Como analisar uma empresa antes de investir?
São várias as etapas a serem observadas atentamente antes de qualquer decisão de investimentos, o que demanda tempo e dedicação
Por Rogério Piovezan
Gosto não se discute, já diz o senso comum. Mas em investimentos, gosto não é tudo. Afinal, não se pode alocar recursos em uma empresa simplesmente porque se gosta dela. São várias etapas a serem observadas atentamente antes de qualquer decisão, o que demanda tempo e dedicação. Confira como analisar uma companhia e suas ações antes de investir.
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Como analisar?
O primeiro passo na análise, segundo o professor e consultor em finanças empresariais Giácomo Diniz, é olhar para o setor em que a empresa está inserida. “A gente olha primeiro para o potencial de crescimento do setor. Quanto mais jovem o setor, fica mais arriscado [o investimento] e, também, maior potencial de crescimento. Você pode calibrar o risco e o retorno do ativo olhando para a expectativa do setor.”
Em seguida, Diniz afirma que vem a análise dos aspectos financeiros. De acordo com ele, o que mais destrói uma empresa é a falta de demanda por seus produtos e serviços. “Então, avalie para onde a empresa está indo. Cada investimento que a empresa faz está associado a uma expectativa de demanda. Olhe para o potencial de crescimento, as barreiras de entrada e as qualidades desse crescimento. Depois dessa trajetória qualitativa, aí sim o próximo passo é validar se as entregas da empresa estão coerentes com a história e narrativa observada.”
Já o professor especializado em mercado financeiro Eduardo Becker destaca que o investidor interessado em fazer a própria análise da companhia deve se atentar a três documentos importantes: balanço patrimonial, a demonstração do resultado do exercício (DRE) e o fluxo de caixa. Todos eles podem ser encontrados nas páginas de relações com investidores das companhias abertas. “No balanço, você olha o endividamento, e qual a dívida de curto e longo prazo. Uma empresa tem que ter uma dívida equilibrada, e tem que gerar caixa para pagar essa dívida”, diz ele. Para saber o quanto a empresa gera de receitas, e o quanto gasta com despesas, o documento a analisar é a DRE. Além disso, diz Becker, a empresa “tem que ter dinheiro para pagar as dívidas de curto prazo, então, tem que olhar para o fluxo de caixa”, explica.
Diniz ainda ressalta outros tipos de filtros de análise nesse processo. “Verifique se a empresa está com uma liquidez saudável, qual o nível de endividamento da companhia. Um ponto muito usado pelos analistas é verificar se o uso do capital de giro, que seria uma areia nas engrenagens da empresa, está aumentando ou diminuindo. Assim, você fecha o diagnóstico para ter uma ideia de onde você está entrando.”
Para ficar ainda mais claro, Diniz traça um percurso de análise a ser feito pelo investidor, mas ele ressalta que isso pode variar a depender do caso.
- Comece com a visão setorial, olhe o balanço patrimonial e entenda onde a empresa investe.
- Depois, analise o comportamento das receitas, do lucro líquido e as respectivas margens.
- Veja o grau de endividamento da companhia: os juros que ela paga estão elevados para sua geração de caixa?
- Compare os múltiplos da empresa, como preço sobre lucro, com outras do mesmo setor.
Uma maneira de verificar, também, se a ação de uma empresa vale mesmo o investimento é observar o preço justo da ação e comprar com o preço de mercado. Esse número pode ser encontrado por meio do valor intrínseco da ação. Numa hipótese, o investidor pode calcular da seguinte maneira:
Divida o valor do dividendo pela rentabilidade que você gostaria de ter. Considere, por exemplo, uma empresa que paga R$ 2,50 em dividendos por ano e, a rentabilidade desejada é de 15% ao ano, levando em conta uma projeção de que os dividendos aumentem 4% ao ano. Com isso, chega-se ao valor justo da ação: 2,5/(0,15-0,04)= R$ 22,73.
Alternativas
Uma opção para contornar o tempo de analisar uma empresa exaustivamente e ainda correr o risco de ter interpretado errado pode ser o investimento via fundos ou ETFs. Essa é a avaliação do professor e consultor em finanças empresariais Giácomo Diniz. “Eu diria que é uma combinação de fluxos, ou seja, condições favoráveis para a renda variável, e o investimento diversificado, justamente para mitigar essas dores [de errar na análise]. Assim, os ETFs cabem como uma luva. É o que eu vejo como melhor saída para o investidor pessoa física [para entrar em ações].”
Para Becker, o investidor precisa saber que o investimento leva tempo. Então, analisar uma empresa antes de aportar recursos também deve ser um trabalho cuidadoso. “O investimento, na minha opinião, é para longo prazo, penso em oito, 10 anos ou mais. Porque investir é, na verdade, ficar sócio de uma empresa. Você declara no IR que você é sócio da empresa. O seu objetivo é que a empresa cresça e dê lucro.”
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