Objetivos financeiros

ESPECIAL LGBTQIA+: Liberdade financeira como aspecto de saúde mental e segurança

Entenda a importância do cuidado com as finanças para a autonomia e segurança à população LGBTQIA+

Bandeira LGBTQIA+ ao vento. Foto: Unsplash
A segurança financeira é o principal motivo que leva as pessoas LGBTQIA+ a investirem (35%). Foto: Unsplash

A liberdade financeira está atrelada ao poder de fazer escolhas sem a pressão do dinheiro. Esse é um desejo que pode ser considerado de todos, porém, toma proporções maiores quando se trata de grupos mais vulneráveis. 

Segundo Arlane Gonçalves, CEO da AGC, Consultoria de Cultura, Liderança e Equidade, ao falarmos da população LGBTQIA+ como vulnerável, é sempre importante refletirmos sobre as intersecções de gênero, raça e classe que, conforme sobrepostas, intensificam os desafios que este grupo enfrenta – e um deles está na questão financeira. 

“A liberdade financeira para a população LGBTQIA+ pode significar a possibilidade de ter autonomia e segurança, especialmente em situações em que a família de origem não aceita a orientação sexual ou identidade de gênero da pessoa, permitindo a chance de sair de ambientes hostis”, aponta.

Segundo o Raio X do Investidor Brasileiro – 7ª edição, pesquisa anual realizada pela Anbima em parceria com o Datafolha, a segurança financeira é o principal motivo que leva as pessoas LGBTQIA+ a investirem (35%). Com o retorno financeiro sendo o segundo lugar (24%).

Esta matéria faz parte da série Especial LGBTQIA+🏳️‍🌈, uma iniciativa do Bora Investir. Ao todo, são quatro capítulos publicados toda sexta-feira durante o mês de junho, trazendo um olhar singular da população LGBTQIA+ e os desafios que enfrentam no universo dos investimentos e da educação financeira.

Confira a primeira matéria do ESPECIAL LGBTQIA+: Jovem transforma Selic e CDI em personagens para ensinar economês

💵🚫 Impactos da insegurança financeira 

Para Robson Gonçalves, professor de Economia Comportamental nos MBAs da FGV, a insegurança financeira traz diversos impactos na vida das pessoas. E, que este aspecto afeta principalmente o comportamento da pessoa.

Ele explica que o ser humano evoluiu para procurar riscos no ambiente — o que nos leva a ser mais sensíveis às ameaças do que às recompensas, por exemplo. 

“Uma pessoa que está numa situação financeira frágil está o tempo todo com o seu nível de adrenalina e cortisol mais alto. Porque ela tá com receio de que vai chegar um boleto, ela tá com receio de que vai haver uma cobrança. O telefone toca, ela pode achar que é o banco ligando. Ou então, ela sai com os amigos e, de repente, na hora de rachar uma conta, fica com medo de que a conta seja muito alta e nem curte, muitas vezes, o jantar, o barzinho, etc., por conta desse receio”, aponta.

Por isso ele afirma que a insegurança financeira, como outras fontes de ameaça, torna-se um elemento depressor. Ela gera um estado que, quando se prolonga muito, causa um sentimento de pessimismo, de frustração, uma dificuldade de aproveitar momentos bons.

“Com isso, a insegurança financeira, como qualquer elemento de insegurança, é quase que uma espécie de tortura psicológica, que corroe a nossa autoestima, nos coloca numa situação de contínua tensão e reduz a nossa capacidade de curtir os momentos bons da vida”, ressalta.

🏳️‍🌈🧠 Liberdade financeira e saúde mental

Para a CEO da AGC, a liberdade financeira está ligada à saúde mental em dimensões como o fortalecimento da autoestima, uma vez que ter controle sobre a própria vida financeira aumenta a autoestima e o senso de realização pessoal, o que contribui para uma melhor saúde mental. 

“Ela também pode facilitar atendimento de necessidades como o acesso a serviços de saúde: com recursos financeiros, eles se tornam acessíveis, incluindo terapia e cuidados específicos para a população LGBTQIA+, como tratamentos hormonais ou cirurgias de afirmação de gênero”, ressalta. 

O professor da FGV ainda destaca que o bem-estar de não depender de ninguém financeiramente acaba fazendo com que se tenha sucesso em situações da vida, porque você está numa condição mental equilibrada.

“Em síntese, a autoestima vinda da liberdade financeira ajuda a gente a tomar decisões melhores. Não a euforia, mas uma boa autoestima. Uma pessoa que tem orgulho de si mesma, uma pessoa que se sente empoderada, toma decisões melhores, inclusive decisões financeiras melhores”, afirma ele.

🔎💸  Como conquistar a liberdade financeira

A conquista da segurança, liberdade e independência financeira não acontece do dia para a noite. Principalmente, quando há menos privilégio e apoio estrutural para trilhar esse caminho.

Contudo a consultora de diversidade aponta que uma pessoa LGBTQIA+ com um alto grau de vulnerabilidade pode buscar, por exemplo, o acesso às políticas públicas de assistência e distribuição de renda. Assim como serviços prestados por organizações da sociedade civil que trazem acolhimento e atendimento específicos para esta população.

“Podemos citar como exemplos a Casa Florescer (São Paulo, SP), Casa Nem (Rio de Janeiro, RJ), Casa Miga (Manaus, AM) e Casa Transformar (Fortaleza, CE)”. 

Agora, quando falamos de pessoas com suas necessidades básicas supridas, a educação financeira é um dos primeiros passos recomendados, pois pode ser uma ferramenta de transformação da realidade e de abertura de novas possibilidades. 

Ela também cita que o empreendedorismo acaba sendo, muitas vezes, uma válvula de escape na busca da independência financeira e na corrida para se livrar de ambientes hostis do mercado de trabalho. E a prática constante de fazer networking e construir relações com pessoas mentoras e facilitadoras pode pavimentar o acesso às boas oportunidades. 

“Além disso, a liberdade financeira pode ajudar a mitigar os efeitos da discriminação no local de trabalho ou em outros aspectos da vida. Ter uma reserva financeira, por exemplo, oferece uma rede de segurança que permite enfrentar desafios e transições de emprego com mais tranquilidade”, ressalta.

🌈💰 Como as pessoas LGBTQIA+ investem

De acordo com a pesquisa da Anbima em parceria com o Datafolha, 43% das pessoas que se declaram LGBTQIA+ investem. Uma mudança benéfica de comportamento, visto que em 2022 o percentual registrado foi menor, de 37%.

Em relação a quem não guarda dinheiro de forma alguma, o total de pessoas LGBTQIA+ caiu quatro pontos percentuais, passando de 50% (2022) para 46% (2023).

A caderneta de poupança ainda é o produto mais utilizado pela população declarante LGBTQIA+ e representa 25% do total investido. Os títulos privados passaram a ser a segunda opção favorita do grupo em 2023, com 8%, ultrapassando os fundos de investimento (4%). Também houve crescimento no percentual de aplicações em moedas digitais de um ano para outro (4% em 2022 e 6% em 2023).

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