CEO do Cruzeiro fala da importância e desafios da SAF (clube-empresa) no Brasil
Em presença no painel do MKBR22, Gabriel Lima, dirigente do clube, discutiu a abertura da possibilidade de novos investimentos no ecossistema do futebol brasileiro
Na última quarta-feira, 21, o Cruzeiro Esporte Clube, tradicional time de futebol nacional, conquistou o acesso à primeira divisão do futebol brasileiro, voltando à elite após ser rebaixado em 2019. O time passou por um processo de reestruturação, mudança de gerência e aderiu a SAF, o modelo clube-empresa que foi aprovado por lei.
Horas antes da conquista pelo time mineiro, o CEO do time, Gabriel Lima, comentou sobre a importância do modelo de gerência, não só para o Cruzeiro, mas para o ecossistema do futebol brasileiro. A SAF e o novo modelo de gerência e negócios foi tema de discussão no MKBR22, evento voltado para o mercado de capitais que é organizado pela ANBIMA e pela B3, que aconteceu nos dias 21 e 22 de setembro.
Além da presença do CEO do Cruzeiro Esporte Clube, Gabriel Lima, o debate também contou com participação do sócio-fundador da Bichara e Motta Advogados e especialista em direito esportivo, Marcos Motta, e foi mediado pelo ex-jogador e empresário Kaká. Eles abordaram o advento da lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), a criação de uma liga de clubes e outros fatores que movimentam o futebol e aumentam a possibilidade de investimentos no setor.
Para os participantes, a lei da SAF possibilitou uma nova fase de futebol brasileiro, onde clubes como Vasco, Botafogo e Cruzeiro aderiram ao modelo para reestruturar os clubes. Porém, Gabriel Lima ainda enxerga desafios na mudança de mentalidade dos times brasileiros.
Clubes de futebol x empresas
Para ele, o maior desafio é fazer com que os conselheiros dos clubes em atual modelo associativo abram mão do poder que têm em prol de uma melhor governança pelo bem do time.
“O modelo associativo é um modelo político por natureza, com sua estrutura de conselheiros. Então, o primeiro exercício é o de despolitização do clube, onde se transfere as decisões para um investidor. Essa é a maior vantagem, pois é feita de forma mais rápida, com um processo de governança mais enxuto”, afirma o CEO do Cruzeiro.
O dirigente ainda afirma que os clubes vão se tornar empresas mais por necessidade que por decisão, por conta de dificuldades administrativas e financeiras, mas que em sua visão a SAF ou empresa traz mais responsabilidade. Isso porque, segundo ele, as consequências de uma má administração não seriam passadas para um próximo mandato, mas sim para o próprio patrimônio do dono.
O ex-jogador Kaká, que atuou por diversos clubes pelo mundo, nos sistemas de clube empresa ou associação, concorda com Lima e acredita que “a responsabilidade é o que faz a diferença”.
O especialista Marcos Motta diz que a SAF veio viabilizar os investimentos numa área que existe capital, como vemos pelo mundo, nos EUA e na Europa. Ele vê um momento de reposicionamento do futebol brasileiro, possibilitando o investimento no que temos de melhor.
“Na América do Sul temos um movimento da SAF, direitos de TV vencendo e apostas esportivas crescendo, é um período favorável para as mudanças”, acredita ele.
Liga de clubes no futebol
A possibilidade de uma organização de uma liga de clubes é outro ponto que os convidados destacam para as novas oportunidades de investimentos na área.
Para Lima, no atual cenário, o Brasil exporta apenas matéria prima (os jogadores). Porém, com uma maior governança e mudanças no sistema, há a possibilidade de exportar o conteúdo pronto e bem acabado, como outras ligas do mundo fazem atualmente.
“As ligas são os veículos que se comunicam com o mercado, que oferecem o produto. Podemos ter uma transição de um clube popular para um clube global se tivermos uma liga”, afirma Motta, sócio-fundador da Bichara e Motta Advogados.