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“O que há de pior na economia? Spread bancário elevado”, diz consultor financeiro Gustavo Cerbasi

O Brasil é conhecido por ser um dos países com maior spread bancário

Gustavo Cerbasi/ Foto: Diego Ubilla/Insper
Gustavo Cerbasi/ Foto: Diego Ubilla/Insper

Uma das mazelas da economia brasileira, segundo o consultor financeiro da SuperRico Gustavo Cerbasi, é o spread bancário elevado. Atualmente, o spread geral está em 19,7 pontos porcentuais após um aumento de 0,4% no ano passado, de acordo com balanço divulgado na terça-feira (06/02) pelo Banco Central. O Brasil é conhecido por ser um dos países com maior spread bancário do mundo.

A fala ocorreu durante o painel Planejamento Financeiro: inovações e desafios dos profissionais da área, nesta quarta-feira (28), na sede do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), na capital de São Paulo. Cerbasi explicava o impacto do seu trabalho na economia e projetava algumas expectativas otimistas, como a redução do spread bancário nos próximos anos.

“O que há de pior na economia? O spread bancário [elevado]. Nós estamos trabalhando para reduzir o spread bancário. Quem perde com isso? Apenas o informal. O banco não é afetado, estou tirando o custo do banco. Estou tirando a ineficiência do processo. Então, o que deve acontecer nos próximos anos? Com spread menor, com dinheiro circulando mais para consumo e serviços, e não para pagamento de juros, nós teremos uma cadeia produtiva maior”, afirmou no evento.

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Em uma hipótese, Cerbasi disse que quando se compra uma camiseta o lucro está indo para o lojista que, por sua vez, passa para o distribuidor, depois para o produtor e assim sucessivamente em um efeito em cadeia.

“Isso vai afetar o lucro do banco? Não, porque quando o banco percebe que o comércio está crescendo, a indústria está crescendo e os serviços também, o crédito se direciona para financiar essas atividades, para financiar produção. É o que falta no Brasil, que financia consumo. É absurdo. Nós temos que financiar produção”, destacou.

Ao Bora Investir, ele esclareceu que o spread não é uma imposição dos bancos, mas sim um ponto de ineficiência deste processo na economia. “Não tem quem perca quando as pessoas consomem mais serviços e produtos. Muita gente perde quando só consomem serviços financeiros. Então, ao reduzir o spread bancário, eu estou convidando as famílias a pagarem menos juros e consumirem mais sem que essa redução seja uma perda de lucro ao banco”.

O que é spread bancário?

O termo se refere à diferença entre os juros que o banco cobra ao emprestar dinheiro e a taxa de juros que a própria instituição paga ao captar dinheiro, de acordo com Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

O valor a ser cobrado costuma variar a cada operação, conforme o Ipea. Além disso, o valor do spread bancário geralmente é maior para pessoas físicas do que para as empresas. O instituto ainda informou que o Brasil é conhecido por ser um dos países com maior spread bancário.

Um dos fatores que influenciam na composição da taxa de captação do banco é a Selic — taxa básica de juros — que está em 11,25% ao ano, de acordo com o Banco Central. Outro item que pressiona na elevação do spread é o aumento de famílias inadimplentes no País, que atinge quase um terço da população, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

“O spread bancário elevado significa uma cadeia produtiva curta para o salário do trabalhador. Quando ele está endividado, ele gasta mais com juros, que remunera o setor bancário, mas não beneficia a economia diretamente”, disse.

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