Como as eleições municipais mexem com seus investimentos?
Impactos diretos e indiretos podem ser sentidos em diferentes segmentos; investidores com carteira diversificada estão cobertos
Por Rogério Piovezan
As eleições municipais deste ano não trazem tantos impactos diretos na volatilidade do mercado financeiro como o pleito federal e estadual ou a corrida pela Casa Branca nos EUA. Mas o agito político em 5.569 municípios pode, sim, respingar na expectativa dos investidores sobre setores mais específicos, como o imobiliário, saneamento básico, transporte, tecnologia, educação e saúde, segundo professores de ciência política e economia.
O primeiro turno acontece no dia 6 de outubro deste ano e mais de 155 milhões de eleitores estão aptos a votar nos candidatos à prefeitura e câmaras municipais, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O Sudeste tem a maior parcela de eleitores com 43%, seguido do Nordeste (27,8%), Sul (14,7%), Norte (8,3%) e Centro-Oeste (6,2%).
A capital paulista tem 27% do eleitorado de São Paulo, com mais de nove milhões de eleitores, o que torna o estado um dos maiores colégios eleitorais do País. Outros municípios seguem logo atrás: Belo Horizonte (MG), com 1.992.984 votantes, e a cidade do Rio de Janeiro, com 5.009.373, de acordo com o TSE.
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Esses municípios maiores, conforme os professores, são os que podem gerar mais impactos ao mercado financeiro, porque são onde as grandes empresas de diferentes segmentos estão instaladas. O efeito gerado, contudo, é no aumento da volatilidade de preços na renda variável para as empresas de capital aberto.
“O ideal seria ter uma boa diversificação da carteira para ter tempo de avaliar aquilo que vai acontecer à medida que o processo eleitoral evolui. É uma diversificação para estar coberto, com empresas que podem ganhar em projetos de infraestrutura, e em produtos de renda fixa para ter uma segurança, seja papéis de bancos ou do governo”, destaca o professor José Carlos de Sousa Filho, da FIA Business School.
Impactos diretos
Para o professor e pesquisador de finanças e contabilidade da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp), Luiz Eduardo Gaio, as eleições municipais trazem impactos diretos, apesar de ser em uma dimensão menor quando comparada com o pleito estadual e federal.
“Se o governo incentiva novas construções imobiliárias, os fundos de tijolos tendem a crescer, ainda mais onde estão instalados. Se o político busca pegar a legislação vigente dos casarões abandonados no centro de São Paulo e passar para a iniciativa privada, ou numa parceria, o fundo de investimento vai ver que ficou atrativo. Mas se ficar apenas no domínio do setor público, é o setor de construção que se beneficia”, observa.
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Um dos impactos diretos seria após o resultado eleitoral, no caso da nova administração municipal querer estimular a economia local. Segundo Gaio, essa ideia poderia ser articulada com o governo estadual e federal para atrair mais empresas a se instalarem na região. Isso poderia ser feito por meio de incentivos fiscais, de acordo com ele.
“Lá em Manaus tem a Zona Franca, que é isenta de tributação e isso atrai a indústria. Imagina se Minas Gerais também faz isso para atrair empresas de tecnologia? O que isso tem a ver com mercado financeiro? Muitas empresas nacionais têm capital aberto e vão querer estar ali, mas forem empresas estrangeiras, podem abrir capital e também investir.”
O alinhamento político entre o município e o governo federal também gera bons frutos ao mercado financeiro, segundo Sousa Filho.
“Outro aspecto é a influência sobre a política econômica local. Olhando pelo lado político, se tiver uma administração mais próxima do governo federal, é de se esperar que tenha mais facilidade com financiamentos para obras de infraestrutura. Pode ter efeitos em investimentos no saneamento básico para águas pluviais, pode ter um efeito no planejamento urbano e pode fazer com que empresas relacionadas a essas atividades venham a ter uma apreciação do seu valor de mercado. Isso afeta diretamente a renda variável”, afirma.
Impactos indiretos
A renda fixa passa longe desse agito, apesar da volatilidade gerada pela incerteza do cenário político ser um fator decisivo. O investidor deve ficar atento ao título público no qual aportou recursos. Segundo Gaio, os municípios podem emitir títulos quando precisam investir em algum segmento local, mas esses ativos não devem sofrer impactos das eleições municipais mesmo que a gestão seja trocada em uma eventual derrota nas urnas.
“Há municípios que fazem emissão de títulos para propósitos específicos. Se um município quer estimular o setor do meio ambiente, ele pode emitir um título de renda fixa”, ressalta Gaio.
“Os títulos municipais são garantidos pelo próprio Tesouro Municipal”, afirma Sousa Filho. “Não costuma ser a forma mais usual, principalmente nos grandes municípios, porque não seria uma grande fonte de recursos. As prefeituras preferem trabalhar com financiamentos em longo prazo sem comprometer títulos do próprio Tesouro.”
Outro efeito gerado pelo resultado pós-eleição municipal pode ser sentido na geração de emprego e renda. “Se o político faz um projeto e a comunidade começa a ter mais estímulo de emprego e renda e boa parte da população começa a juntar mais dinheiro, a população cria mais poupança e pode investir mais por ter mais dinheiro”, diz Gaio.
Já o cientista político do Fundação Getulio Vargas do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (FGV/CPDOC), Sérgio Praça, analisa sinais a longo prazo que despontam desde agora na corrida municipal.
“As eleições municipais podem sinalizar, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, futuros participantes da disputa presidencial. Elas são a base para o futuro a longo prazo do País”, conclui.
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