Mudança no protagonismo global traz riscos e oportunidades para o Brasil
Gestores da ASA debateram perspectivas para a economia e os investimentos durante a Expert XP 2025
Com produtividade incomparável e liderança consolidada por décadas, os Estados Unidos ainda ocupam o centro da economia mundial. Mas essa posição já começa a ser desafiada por mudanças estruturais – e, para investidores e gestores, isso significa revisar estratégias, diversificar riscos e observar de perto o papel da China, da Europa e de mercados emergentes como o Brasil.
Na avaliação de Fabio Kanczuk, sócio da ASA Investments, a força dos EUA pode ser explicada por dois pilares principais: produtividade e escala. “Pelo PIB per capita, que é uma proxy de produtividade, os EUA seguem soberanos há 50 anos. Todo mundo que começa a se aproximar, falha”, afirmou. “O Japão chegou perto, mas voltou. A Europa também, mas está se afastando. A China tem 20% da produtividade dos EUA.”
Apesar disso, ele alerta que o tamanho da economia chinesa deve crescer substancialmente – mas isso levará tempo. “A população da China é quatro vezes a dos EUA. Daqui a 20 anos, a China pode superar os EUA em tamanho, mesmo com um PIB per capita bem menor.”
Charles Ferraz, também da ASA, chamou atenção para as reações dos mercados à condução da política econômica americana. “Havia uma expectativa otimista de que o novo governo teria uma postura de deixar os agentes econômicos agirem de forma eficiente, com menos intervenção”, disse. “Mas o que vimos foi um governo mais intervencionista, com políticas econômicas discutíveis do ponto de vista das tarifas.”
Ainda assim, ele destaca que os mercados se adaptaram: “A Bolsa caiu forte, mas se recuperou. O S&P 500 está com valorização de quase 9% no ano. As taxas longas de juros também sofreram no início, mas voltaram ao mesmo patamar [de antes do anúncio das tarifas]. A única variável que continua ajustada é o dólar.”
Para os próximos meses, Ferraz vê uma mudança de foco: “Nossa visão é que a pauta [do governo americano] no segundo semestre vai ser mais pró-crescimento, o que deve dar sustentação aos mercados”. Isso, diz ele, traz otimismo para ações americanas, ainda que em menor intensidade do que visto nos últimos anos.
Perspectivas para o Brasil
Fabio Okumura, também da ASA, avalia que o cenário global caminha para uma ordem menos coordenada, com maior volatilidade e um padrão de globalização mais seletivo. “No caso do Brasil, a volta do protecionismo é um ruído de curto prazo. Acreditamos que, em algum momento, veremos uma agenda mais pró-mercado, com foco em tributação e desregulamentação”, disse.
Ele vê um cenário de riscos e oportunidades. “Temos reservas em dia, contas externas ok, mas uma dependência muito grande da China. O que o país precisa é pensar em reformas para aumentar a produtividade e escolher bem suas parcerias estratégicas.”
Com esse cenário em vista, Ferraz reforça a importância da diversificação nas carteiras. “Diversificar não é simplesmente espalhar os recursos. Tem muita técnica e arte”, afirmou. Embora a gestora não compre a tese de perda definitiva de protagonismo dos EUA, vê espaço para exposição a outras moedas – ainda que de forma pontual. “O dólar perdeu quase 10% de valor frente a outras moedas. Mas, olhando para frente, achamos que o mercado exagerou. Há chance maior do dólar se apreciar ou ficar onde está. Estamos com um pouco mais de dólar do que em outras ocasiões.”
Entre os emergentes, o Brasil surge como uma avenida promissora, mas ainda há obstáculos. “Temos muitas oportunidades com segurança alimentar, petróleo e gás, energia limpa, friendshoring, nearshoring… tudo isso favorece o país”, disse Okumura. “Mas o multilateralismo também traz uma possibilidade maior de choques externos. Isso gera mais volatilidade e, para emergentes, significa prêmio de risco maior.”
Segundo ele, para atrair capital e sustentar o crescimento, o Brasil precisa enfrentar questões como carga tributária, insegurança regulatória, gargalos logísticos e qualificação da mão de obra.
A mensagem dos gestores é clara: o mundo está mudando, os motores de crescimento estão se redistribuindo, e o investidor precisa entender esse novo jogo com pragmatismo — e, principalmente, com estratégia.
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