Até quando o Copom vai manter a Selic em 15%?
Comitê manteve a taxa básica de juros pela terceira reunião consecutiva, e não deu pistas de quando deve começar a cortar
Conforme amplamente esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% ao ano na reunião de novembro. Mas se havia unanimidade sobre a decisão em si, os analistas agora divergem sobre quando o colegiado poderá iniciar um ciclo de redução de juros. Há quem espere um corte na Selic já em dezembro, mas a maior parte das projeções aponta para um afrouxamento monetário só no primeiro semestre de 2026.
O que disse o Copom?
O comunicado de ontem basicamente repete o que foi publicado na reunião anterior, diz Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset. “Mas quando ele faz isso, a gente tem que tentar entender qual informação ele quer passar. Nesse sentido, tem alguns elementos dovish e hawkish [mais brandos e mais duros no combate à inflação]”, diz Lima.
Na reunião de setembro, o BC dizia ser necessário avaliar se o atual patamar de juros seria suficiente para controlar a inflação. “Agora, mostra convicção de que é suficiente. Isso tira um pouco de incerteza”, avalia o gestor. Por outro lado, o comunicado é duro ao manter a frase em que diz que manterá a Selic no patamar atual por período prolongado.
Quando os juros devem começar a cair?
Segundo Lima, o que o Copom busca nesse momento é balizar as expectativas do mercado quanto à inflação futura. “Quando ele fala que vai demorar [para cortar juros], move um ciclo virtuoso e faz com que queda fique mais perto do que distante, é paradoxal. O mercado espera que o BC seja firme, ao mesmo tempo que o BC sabe que tem que ser firme para reduzir expectativas, e isso abre espaço para, talvez, reduzir os juros antes do esperado”, diz Lima.
Para Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, apesar de o Copom ter confirmado as projeções do mercado quanto à manutenção, “havia a expectativa de que comunicado poderia sinalizar uma queda, trazer um tom mais tranquilo”, diz. “A única sinalização é que ele reconhece que a inflação melhorou. Mas foi um tom mais duro, a gente já imaginava uma sinalização um pouco melhor de curto prazo”. O cenário base para a The Hill é de uma redução de juros em janeiro – apesar de um risco de mudança dessa projeção para março. “Mas independente de janeiro ou março, acho que é primeiro trimestre”.
Para Joaquim Cecílio, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, por outro lado, “parece factível e plausível que o corte venha no segundo trimestre”. Segundo ele, os comunicados do Copom ao longo deste ano mostram um tom cauteloso. “Em nenhum momento, o BC mostrou que faria um movimento de forma acelerada ou que faria [o aperto] de forma transitória, de que iria manter os juros altos só no curto prazo”, diz. “Ele fez questão de mostrar que foco era credibilidade, justamente para que houvesse convergência nas expectativas de inflação”.
Segundo ele, o Copom “mudou parcialmente o discurso no último comunicado, vinha num tom contracionista e agora está ‘on hold’”, diz. “Mas não temos uma visão de que o corte vai ser imediato”.
Até quanto o BC deve reduzir a Selic?
Para Lima, o mais importante não é acertar exatamente em qual reunião o comitê irá iniciar os cortes, mas sim entender qual o tamanho do corte no ciclo como um todo. O gestor vê um espaço para redução de 300 basis points (3 pontos porcentuais) até o fim do ano que vem, ou início de 2027, levando a Selic para perto de 12% ao ano.
Só o movimento de queda da inflação, diz ele, abre espaço para uma redução de 1 ponto porcentual – afinal, uma inflação corrente menor significa um juro real mais alto. “E um corte de mais de 300 basis fica mais difícil, 2026 é um ano eleitoral, que reserva incertezas. E a gordura dos juros altos blinda bastante a nossa moeda”, diz Lima. Isso porque uma Selic ainda em patamar restritivo por aqui reduz a chance de uma valorização mais forte do dólar – o que dificultaria o controle da inflação.
Quer simular investimentos no Tesouro Direto? Acesse o simulador e confira os prováveis rendimentos da sua aplicação. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.