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‘Super Quarta’ terá Selic a 11,75% e juros estáveis nos EUA, projetam analistas

No Brasil, redução vai levar taxa ao menor nível em dois anos, mas economia resiliente preocupa. Nos EUA, inflação de serviços elevada impõe política monetária restritiva

Dados com setas exemplificam o aumento e baixa de juros; renda fixa. Foto: AdobeStock
A Selic é taxa básica de juros do Brasil, e grande parte dos investimentos de renda fixa se baseiam nela

As últimas decisões do ano sobre a política monetária no Brasil e nos Estados Unidos estão no foco dos investidores nesta quarta-feira, 13/12, conhecida no mercado financeiro como a ‘Super Quarta’.

Os analistas mantêm a previsão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve fazer mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, o que leva a Selic para 11,75% ao ano. Hoje, a taxa está em 12,25%, após três cortes na mesma proporção.            

Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, o ritmo segue o mesmo apesar da leve aceleração da inflação mensal de novembro e do repique dos preços de serviços, por conta do aumento das passagens aéreas no mês passado.

“A gente está vendo uma normalização da inflação depois de meses em baixa. Os alimentos começaram a subir por causa do El Niño. A inflação de serviços subiu, mas quando olhamos o núcleo, ele está rodando em torno de 0,30%. Portanto bastante natural esse processo e isso não é um impeditivo para o BC nesse momento”.

Em relação à política fiscal, a manutenção da meta de déficit zero em 2024 deve levar o Copom apenas a reforçar a importância de se perseguir o equilíbrio das contas públicas.

Cenário externo desanuviou

As incertezas no cenário externo, que eram preocupação do Comitê na reunião passada, se dissiparam. Essa melhora veio da desaceleração dos juros de longo prazo nos Estados Unidos e do processo de desinflação da economia americana.

“O mercado de trabalho nos EUA continua resiliente, mas sem grandes pressões salariais. Então, o cenário externo caminhou numa direção mais construtiva”, explica Borsoi.

Economia brasileira resiliente preocupa            

O Copom deve apontar um cenário de cautela para a economia brasileira, que passa por uma desaceleração mais fraca que o esperado. No 3º trimestre, o Produto Interno Bruto cresceu, na contramão da expectativa do mercado.

O principal motor da economia hoje é o consumo das famílias, um dos canais sobre o quais o BC atua para frear a atividade. Segundo o economista-chefe da Nova Futura, esse cenário mais firme mostra “que o Copom precisa tomar um pouco de cuidado com esse ritmo de cortes”.

O mercado de trabalho também segue com uma boa criação de vagas, além do desemprego em queda.

Próximos passos dos juros

No comunicado de hoje, o Comitê deve sinalizar novos cortes de 0,5 p.p. nas próximas reuniões de 2024 diante de uma inflação mais comportada. A possibilidade de uma aceleração no ritmo desse ajuste, no entanto, está descartada.

O estrategista-chefe Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, afirma que os principais fatores que limitam um corte maior na taxa básica de juros são:

  • projeções de inflação para 2024 e 2025 acima da meta de 3%;
  • expectativas de inflação ainda desancoradas;
  • incertezas relativas à política fiscal seguem elevadas;
  • resiliência da atividade doméstica, com um mercado de trabalho robusto.

“Apesar da dinâmica mais benigna da inflação de serviços, esse fator é insuficiente para uma postura mais agressiva da política monetária. Por outro lado, não vemos razão para que o Copom reduza o ritmo de cortes para 0,25 p.p, tendo em vista o patamar contracionista da Selic”.

Cenário de juros nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, os analistas projetam que os juros devem permanecer no intervalo entre 5,25% e 5,50% pela terceira reunião consecutiva. Isso se deve ao elevado patamar da inflação dos serviços e do repique nos preços registrados em novembro.

“A inflação dos serviços e do aluguel sedimenta a ideia do Fed de que os juros vão ficar altos por bastante tempo. O Powell [presidente do BC americano] já deixou claro que se precisar pode subir os juros mais um pouco”, relembra o economista-chefe da Nova Futura.

Para 2024, Nicolas Borsoi vai na contramão de alguns analistas de mercado e diz que dificilmente o Federal Reserve vai começar um processo de afrouxamento monetário já no 1º trimestre.

“A gente tem visto uma recuperação nos preços de imóveis e a interrupção do processo de esfriamento dos salários, que estão num patamar em torno de 4% – bem acima do que o Fed precisa para trazer a inflação para 2%. Isso me faz crer que o corte de juros deve ser mais para o segundo trimestre do ano que vem”.

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