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Selic em 12,25% e juros estáveis nos EUA; saiba o que espera da ‘Super Quarta’

No Brasil, impacto do cenário externo na inflação preocupa analistas. Já nos EUA, força da economia pressiona os preços e impõe uma política monetária mais dura

Selic. Foto: Adobe Stock
É unanimidade entre os analistas do mercado que o Comitê de Política Monetária deve fazer mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros. Foto: Adobe Stock

A semana será curta em duração, mas enorme em expectativas. Nem mesmo o feriadão de Finados vai diminuir a ansiedade dos investidores para as decisões de política monetária do Brasil e Estados Unidos nesta quarta-feira, 01/11 – a chamada ‘Super Quarta‘.

É unanimidade entre os analistas do mercado que o Comitê de Política Monetária deve fazer mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, o que leva a Selic para 12,25% ao ano. A última ata do Copom já sinalizava para essa possibilidade.

O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, afirma que o comunicado virá em linha com o anterior, ou seja, vai apontar uma redução da mesma magnitude nas próximas reuniões com o objetivo de levar a inflação à meta.

“O que deve colocar uma barra alta tanto para aceleração quanto para a desaceleração do ritmo de ajuste”, explica. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano, após dois cortes de 0,50 ponto.

Já os juros nos Estados Unidos devem permanecer no intervalo entre 5,25% e 5,50% pela segunda reunião consecutiva. Essa é a principal aposta, diante da escalada dos rendimentos (yields) dos títulos do Tesouro americano de dez anos. (ver mais abaixo).

Esse patamar alto dos juros nos Estados Unidos é o principal ponto de atenção para os analistas hoje, que veem esse cenário externo como ruim para a inflação brasileira.

Segundo o superintendente da assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Everton Gonçalves, o elevado déficit público americano sustenta o dólar em alta.

“Consequentemente, há uma deterioração na aversão ao risco que gera pressão nos preços dos ativos de países emergentes que, em última instância, poderá comprometer a velocidade do processo de desinflação e, por sua vez, impor limites para a redução da taxa básica de juros.”

Cenário interno de inflação

O boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma piora nas expectativa de inflação para 2024. Para o sócio da Aware Investments, Alex Silva, esse mudança no chamado horizonte da política monetária não trará impactos na decisão do Copom.

“Isso não significa uma mudança de sentimentos. Apenas evidencia a reancoragem parcial após a manutenção da meta de inflação em 3% para os próximos anos”, explica.

Segundo o economista da ABBC, os indicadores recentes de inflação têm mostrado uma desaceleração dos preços, principalmente do setor de serviços. No entanto, o mercado de trabalho ainda forte pressiona.

“A moderação nos ganhos nos indicadores relativos ao mercado de trabalho favoreceria uma dinâmica benigna para a inflação, que vem sendo corroborada nas principais medidas de núcleo e de inflação subjacente”, conclui Gonçalves.

Situação fiscal e falas de Lula

Os economistas ainda não têm um consenso sobre os possíveis impactos da declaração do presidente Lula contra zerar o déficit das contas públicas em 2024, na reunião do Copom desta quarta-feira.

Os analistas, no entanto, lembram da importância que o Comitê tem dado ao assunto – principalmente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

No comunicado do último encontro, o Copom afirmou que “tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”.

O sócio da Aware Investments lembra que o equilíbrio das contas públicas esbarra na necessidade de aumento na arrecadação, o que tem sido um enorme entrave para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que depende do Congresso para aprová-las.

“O cenário para as contas do governo em 2024 se tornou mais desafiador por conta do cenário externo, que tem reduzido o preço das commodities, mesmo assim não acreditamos na mudança de cenário da meta de déficit fiscal zero”, conclui Alex Silva.

Cenário de juros nos EUA

A inflação ainda em patamares elevados e o mercado de trabalho resiliente seguem como combustível para o Federal Reserve, o BC americano, manter os juros no maior patamar em 22 anos na reunião desta quarta-feira.

A alta dos rendimentos dos Treasuries deve reforçar essa postura cautelosa do Fed, uma vez que os yields em patamares elevados já fazem o trabalho do BC de esfriar a economia. Esses juros mais altos encarecem o financiamento da população e das empresas, e ajuda a frear o mercado de trabalho.

“Economia robusta significa apenas mais trabalho para baixar a inflação e acredito que o mundo precisa engasgar. Após a Covid e a enxurrada de dinheiro, o mundo ainda não se engasgou”, afirma sócio da Aware Investments.

Para 2024, Alex Silva acredita numa retomada de alta dos juros nos Estados Unidos, mas não em uma recessão. “A inflação permanece elevada e geração de emprego mais forte do que as previsões anteriores formatam nossa opinião manutenção de um ‘pouso suave’”, conclui.

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