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Por que o acesso ao crédito está mais caro e difícil no Brasil? Entenda

Juros altos, inflação elevada e inadimplência recorde encarecem o custo do crédito e derrubam a demanda no país. Empréstimos mais caros viram solução para muitas famílias

Homem e mulher vistos de cima lidam com contas a pagar e cálculos
Programa de renegociação de dívidas foi encerrado nessa segunda-feira (20). Foto: Adobe Stock

Inadimplência recorde (70 milhões de pessoas negativadas), inflação em patamares elevados (IPCA em 12 meses está em 5,60%) e juros no maior patamar em sete anos (com a taxa Selic em 13,75% ao ano). Esse é o combo de problemas que tornam o momento atual desfavorável para pegar dinheiro emprestado. Todas essas condições já afetam as concessões e os custos do crédito no país.

Em fevereiro, o sistema financeiro concedeu 9,5% a menos de novos empréstimos e financiamentos em relação ao mês anterior, segundo o Banco Central. Apenas para as famílias a queda foi de 10,5% na comparação com janeiro. Pelo critério dessazonalizado – que retira os efeitos que acontecem em uma determinada época – o recuo foi de 2,2% no mês passado, período em que somaram R$ 499,9 bilhões. Em janeiro, haviam totalizado R$ 511,2 bilhões.

O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, afirma que a demanda diminui justamente porque o país está em um processo de aperto monetário. O analista explica que o Banco Central aumenta a taxa de juros de forma sistemática e recorrente visando combater a inflação, e um dos canais onde essa estratégia funciona é justamente o do crédito.

“É através do esfriamento do crédito que a demanda acaba reduzindo. Essa desaceleração da economia faz com que a inflação recue e o BC atinja a sua estratégia de desinflação. Então, quem estava pensando em financiar imóvel ou um veículos, por exemplo, passou a perceber que no momento a prestação não cabe mais no bolso. Então isso acaba retraindo a demanda, principalmente dessas linhas mais longas, de produtos que tem maior valor e consome uma parcela relevante do orçamento mensal”. 

Essa tendência apontada pelo economista é confirmada pelos números dos financiamentos imobiliários com recursos das cadernetas de poupança (SBPE) que estão em desaceleração desde agosto do ano passado. 

No primeiro bimestre de 2023, os empréstimos somaram R$ 22,4 bilhões, redução de 15,3% em relação a igual período do ano passado. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Importante lembrar que o Produto Interno Bruto (PIB) do país começou a desacelerar no segundo trimestre de 2022 – já reflexo dos juros em patamares elevados, como mostra o gráfico a seguir.

VALORES FINANCIADOS – IMÓVEIS

(em R$ Bilhões) / Fonte: Abecip