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Copom deve manter Selic em 13,75% nesta quarta; saiba o que esperar do encontro

Pressão do governo por queda nos juros se soma a discussão em torno da nova regra fiscal, da piora das expectativas de inflação, escalada nos riscos de crédito e turbulências no setor bancário global

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, um homem branco, de terno e óculos, segura um microfone
O presidente do BC, Roberto Campos Neto. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A mais aguardada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central dos últimos tempos começa nesta terça-feira, 21/03 e terá seu desfecho anunciando um dia depois, assim que o mercado encerrar as suas atividades. As projeções dos economistas preveem a manutenção da Selic em 13,75% ao ano – valor em vigor desde agosto do ano passado. No entanto, os acontecimentos das últimas semanas podem tornar a decisão da política monetária mais difícil.

No cenário internacional, a crise bancária que começou em uma instituição voltada para startups californianas (Silicon Valley Bank), em 48 horas se espalhou para a que atuava no mercado de criptomoedas (Signature Bank). Logo atravessou o globo e chegou na Suíça que viu o banco secular Credit Suisse – assolado pela falta de credibilidade e vultuosos saques de correntistas – ser vendido para o rival UBS Bank com a intervenção direta do Estado. Autoridades bancárias internacionais sustentaram que a crise é pontual e não deve atingir o sistema financeiro internacional – como em 2008. Entretanto, a instabilidade nas finanças globais permanece.

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O economista-chefe da XP, Caio Megale e o analista Rodolfo Margato, afirmam que ainda não está claro o quanto os problemas bancários internacionais podem alterar o balanço de riscos do Copom.

“Os problemas bancários nos Estados Unidos e na Europa tendem a ser globalmente desinflacionários, mas podem ter um efeito negativo sobre a moeda brasileira e os preços das commodities, sem alterar de forma significativa a dinâmica da inflação doméstica”.

Para o economista e sócio da Nomos, Beto Saadia, o comunicado do Copom vai trazer o tom que o BC brasileiro vai adotar diante das turbulências bancárias internacionais. “O Cenário externo piorou e o mercado espera o tom que o comunicado vai usar para endereçar os problemas bancários recentes”.

Nova âncora fiscal

No Brasil, o Ministro da Fazenda corre contra o relógio para tentar apresentar a nova âncora fiscal antes da reunião do Copom. No entanto, a situação para Fernando Haddad tem ficado cada vez mais complicada, diante do “fogo amigo” que tem enfrentado dentro do próprio governo. Nomes do PT voltaram a pressioná-lo cobrando um texto flexível e que preveja um pouco de expansionismo fiscal para estimular o crescimento econômico. Ontem, até o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a destacar que investimentos e avanços sociais não podem ser colocados como gastos.

Hoje pela manhã, em entrevista ao site “Brasil 247“, o presidente Lula afirmou que só deve decidir sobre o novo arcabouço fiscal após retornar de sua viagem à China. Lula disse que não é preciso ter pressa e defendeu que é necessário ‘discutir mais’ o modelo.

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Para Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, sem um arcabouço fiscal definido, a decisão do Copom será de continuidade da política monetária atual. “No curto prazo, as coisas seriam diferentes com um novo arcabouço fiscal definido e se o cenário internacional não tivesse piorado como aconteceu. Portanto a manutenção da taxa de juros é esperada e o Copom deve seguir dizendo que vai estar vigilante com as questões da inflação e da ancoragem da meta”.

Avanço das expectativas de inflação

O cenário brasileiro ainda enfrenta um movimento de alta das expectativas de inflação no curto e no longo prazo – o que pressiona para a atuação de uma política monetária que desinflacione a economia. O boletim Focus desta semana mostrou que a estimativa para a inflação em 2023 está em 5,95% (superior ao teto da meta de 4,75%) e 4,11% no ano seguinte – também acima da meta de 3%. 

Diante do quadro descrito pelos economistas do mercado financeiro, os analistas macroeconômicos da XP destacam que os dados da economia brasileira desde o último Copom foram muito ruins para a dinâmica inflacionária.

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“Os núcleos do IPCA seguem rodando perto de 6%, sem sinais de perda de força – pelo contrário, até subiram frente a dezembro. As expectativas de inflação vem subindo, se afastando das metas, refletindo o risco de sustentabilidade da dívida pública e a possibilidade de aumento das metas de inflação – atualmente em 3,25% para 2023 e 3% a partir de 2024”.

A piora nas projeções de inflação se soma a choques recentes – como o caso da Americanas – que pode trazer uma contração mais forte do que a esperada para o crédito no Brasil. “Os eventos no mercado de crédito local atingiram fortemente os mercados de capitais e o setor de varejo, embora ainda não sejam nítidos os efeitos sobre a economia como um todo”, explica os economistas da XP.

O economista e sócio da Nomos alerta que a discussão sobre alterações nas metas de inflação continuam dentro do governo. Beto Saadia explica ainda que a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) subsidiando taxas de juros, pode trazer efeitos negativos para um possível abrandamento na política monetária.

“As expectativas de inflação ainda estão bem acima da meta e a discussão sobre subir a meta para 4%, ainda que tenha esfriado, deve voltar no meio do ano. Outro ponto de atenção é o ceticismo do mercado com a atuação do BNDES subsidiando taxas de juros para setores selecionados o que reduz a eficácia da política monetária”.

Juros em 2023

Diante desse quadro, as casas de análise econômica ainda mantém a projeção que a Selic possa cair para 13,25% em novembro e seja reduzida outra vez em dezembro, para 12,75% ao ano. No entanto, a possibilidade de cortes de juros mais cedo vai depender da evolução dos choques financeiros e do mercado de crédito doméstico.

“Mesmo que os choques se dissipem, o Copom pode argumentar que as taxas de juros reais ao redor de 8% são bastante elevadas, sendo possível alguma flexibilização gradual mantendo a política monetária no campo contracionista. Para isso, o Comitê precisaria de uma extensão do horizonte de convergência da inflação. Independentemente da conveniência desta estratégia, consideramos um cenário plausível no momento atual”, conclui o time da XP.

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