Alta da Selic ou queda dos juros dos EUA: o que impacta mais a bolsa brasileira e por quê?
Sentidos contrários nas decisões dos juros no Brasil e nos EUA mostram momentos distintos da política monetária dos países
Na última semana tivemos a chamada ‘Super Quarta’, quando as decisões sobre o patamar de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos acontecem no mesmo dia. Por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,75% ao ano. Já nos EUA, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) optou reduzir sua taxa de juros em 0,50 ponto porcentual, para a faixa entre 4,75% e 5,00% ao ano.
Os juros locais, assim como os da maior economia do mundo, interferem no modo como os investidores se comportam. Sabemos que juros mais altos fortalecem a renda fixa, assim como taxas menores levam mais investimentos à renda variável. Por isso, a direção contrária entre as decisões pode gerar uma dúvida: qual mudança interfere mais nos investimentos da bolsa de valores brasileira?
Impactos da baixa nos juros dos EUA nos investimentos da bolsa brasileira
Por se tratar da maior economia e da maior concentração de investimentos do mundo, as decisões que afetam o mercado de capitais nos EUA também afetam os outros países.
Segundo José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School, quando o Fed reduz a taxa americana, os ativos de renda fixa por lá se tornam menos atrativos, o que pode gerar um incentivo para mercados emergentes que ofereçam um potencial de remuneração mais alta, como o Brasil.
Em determinados momentos, de acordo com Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, isso pode valorizar a bolsa brasileira, principalmente em setores que dependem de exportações ou têm dívida atrelada ao dólar, “pois o custo de captação de recursos externos diminui e a atratividade de investimentos na renda variável aumenta”.
Souza Filho ainda aponta que como a busca por Real aumenta por conta dos investimentos, isto tende a desaquecer a valorização do dólar e pode alterar o apetite a risco dos investidores externos. Além disso, pode facilitar a situação de empresas que dependem de crédito externo, que se beneficiam da queda de juros lá fora.
Impactos da alta da Selic nos investimentos da bolsa brasileira
Mais diretamente, o professor da FIA Business School aponta que o que ocorre é que os títulos públicos e de crédito privado se tornam mais interessantes, o que pode provocar uma migração dos investimentos de risco para os de renda variável com rendimentos mais elevados.
“Isto faz com que investimentos como CDB, LCI, LCA e títulos do Tesouro Direto ofereçam mais rentabilidade com risco mais baixo”, destaca.
Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest, ressalta que o aumento da Selic tem um impacto significativo no setor produtivo, pois encarece o crédito, dificultando o acesso das empresas a financiamento e elevando seus custos operacionais. Essa situação pode desacelerar investimentos e a produção, afetando negativamente o crescimento econômico.
“Em paralelo, em períodos de alta inflação, a população tende a buscar proteção para seu poder de compra, optando por investimentos em ativos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, ou diversificando para produtos que ofereçam retornos acima da inflação”, diz.
Qual das decisões de juros afeta mais a bolsa?
Se a queda de juros traz possíveis benefícios para a bolsa brasileira e alta da Selic pode trazer dificuldades, qual sinal prevalece? Para o analista da Ouro Preto Investimentos, o corte de juros nos EUA tende a ter um impacto maior na Bolsa brasileira, pois estimula a entrada de capital estrangeiro, fortalecendo setores exportadores e empresas endividadas em dólar.
“No entanto, fatores internos, como risco fiscal, crescimento econômico e inflação, também podem influenciar significativamente o desempenho da Bolsa e não podem ser ignorados”, alerta Lima.
Já o professor da FIA Business School acredita que o aumento dos juros no Brasil impacta diretamente e de forma imediata o preço dos papéis na Bolsa de Valores. Já os juros americanos apresentam um efeito mais indireto, pois dependem de outros fatores.
“Um deles é o risco global e também a política fiscal dos Estados Unidos. Mas esse efeito é sempre mais gradual e muito menos previsível por se tratar de movimentos de capital internacional, que analisam o mercado mundial como um todo”, destaca.
O que significa a diferença de direção nos juros dos dois BCs?
Os especialistas apontam que a diferença de direção entre o Banco Central do Brasil e o Federal Reserve reflete os contextos econômicos completamente distintos.
No caso do Brasil, existe uma preocupação maior com a inflação futura, com seus indícios de aceleração (crescimento do consumo acima da capacidade de crescimento da produção) e a proteção da moeda local.
Por sua vez, nos EUA, a política monetária busca proteger o crescimento econômico e o emprego, que já a algum tempo chamam atenção por sua desaceleração. Segundo Sidney Lima, essas divergências afetam os fluxos de capital global, com os investidores ajustando suas posições conforme os riscos e retornos esperados em cada mercado.
Por fim, Souza Filho acredita que as decisões dos Estados Unidos têm uma abrangência mais global, interferindo nas decisões de outros países.
“Nas dimensões atuais, não existe um risco de uma supervalorização do real em relação ao dólar por conta disto, fatores que poderiam ter efeitos em prazos mais longos de defasagem”, completa.
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