Mercado aprova pacote fiscal do governo, mas esperava mais
Ministro da Fazenda anunciou medidas para reduzir o déficit de R$ 231,5 bilhões previsto no Orçamento de 2023. Analistas avaliam que faltou cortar mais gastos
![Mercado aprova pacote fiscal do governo, mas esperava mais Fernando Haddad falando diante de um microfone](https://cdn.borainvestir.b3.com.br/2023/01/13140049/Jose-Cruz-AB.png.webp)
As medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para melhorar as contas públicas foram bem recebidas pelos analistas do mercado financeiro. As ações preveem o aumento da arrecadação do governo federal na ordem de R$ 192,7 bilhões, além de um corte de gastos de R$ 50 bilhões.
O impacto esperado é transformar o déficit de R$ 231,5 bilhões previsto no Orçamento para 2023, em superávit de R$ 11,13 bilhões – nos cálculos do ministério da Fazenda. O potencial ajuste do pacote, portanto, é de R$ 242,6 bilhões – o que equivale a 2,26% do Produto Interno Bruto (PIB). Haddad reconheceu, no entanto, que pode haver dificuldades, e mirou em déficit primário de 0,5% a 1% no ano.
“A meta de cada ação zera o déficit, mas nós sabemos que isso não vai ser atingido. Mesmo que a gente tome medidas para repor a frustração, tem um atraso que vai acontecer. E há despesas que podem surgir, porque a gente não recebeu o governo com transparência”, afirmou.
As principais medidas trazem uma reoneração de impostos e um programa de parcelamento extraordinário de dívidas nos moldes dos antigos programas conhecidos como Refis (Programa de Recuperação Fiscal).
Para os analistas do BTG Pactual, o pacote veio ligeiramente pior do que a expectativa, já que medidas permanentes que sinalizavam compromisso com o ajuste de médio prazo acabaram ficando de fora – como o fim do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – ou foram relativizadas como o Pis/Cofins de combustíveis.
“Dessa forma, o pacote anunciado acaba sendo muito dependente de receitas extraordinárias, cujo potencial arrecadatório é altamente incerto. Grande parte das medidas mais prováveis já estavam na nossa conta. Revisões na nossa projeção de primário [déficit] para 2023 ainda estão em estudo, mas enxergamos um potencial para mudanças limitado a R$ 50 bilhões [R$ 150 bilhões para R$ 100 bilhões)”, afirma o banco em relatório.
No ano passado, o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou dois decretos que reduziram o IPI para a maioria dos itens fabricados no Brasil. Em fevereiro, o corte foi de 25% e em agosto de 35% sobre itens como micro-ondas, refrigeradores, celulares, televisões etc.
Em relação a volta da cobrança de PIS/Cofins sobre gasolina, álcool, querosene de aviação e gás natural veicular a partir de março, o ministro da Fazenda afirmou “que ainda não há uma decisão política de aumentar o tributo dos combustíveis”. A medida teria potencial de arrecadação na ordem de R$ 28,8 bilhões neste ano.
Para os economistas da XP, a volta das alíquotas de PIS/Cofins sobre gasolina e etanol é provável, mas seu efeito é incerto, dada a sensibilidade política da medida.
“Acreditamos que apenas o fundo PIS/Pasep, o retorno de alíquotas de PIS/Cofins sobre receitas financeiras e a utilização de créditos de ICMS pelos contribuintes devem ter impacto relevante nas receitas, resultando em um ganho de R$ 57,4 bilhões. Já do lado das despesas, uma economia total de cerca de R$ 30 bilhões é viável”.
Polêmica do voto de qualidade
O pacote do governo federal trouxe de volta a polêmica do voto de qualidade do Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais). O órgão é a última instância administrativa para contribuintes discutirem a validade de autuações fiscais.
Até 2020, durante os julgamentos, o presidente da Turma – que sempre é um representante da Receita – desempatava a favor de manter a autuação fiscal. Em 2020, a regra passou a ser que em caso de empate a decisão é sempre a favor do contribuinte, ou seja, derrubando a autuação. Com o anúncio feito ontem, volta a valer a regra antiga.
“Os mercados de juros e de câmbio podem realizar após o anúncio das medidas fiscais para reduzir o déficit público deste ano. Fica a incerteza quanto à capacidade do governo de conseguir aprovar a medida provisória que trata das mudanças no CARF, como a volta do voto de qualidade, já revogada pelo Congresso”, conclui relatório da LCA Consultores.
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