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Recompra de ações cresceu 18% no Brasil em 2022; país fica em 13º no ranking global

Volume de recompra de ações de empresas brasileiras atingiu 6,71 bilhões de dólares no ano passado, 18% mais do que no ano anterior

Celular com gráfico de ações: recompras aumentaram 22%, atingindo US$ 1,31 trilhão em 2022. Foto: Wance Paleri/ Unsplash
Celular com gráfico de ações: bom momento da bolsa deve continuar. Foto: Wance Paleri/ Unsplash

Em 2022 as empresas brasileiras recompraram ações no valor de US$ 6,71 bilhões de dólares, valor 18% maior do que o do ano anterior.

Esse montante colocou o país na 13ª posição no ranking global de recompra de ações. Se considerarmos apenas os mercados emergentes, o Brasil perde apenas da China. É o que aponta um suplemento especial do Janus Henderson Global Dividend Index.

Geralmente, as empresas recompram suas ações quando acham que os papéis estão desvalorizados, explica Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB investimentos. “É uma ferramenta que pode proporcionar uma vantagem financeira, caso as previsões sobre o negócio estejam corretas”.

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Globalmente, as recompras de ações também atingiram um recorde no ano passado, quase se igualando ao montante distribuído na forma de dividendos em 2022.

Segundo o levantamento, as 1.200 maiores empresas do mundo recompraram um recorde de US$ 1,31 de suas ações, quase igual ao US$ 1,39 trilhão que as mesmas empresas pagaram em dividendos durante o ano. Além disso, o total foi 22% superior ao de 2021, que havia estabelecido o recorde anterior.

Setor de petróleo contribuiu mais

A maior contribuição para o crescimento da recompra de ações em 2022 veio do setor de petróleo, no qual as empresas recompraram US$ 135 bilhões de suas próprias ações, mais de quatro vezes mais do que em 2021. Quase todo esse dinheiro do setor foi gasto por empresas na América do Norte, no Reino Unido e, em menor escala, na Europa.

Os números globais estão bastante concentrados em algumas empresas. A Apple é uma das maiores compradoras mundiais de suas próprias ações, com um valor de US$ 89 bilhões para seu ano fiscal de 2022, quase 7% do total global.

Os dez maiores compradores representaram quase um quarto do total global e apenas um deles, a Shell do Reino Unido, estava fora dos EUA. A Nestlé foi uma das maiores compradoras de suas próprias ações na Europa no ano passado.

EmpresaValor de recompra (em US$ bilhões)
Apple Inc.88,4
Alphabet Inc. Class A59,3
Microsoft Corporation28,6
Meta Platforms Inc. Class A28
Shell Plc18,9
Exxon Mobil Corporation15,2
Comcast Corporation Class A13,3
S&P Global, Inc.12
Marathon Petroleum Corporation11,9
Visa10,6
Janus Henderson Global Dividend Index

As petroleiras recompraram mais ações em um ano no qual o petróleo registrou forte alta. As companhias de tecnologia também vieram reportando muitos lucros nos últimos anos, aponta Cruz, da RB. “Portanto, a recompra está relacionada ao desempenho delas: elas estão lucrativas e optam por recomprar ações e aumentar dividendos, por exemplo”.

Tendência de longo prazo

O crescimento das recompras não é um fenômeno de um ano. Essas operações quase triplicaram de valor desde 2012 (182%), superando facilmente o aumento de 54% nos dividendos no mesmo período.

Em todas as regiões, em quase todos os países e em quase todos os setores, houve um forte crescimento. O maior salto ocorreu em 2018 e foi causado principalmente pelas empresas de tecnologia dos EUA, que aumentaram seus programas de recompra.

Em 2012, globalmente, elas equivaliam a apenas 52% dos dividendos, variando de 3% nos mercados emergentes a 102% na América do Norte. Em 2022, o número global havia saltado para 94%, variando de 18% nos mercados emergentes a 158% na América do Norte.

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No setor de mídia, que inclui a Meta, proprietária do Facebook, e a Alphabet, proprietária do Google, nenhuma das empresas paga dividendos, mas ambas são grandes compradoras de suas próprias ações. O valor global das recompras de ações do setor foi 8 vezes maior do que os dividendos pagos em 2022.

Em contrapartida, no setor de serviços públicos com alto rendimento de dividendos, os dividendos foram 8 vezes maiores do que as recompras. A soma das recompras e dos dividendos, o chamado rendimento total do acionista, reduz significativamente as diferenças.

Ben Lofthouse, diretor de renda variável global da Janus Henderson, aponta que o rápido crescimento das recompras nos últimos três anos reflete fortes lucros, fluxo de caixa livre e uma disposição para recompensar os acionistas sem estabelecer expectativas em relação aos dividendos.

Alta deve continuar?

Lofthouse aponta desafios à frente para que as recompras continuem ocorrendo, já que o custo global do capital é agora significativamente mais alto do que nos últimos anos.

“Quando as empresas podiam, essencialmente, acessar o financiamento a um custo quase zero, havia um grande incentivo para emitir dívidas e recomprar ações, pois isso agregava muito valor. Agora, o custo do capital aumentou, nos Estados Unidos e no mundo”.

O diretor de renda variável ressalta que esse cenário não muda para empresas que geram grandes volumes de caixa, como a Apple ou a Alphabet. Mas para outras, especialmente nos EUA, que usaram empréstimos para financiar recompras, os cálculos agora “serão muito mais equilibrados”.

Recompra de ações gera valor?

Nem sempre os acionistas podem confiar nas recompras para aumentar retornos dos papéis, aponta o analista da Janus Henderson. “As empresas não são obrigadas a recomprar ações, e isso torna essas operações mais voláteis. Foi o que aconteceu na crise da Covid em 2020, quando caíram drasticamente”.

Portanto, recompra de ações nem sempre criam valor para os acionistas, conclui a especialista. “Investidores que dependem de um fluxo de renda de seus investimentos geralmente preferem que a empresa distribua dividendos”.

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