leva culpa no agravamento da situação econômica. O peso foi desvalorizado em relação ao dólar durante 2018 e, posteriormente, a Argentina recorreu ao FMI mais uma vez. O valor de US$ 57 bilhões foi o maior já emprestado ao país sul-americano pelo fundo.

O último presidente eleito, Alberto Fernández, tentou conter a crise imprimindo dinheiro, desse modo, só agravou a inflação.

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Já a taxa de pobreza teve ligeira melhora se comparada à da última grande crise, mas continua alta, pouco abaixo dos 40%.

A Crise econômica na Argentina vai acabar?

O FMI condicionou seus empréstimos a certas metas que a Argentina deverá cumprir. Entre elas, está o acúmulo de suas reservas internacionais. Tal ponto é muito importante, já que as reservas do Banco Central argentino estão caindo. Em março, as reservas internacionais totalizavam US$ 43,3 bilhões; em junho, o total ficou em US$ 38 bilhões.

Além disso, outras medidas de contenção da crise adotadas pelo governo envolvem congelamento de preços, aumento de impostos para bens importados, suspensão das importações de artigos de luxo e proibição de demitir trabalhadores.

Argentina vs. Brasil

Por pertencerem ao Mercosul e serem parceiros de longa data, vira e mexe Brasil e Argentina têm suas economias comparadas. Mas você tem ideia de quão díspares elas são?

Abaixo, alguns números comparativos sobre a economia dos dois países:

IndicadorArgentinaBrasil
PIBUS$ 491,49 milhõesUS$ 1,61 bilhões
PIB per capitaUS$ 10.729,2 US$ 7.518,8
Crescimento do PIB (% anual)10,3 4,6
Desemprego (% 2º semestre 2022)6,98,7
Inflação (% anual) 50,98,3
Índice de Capital Humano (escala 0 a 1)0,60,6
Fonte: Banco Mundial; dados referentes a 2021 quando não especificado. Fonte da inflação da Argentina para 2021 e desemprego: Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).

*Os dados e observações acima, sobre o histórico de crises na Argentina, foram recolhidos no artigo acadêmico “As origens da crise argentina: uma sugestão de interpretação“, de autoria de Andrés Ferrari e André Moreira Cunha, e publicado na revista Economia e Sociedade, Volume 17, nº 2, 2008.

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