Como avaliar se sua carteira de investimentos está diversificada de verdade?
Entenda o conceito de diversificação e saiba como ter um portfólio diversificado na prática
Você já deve ter ouvido que a diversificação é a regra de ouro dos investimentos, mas sabe avaliar se sua carteira está realmente diversificada? Essa análise pode ser mais complexa do que muitos imaginam – afinal, ter vários ativos no portfólio de investimentos não significa ter uma diversificação eficiente. Por isso, o Bora Investir conversou com especialistas para explicar o conceito de diversificação e como manter uma carteira equilibrada.
O que é diversificação?
O criador e pioneiro na teoria da diversificação foi Harry Markowitz, que recebeu o Nobel de Economia em 1990, por trabalhos publicados na década de 50 sobre seleção de portfólio. Markowitz demonstrou, matematicamente, que a escolha de determinados ativos pode reduzir o risco do portfólio inteiro – e para isso, é preciso avaliar não apenas o risco de cada ativo isoladamente, mas a contribuição de cada ativo para o risco do portfólio geral.
Mas o que isso significa? Que a redução dos riscos não depende apenas do número de ativos, mas da forma como cada ativo se comporta.
O ideal é ter na carteira ativos que reagem de forma diferente ao cenário econômico. Por exemplo: ter na carteira tanto ações que se beneficiam do juro em alta quanto as que têm melhor desempenho quando os juros estão caindo pode reduzir o sobe e desce do portfólio como um todo. Ou seja: em uma carteira diversificada, você provavelmente terá alguns ativos se valorizando e outros se desvalorizando em determinado momento.
Assim, quando alguns investimentos registram queda, outros acumulam ganhos ou permanecem estáveis. E a sua carteira, como um todo, oscila menos.
“Não adianta você ter vários ativos que vão seguir os mesmos fatores de risco, que vão performar todos bem em qualquer cenário, isso não é diversificação”, explica Rodrigo Gualtero, agente certificado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e especialista em investimentos.
Diversificar riscos
Um ponto importante é entender que a diversificação não significa ter vários ativos na sua carteira, mas escolher cada um de forma estratégica para minimizar o risco do portfólio como um todo. E aí entra um ponto essencial, que é entender os riscos. “A primeira coisa que a gente precisa fazer quando está lidando com o nosso patrimônio é entender os tipos de risco que a gente está correndo”, diz Gualtero. “Uma diversificação, ela nunca vai ser eficiente se você não entender os riscos.”
Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em finanças comportamentais, concorda. “Para ver se a sua carteira está diversificada, você tem que dar uma olhada nos fatores de risco que vão afetar cada um dos ativos”, afirma.
Existem quatro tipos de risco no mercado financeiro: de crédito, de liquidez, de mercado e sistêmico. Entre eles, apenas os três primeiros podem ser mitigados com a diversificação – afinal, risco sistêmico é aquele que afeta todos os mercados, como uma crise financeira global ou uma pandemia.
O risco de crédito é o risco de emprestar dinheiro para um emissor e tomar um calote – algo que deve ser analisado ao investir na renda fixa, em especial.
Nesse caso, a diversificação tem algumas vertentes diferentes. Primeiro, significa ter ativos de diferentes emissores. Além disso, o ideal é ter títulos de emissores de setores diferentes. Por exemplo: se há uma quebra de safra, as empresas ligadas ao agronegócio podem sofrer os impactos disso e a inadimplência nesse setor pode crescer. Mas o que levou à quebra de safra provavelmente não vai afetar o mercado imobiliário. Assim, se você tem títulos emitidos por empresas dos dois setores, o risco é menor do que o de investir apenas no agronegócio.
Há também que se diversificar em tipos de produtos. Jeff alerta que ter ativos dentro da mesma classe pode não garantir diversificação adequada: “Se uma pessoa está investindo em dois CDBs, o risco é o mesmo, por mais que sejam emissores diferentes.”
Além disso, o investidor pode diversificar em indexadores dentro da renda fixa: optar por uma parcela em títulos indexados à Selic ou ao CDI (pós-fixados), outra em ativos híbridos atrelados à inflação (IPCA+) e outra em prefixados.
O segundo risco, o de mercado, tem a ver com a precificação dos ativos, por exemplo, o risco de o preço de uma ação cair. Aqui, vale a mesma lógica de diversificar em setores: uma alta de juros pode afetar as empresas de varejo, mas não as de distribuição de energia.
Por fim, a liquidez é a facilidade e agilidade em transformar investimento em dinheiro na conta. Há ativos, como alguns de renda fixa, que têm data de vencimento estipulada previamente e pedir o resgate antecipado pode resultar em perdas financeiras. Por isso, é importante diversificar em tipos de ativos e prazos.
Não existe bola de cristal
Outro bom motivo para diversificar uma carteira de investimentos é que é praticamente impossível saber, com certeza, qual será a melhor classe de ativos no futuro. “A melhor rentabilidade do ano passado não vai ser a melhor rentabilidade desse ano. Por exemplo, se no ano passado a bolsa de valores foi a classe que mais rendeu, esse ano provavelmente não vai ser”, explica Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em finanças comportamentais. “Por isso, você tem que ter um pouco de tudo, adequado ao seu perfil. Até o perfil mais conservador pode ter um pouquinho de bolsa, olhando para o longo prazo.”
Ou seja: se não há como saber qual classe vai ter o melhor desempenho no próximo mês ou ano, a saída é estar posicionado em diferentes classes. Assim, a chance de ter alguma exposição à classe que mais se valorizar é maior. E o contrário também é verdadeiro: você terá uma exposição menor ao ativo que mais se desvalorizar.
Diversificação x pulverização
Se não se pode colocar todos os ovos em uma mesma cesta, também não é ideal dividir demais os ovos – senão, você não enche cesta nenhuma, brinca Gualtero.
Isso porque a pulverização excessiva do patrimônio dificulta a escolha dos melhores ativos e o acompanhamento da carteira. “No caso das ações, por exemplo, comece estudando as empresas e aprofundando seus conhecimentos nela. É melhor ter uma menor quantidade de ações, mas que você estude cada uma. Se você tem 40 ações na carteira, eu reduziria a quantidade. Dez ações já traz uma ótima diversificação. A partir de 10, a vantagem de diversificar começa a ficar muito pequena, e a partir de 20 não faz mais sentido. Claro, dessas dez ações você tem que ter pelo menos uns quatro, cinco setores diferentes pelo menos. Não adianta pegar as dez ações do mesmo setor”, explica.
Fundos e ETFs
Investir por meio de ETFs (fundos de índice) ou fundos de investimento pode ser uma opção atraente para quem busca auxílio na diversificação. Esses veículos permitem que os investidores acessem uma ampla gama de ativos com um custo reduzido, uma vez que um único investimento pode incluir ações, títulos de renda fixa e outros instrumentos financeiros. Além disso, a gestão profissional em fundos ativos pode ajudar a minimizar os riscos de perdas associadas ao desconhecimento sobre os ativos.
No entanto, é importante estar ciente das desvantagens associadas a esses tipos de investimento. Primeiramente, os fundos cobram taxas de administração, que podem impactar a rentabilidade a longo prazo. Essas taxas variam significativamente entre os produtos, e uma análise cuidadosa é necessária para garantir que os custos não consumam uma parte significativa dos retornos.
Além disso, a performance de um fundo pode não refletir diretamente as expectativas do investidor – e por isso é importante diversificar também nos fundos, ou seja, não investir todo o capital em um único fundo. É fundamental que os investidores leiam o prospecto do fundo e compreendam a estratégia de investimento, os riscos envolvidos e a composição da carteira.
Por fim, enquanto os ETFs oferecem uma maneira acessível de diversificar, a seleção de ativos ainda deve ser feita com cautela. Um investidor que optar por um ETF que replica um índice deve estar ciente de que estará exposto a todos os ativos do índice, incluindo aqueles que podem não ter um desempenho satisfatório. Portanto, a diversificação por meio de fundos e ETFs pode ser uma ótima ferramenta, mas deve ser parte de uma estratégia de investimento bem fundamentada e adaptada ao perfil do investidor.
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