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Com cenário incerto, renda fixa volta a ganhar atratividade?

Alocadores voltaram a aumentar posições em renda fixa prefixada e indexada à inflação

Com incerteza sobre queda de juros, foco se volta à renda fixa. Foto: Pexels

Na virada do ano, o cenário parecia positivo para migrar para ativos de risco, com a perspectiva de que a Selic iria continua a cair e que o Fed, nos Estados Unidos, poderia começar a reduzir sua taxa de juros já no primeiro semestre. Alguns pontos cruciais mudaram nas últimas semanas. Com sinais de uma inflação resiliente nos EUA, agentes do mercado passaram a questionar os próximos passos da política monetária americana. Alguns já colocam na mesa a possibilidade e encerrar 2024 sem cortes. No Brasil, o cenário externo e mudanças na política fiscal também levaram a uma perspectiva de menos cortes na Selic. A turbulência criada pelos ataques entre Irã e Israel acrescentou ainda mais volatilidade.

O que isso tem a ver com quem investe no Brasil?  Os títulos de renda fixa passaram a refletir essa perspectiva de que a Selic permanecerá mais elevada, e oferecem taxas mais altas do que semanas atrás. Os próprios títulos do Tesouro, considerados os papéis mais seguros da economia brasileira, já oferecem taxas de 6% ao ano acima da inflação.

Cenário mais incerto para juros

A volatilidade recente, segundo Eric Hatisuka, diretor de Investimentos do Mirabaud Family Office Brasil, foi fruto de três fatores – dois deles de longo prazo. “No curto prazo, teve o ataque do Irã, mas que ao que parece não deve ter consequências maiores. Mas a inflação americana tem se mostrado mais resiliente, o que tira o corte de juro da mesa nesse ano”, diz. “Outra questão de longo prazo foi governo admitindo que não vai atingir a meta de déficit zero. Esses dois eventos tem impacto na taxa de juro de longo prazo”, explica.

Para Caio Schettino, head de alocações da Criteria, o movimento foi exacerbado. “Acho que o mercado no fim do ano exagerou para otimismo, e agora exagera no pessimismo”, diz. Assim, ele espera um “fechamento da curva” de juros, jargão do mercado que significa uma queda nas taxas futuras. “Não enxergamos um cenário catastrófico que está sendo precificado no mercado de juros”, diz.

Mais renda fixa nas carteiras

Ambos defendem que as taxas atuais são atraentes para a renda fixa – em especial os títulos prefixados e atrelados à inflação.

Para Eric Hatisuka, o novo cenário reforça uma visão que a casa já tinha, de uma carteira com mais peso em renda fixa, em especial indexada à inflação. Ele ressalta que a precificação das NTN-Bs, os títulos do Tesouro que também são conhecidos como IPCA+, tem se mostrado atraente. Nesta quarta-feira (24/04), os títulos mais curtos desse tipo, com vencimento em 2029, ofereciam uma rentabilidade de IPCA+6,16%.

Além dos títulos do Tesouro, a Mirabaud olha também para os títulos de crédito privado, mas com cautela. “A gente fez bastante coisa de crédito privado até um mês atrás, mas paramos um pouco porque as taxas acabaram caindo. Em muitos casos, a taxa não compensa o risco do emissor”, diz Hatisuka.

A Criteria tem visto também oportunidades em títulos prefixados, diz Schettino. “Em prefixado, principalmente para os clientes que gostam mais de risco, faz sentido, especialmente para 2027 até 2030”, explica.

Já na renda variável, a palavra de ordem é cautela. “Nesse contexto, o investimento em bolsa é arriscado. O juro real mais alto atrapalha a bolsa em duas frentes. Primeiro, pela renda fixa competindo pelo capital, e segundo, porque deprime o valuation medido pelo fluxo de caixa descontado”, afirma Hatisuka.

Já a Criteria tem focado nos setores de transporte, logística e constrição civil. “A gente segue buscando boas teses de empresas com alavancagem, onde a gente entende que tem desconto”, explica o head de alocações.

Outra alocação da Criteria é em bolsa americana. “Temos visto o crescimento do marketing digital, de novas plataformas, inteligência artificial, mas infelizmente o Brasil não está envolvido”, diz Schettino. Segundo ele, aplicar em índices de renda variável nos EUA – como Russell 200, S&P 500 e S&P 500 Equal Weight – é uma forma de “se expor a essas novas teses, mas também a bons bancos e ao setor de saúde”.

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